Após uma década, Japão finalmente conquista um torneio de sumô

A conquista de Kotoshogiku reacendeu as esperanças do Japão em voltar a ter um lutador no posto de yokozuna.
Kotoshogiku conquista o torneio de sumo de ano novo 2016 Foto Kyodo 900x600

Atualizado em 27/01/2015 – 09h01


A agonizante espera do Japão em retornar a ter um campeão de sumô terminou neste domingo (24), após o ozeki Kotoshogiku sair vitorioso de seu combate e sagrar-se campeão no último dia de competição do Grande Torneio de Sumô de Ano Novo.  A vitória não só valeu à Kotoshogiku o primeiro campeonato na carreira, mas também o título de primeiro lutador japonês a conquistar um torneio de sumô em uma década. Nesse período, o esporte nascido no Japão vinha sendo dominado por lutadores estrangeiros, principalmente sumotoris da Mongólia.

Kotoshogiku conquista o Torneio de Sumô de Ano Novo 2016 (Foto: Kyodo)
O público explodiu em aplausos quando Kotoshogiku recebeu a taça da “Copa do Imperador” (Foto: Kyodo)

Lágrimas eram visíveis nos olhos de Kotoshogiku enquanto ele recebia a taça da “Copa do Imperador”. O campeão ofereceu uma mensagem de agradecimento à família, aos amigos e a toda nação japonesa.

“Não há palavras para descrever minha felicidade. Foi-me dado muito apoio, mesmo quando eu estava em um momento difícil. Estou muito feliz por conseguir chegar até aqui”, disse Kotoshogiku emocionado.

O público presente na arena Ryogoku Kokugikan, em Tóquio, explodiu em aplausos e gritos efusivos após ver Kotoshogiku jogar Goeido ao chão. O ozeki Goeido, também do Japão, terminou o torneio com o péssimo resultado de quatro vitórias contra onze derrotas, o que significa que terá de terminar o próximo torneio com um registro positivo, ou seja, mais vitórias do que derrotas para não perder o posto de ozeki, a segunda maior graduação do sumô.

Como resultado da vitória sobre Goeido, Kotoshogiku já se sagrava campeão antes mesmo do yokozuna Hakuho colocar os pés no dohyo (dohyô – arena/quadrilátero no qual os lutadores de sumô se enfrentam) para realizar sua última luta na competição. Isso porque Kotoshogiku encerrava sua participação no primeiro torneio do ano com um intocável registro de ​​catorze vitórias e apenas uma derrota, enquanto o fenômeno recordista de títulos, Hakuho, já registrava duas derrotas e não tinha mais chances de se igualar ao japonês em número de vitórias, o que provocaria uma luta de desempate entre eles.

Hakuho então subiu ao dohyo desanimado para enfrentar seu oponente na luta final do dia e que marcava o fim da competição. Mediante a isso, ele foi superado rapidamente por seu compatriota mongol e também companheiro de posto, o yokozuna Harumafuji. Ambos terminaram o torneio com doze vitórias contra três derrotas.

Kakuryu foi o yokozuna que teve o pior resultado nesta edição 2016 do Hatsu Basho. Neste último dia de competição, o mongol perdeu para o ozeki Kisenosato que, por sua vez, também não teve uma boa participação para um lutador que tem pretensões de tornar-se o primeiro yokozuna japonês após mais de treze anos.

Kakuryu encerrou sua participação com dez vitórias e cinco derrotas, enquanto Kisenosato ficou com o modesto registro de nove vitórias e seis derrotas, um resultado que seria considerado ótimo para qualquer lutador de postos inferiores, mas não para quem precisa vencer um torneio e conquistar, no mínimo, treze vitorias no torneio seguinte para tentar alcançar o seletíssimo posto de yokozuna.

Agora, os japoneses depositam suas esperanças em Kotoshogiku que, além de conquistar este torneio, se tornou o primeiro lutador na história do sumô moderno, a partir do século 19, a derrotar três yokozunas em um único basho oficial.

Há exatos 10 anos que os japoneses não conquistavam um yusho (campeonato) em qualquer um dos seis torneios de sumô na divisão Makuuchi e que compõe a “Copa do Imperador”. O último japonês a faturar um yusho, antes de Kotoshogiku, foi o ozeki Tochiazuma, que foi campeão justamente no Torneio de Sumô de Ano Novo, em janeiro 2006.

