Mitologia japonesa: Criação do mundo e dos Deuses

A criação do mundo, no entendimento dos japoneses antigos, é relatada em dois antigos livros, ou seja, há duas versões. Confira!
Deuses Izanagi e Izanami por Nishikawa Sukenobu Periodo edo Foto Creative Commons
Deuses Izanagi e Izanami / Arte de Nishikawa Sukenobu – Período Edo (Foto: Creative Commons)

As “histórias” acerca da mitologia japonesa são quase que impossíveis de serem contadas em uma única versão. Existem diversos contos em livros antigos que conflitam datas, relatos, personagens, conteúdo em geral. Há incidência de mais de duas versões sobre determinado conto. Isso devido à inconsistência usual de seus registros.

Em sua maioria, os contos são tirados de dois livros: Kojiki, a mais antiga crônica do Japão, compilado em 712 d.C. “Registro das Coisas Antigas”; e Nihongi, também chamado de “Nihon Shoki” e “Hihongi”, este segundo registro representa as “Crônicas do Japão”, compilado em 720 d.C.

As narrativas contidas nesses dois antigos registros são muito mais do que simples contos, pois são ricas em simbolismos e trazem em seu bojo um leque de conhecimentos muito mais filosóficos para nós ocidentais do que propriamente sagrados conforme são para os orientais. Principalmente para os japoneses, que desses registros tiram até mesmo sua própria origem, incluindo a descendência da Família Imperial do Japão.

Deles extraímos seus contos antigos sobre inúmeros personagens, incluindo deuses, heróis, guerreiros, donzelas, criaturas místicas e tantos outros mitos e lendas que compõem o vasto e rico folclore e mitologia do Japão.

O conto a seguir, a criação do mundo no entendimento dos japoneses antigos, está relatado nos dois livros, ou seja, há duas versões.

Versão Kojiki: O principio do Mundo e os Primeiros Deuses
Livro Kojiki Foto Reproducao Amazon
Livro Kojiki | Foto: Reprodução/Amazon

Antes do Céu e da Terra existirem, havia o Caos, inimaginavelmente ilimitado e sem forma definida. Dessa massa sem fronteiras e sem forma emergiu uma massa límpida, leve e transparente, vindo a formar o Céu. Esta massa veio a ser a Planície dos Céus Elevados (Takamagahara), na qual se materializou a Deidade “Ame-no-Minaka-Nushi-no-Mikoto” (Deidade do Augusto Centro do Céu).

Logo depois, os Céus deram à luz a Deidade “Takami-Musubi-no-Mikoto” (Elevada Augusta Deidade Produtora de Maravilhas). Em seguida, deu à luz a terceira Deidade, “Kammi-Musubi-no-Mikoto” (Divina Deidade Produtora de Maravilhas). Estes três seres divinos, espontaneamente se ocultavam. Tais Divindades eram consideradas “As Três Deidades Criadoras”.

Enquanto isso, o que era pesado e opaco neste vazio, gradualmente se precipitou e assentou, transformando-se na Terra. No entanto, levou um tempo imensamente longo para se condensar suficientemente e formar um solo sólido.

Em seu estágio primordial, por milhões e milhões de anos, a Terra assemelhava-se a uma mancha de óleo flutuante, como água-marinha na superfície da água.

De repente, como jorrando por um tubo, dois seres imortais nasceram de suas entranhas. Eles eram a Deidade “Umashi-Ashi-Kahibi-Hikoji-no-Mikoto” (Deidade Príncipe Primogênito do Agradável Jorro do Tubo) e a Deidade “Ame-no-Tokotachi-no-Mikoto” (Deidade Celestial Eternamente Pronta). Estes cinco primeiros Deuses são considerados as “Divindades celestiais especiais”.

Muitos Deuses então nasceram sucessivamente e assim eles cresceram em número. As Deidades Izanagi-no-kami (Aquele que é convidado ou Divindade Sagrada da Calma) e Izanami-no-kami (Aquela que convida ou Ondas da sagrada Divindade), foram os últimos Deuses a aparecer e, posteriormente, eles foram incumbidos de criar o arquipélago japonês.

Versão Nihongi: O principio do Mundo e os Primeiros Deuses
Livro Nohongi Foto Montagem MN
Nihongi | Foto: Montagem Mundo-Nipo

No princípio dos tempos, o Céu e a Terra não estavam separados e o In e o Yo divididos. Eles correspondem ao Yang e Yin chineses, dois conceitos básicos do taoismo que expõem a dualidade de tudo que existe no universo. Descrevem as duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em todas as coisas. Eles também constituem os princípios de “masculino e feminino’.

Os antigos escritores japoneses imaginavam a criação do mundo como seu próprio modo de nascer, talvez porque deste modo fosse mais conveniente e racional, em vista que foi descrito em uma época em que não existia o conhecimento de outro continente a não ser o Asiático.

Na Mitologia Polinésia encontramos muito dessa mesma concepção, em que Rangi e o Papa representa o Céu e a Terra. Aspectos paralelos podem ser encontrados em histórias da Cosmogonia Egípcia, entre outras. Em praticamente todas elas, deparamos com o princípio “masculino e feminino”, ocupando lugar preponderante e, sobretudo, muito racional.

Os registros do Nihongi nos contam que esses princípios formavam uma massa caótica como um ovo, no qual os limites e os embriões contidos estavam obscuramente definidos. Este “Ovo” criou vida rapidamente e sua parte mais clara e pura soltou-se, vindo a formar o Céu.

Já a parte mais densa e pesada assentou, formando a Terra, que era comparada a um peixe flutuando e brincando na superfície das águas.

Uma forma misteriosa, que lembrava o broto de um caniço, surgiu de repente entre o Céu e a Terra e inusitadamente se transformou, nascendo assim o primeiro Deus: “Kuni-toko-tachi” (Eterno suporte terreno das coisas majestosas). Esse foi o primeiro Deus a nascer no mundo, vindo depois dele outras divindades.

Por Maria Rosa (artigo criado originalmente em 2005)
Fontes principais de pesquisa
Livro: The Kojiki | Autor: Ō no Yasumaro
Livro: Myths and Legends of Japan | Autor: F. Hadland Davis
Livro: Japan – Dictionary Culture and Civilization” | Autores: Frederic Louis David and Alvaro Iwang

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Ícone de atualização 01 Atualizado em 28/10/2020.

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