Participação do brasileiro
O brasileiro Kaisei, que teve um péssimo início de torneio, conseguiu melhorar seu desempenho na reta final, mas não foi o suficiente para terminar a competição com um registro positivo.

Depois de surpreender ao vencer o ozeki Goeido no 8º dia de competição, quando alcançou a terceira vitória, o brasileiro desandou a perder. A trajetória de vitórias só foi retomada ontem, quando derrotou o komusubi Ikioi.

Hoje, Kaisei venceu o debilitado Ichinojo, um promissor lutador da Mongólia e que neste torneio estava graduado na mesma posição que o brasileiro, ambos ranqueados na terceira posição entre os maegashiras. Ichinojo, no entanto, sofreu séria lesão a partir da primeira metade do torneio, no qual termina com o registro de duas vitórias e treze derrotas.

Com cinco vitórias e dez derrotas, o brasileiro encerra sua participação na edição 2016 do Hatsu Basho com um registro negativo e sofrerá rebaixamento de posto no próximo torneio.

Apesar disso, o desempenho do brasileiro não foi de todo ruim, já que ele enfrentou todos os lutadores do alto escalão, incluindo os três yokozuna. Kaisei conseguiu derrotar um komusubi e um ozeki, mas pecou quando perdeu seus confrontos contra lutadores no ranking dos maegashira.

Se tivesse alcançado oito vitórias, Kaisei provavelmente seria promovido como primeiro entre os maegashira ou no posto de komusubi já no próximo torneio, o que seria sua primeira promoção no alto escalão de lutadores de sumô.

Promoção a yokozuna
Kotoshogiku terá grandes chances de ser promovido ao posto maior do sumô caso consiga sagrar-se campeão ou então conquistar o mínimo de 13 vitórias no próximo torneio de primavera, disputado em março na cidade de Osaka.

Mesmo que ele tenha um bom desempenho, no entanto, tudo dependerá da avaliação dos membros do comitê de julgamento da Associação de Sumô do Japão (JSA, na sigla em inglês) – Nihon Sumo Kyokai.

O posto de yokozuna tem sido amplamente dominado por lutadores da Mongólia por mais de uma década. Porém, chegar ao grau mais alto do esporte milenar e criado pelos japoneses não é uma tarefa fácil. Tanto que, até hoje, apenas 71 lutadores conseguiram o intento de chegar a esse posto em mais de um século, de acordo com contagem na era moderna do sumô, com início no século 19, quando o esporte tornou-se profissional e foi criada uma associação para geri-lo. Os registros antes disso não são contabilizados.

O Japão não tem um lutador no posto de yokozuna desde 2003, quando Takanohana aposentou-se. Ele foi graduado como o 65º yokozuna em 1994 e conquistou 22 títulos. No entanto, o último japonês a ser promovido ao posto foi Wakanohana, irmão mais novo de Takanohana. Por conta de contusões, o 66º yokozuna teve carreira curta no posto, de 1998 a 2000, e conquistou 5 títulos.

Antes disso, em 1993, o esporte que até então era amplamente dominado apenas por japoneses, ganhava seu primeiro yokozuna estrangeiro, o havaiano Akebono, que se aposentou em 2001 com 11 títulos.

Em 1999, Japão via outro estrangeiro no grau mais alto do esporte. Musashimaru, também havaiano, aposentou-se em 2003, com 12 títulos.

Também em 2003, Asashoryu tornou-se o 68º yokozuna e o primeiro mongol da história a alcançar o invejável e difícil posto. Ele conquistou 25 títulos até se aposentar em 2010.

Depois dele, Japão teve de engolir mais três yokozuna da Mongólia: Hakuho tornou-se o 69º yokozuna, em 2007 (35 títulos). Harumafuji foi graduado como o 70º yokozuna em 2012 (7 títulos). Dois anos depois, em 2014, foi a vez de Kakuryu, 71º yokozuna (2 títulos).

Com 30 anos, Hakuho já é considerado uma “lenda viva” do sumô. Os 35 títulos conquistados por ele na divisão Makuuchi é o mais alto já alcançado por qualquer outro lutador de sumô.

O yokozuna nascido no Japão que mais conquistou títulos foi Chiyonofuji. O 58º yokozuna foi promovido em 1981 e aposentou-se em 1991, com a invejável marca de 31 títulos na carreira.

Embora tenha nascido na Ucrânia, Taiho é considerado o “japonês” que mais conquistou títulos. Ele foi graduado como o 48º yokozuna em 1961 e aposentou-se em 1971, com 32 títulos.

A mãe de Taiho era japonesa e o pai ucraniano. A família chegou à Hokkaido (norte do Japão) fugida da guerra, com Taiho ainda pequeno. Quando entrou para o sumô, o inscreveram como natural de Hokkaido, a despeito de sua origem estrangeira, o que é raro no Japão e principalmente na conservadora Associação de Sumô do Japão, que tem por regra registrar o nome da cidade e país onde o lutador nasceu “de fato”.

A marca de 31 títulos do yokozuna Chiyonofuji foi igualada por Hakuho em setembro de 2014. Para frustração dos japoneses, Hakuho chegou ao mesmo número de títulos de Taiho logo no torneio seguinte, em novembro de 2014.

Em 2015, Hakuho conquistou ainda mais três títulos, chegando à incrível marca de 35 campeonatos antes de completar 31 anos.

O “grande campeão” da Mongólia ainda está em excelente forma e tudo indica que continuará “ativo” no esporte por mais alguns anos, o que implica na conquista de mais títulos.

Para desespero dos japoneses, há ainda mais dois lutadores promissores da Mongólia atuando na divisão Makuuchi: Ichinojo, de 21 anos, e o ozeki Terunofuji, de 24 anos.

Terunofuji, que já conquistou um campeonato, sofreu uma grave lesão logo nos primeiros dias do torneio, o que obrigou o mongol abandonar a competição.

Especialistas do esporte acreditam que a conquista de Kotoshogiku motivará os jovens japoneses a procurarem Heya (academia de sumô) para participarem do esporte. Antes, quando o sumô figurava como o esporte nacional do Japão, centenas de jovens se inscreviam anualmente como aspirantes ao sumô.

O número hoje caiu para menos da metade, por conta da introdução do futebol e outros esportes ocidentais no país. A queda foi mais intensa em 2011, quando surgiu o escândalo da manipulação de resultados para beneficiar as casas de apostas.

Veja abaixo os resultados deste domingo, último dos quinze dias que compõe o Grande Torneio de Sumô de Ano Novo 2016 (Hatsu Basho), sediado na arena Ryogoku Kokugikan, em Tóquio.

Chiyootori (Maegashira 10) *5-7-3 venceu Takekaze (Maegashira 13) *10-5

Shodai (Maegashira 12) *10-5 venceu Gagamaru (Maegashira 9) *7-8

Sadanoumi (Maegashira 9) *7-8 venceu Chiyotairyu (Maegashira 12) *8-7

Myogiryu (Maegashira 8) *8-7 venceu Homarefuji (Maegashira 15) *4-11

Kagayaki (Maegashira 16) *4-11 venceu Tamawashi (Maegashira 7) *5-10

Okinoumi (Maegashira 6) *10-5 venceu Toyohibiki (Maegashira 14) *8-7

Tokushoryu (Maegashira 6) *4-11 vencei Amuru (Maegashira 11) *7-8

Sokokurai (Maegashira 5) *8-7 venceu Kitataiki (Maegashira 15) *7-8

Kotoyuki (Maegashira 4) *9-6 Takanoiwa (Maegashira 13) *9-6

Kyokushuho (Maegashira 4) *7-8 venceu Mitakeumi (Maegashira 10) *5-8-2

Kaisei (Maegashira 3) *5-10 venceu Ichinojo (Maegashira 3) *2-13

Takayasu (Maegashira 8) *11-4 venceu Takarafuji (Maegashira 2) *8-7

Aoiyama (Maegashira 2) *7-8 venceu Shohozan (Maegashira 1) *5-10

Ikioi (Komusubi) *5-10 venceu Aminishiki (Maegashira 1) *6-8-1

Yoshikaze (Sekiwake) *8-7 venceu Tochinoshin (Komusubi) *6-9

Tochiozan (Sekiwake) *7-8 venceu Toyonoshima (Maegashira 7) *12-3

KOTOSHOGIKU (Ozeki) *14-1 venceu Goeido (Ozeki) *4-11

Kisenosato (Ozeki) *9-6 venceu Kakuryu (Yokozuna) *10-5

Harumafuji (Yokozuna) *12-3 venceu Hakuho (Yokozuna) *12-3

Significado dos símbolos
• O posto de cada lutador está entre parênteses.
• Números com asterisco na frente significam o resultado atual de cada lutador: o primeiro número representa a quantidade de vitórias, enquanto o número posterior representa o somatório de derrotas.

Confira o vídeo com as lutas de hoje (créditos: Kintamayama/YouTube):

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