Justiça japonesa multa mulher por não usar sobrenome do marido

A professora foi multada em 1,2 milhão de ienes após pedir à justiça para usar o nome de solteira no trabalho.
Bandeira do Japão em frente à estação de Tóquio | Foto: Reprodução/YouTube/Getty
©Getty

Uma professora, de seus 30 anos, foi obrigada pela justiça japonesa a usar o sobrenome de casada no trabalho, além de ter que pagar uma multa de 1,2 milhão de ienes, o equivalente a R$ 37 mil, uma decisão que está sendo considerada um retrocesso na luta pelos direitos das mulheres no Japão.

A sentença foi tomada na última terça-feira, pela Corte Distrital de Tóquio, com base em uma lei do século 19.

“Ao identificar e distinguir cada indivíduo, o sobrenome registrado no sistema de registro familiar serve melhor do que o nome de solteira”, disse o magistrado Atsushi Onose, de acordo com o jornal ‘The Asahi Shimbun’.

A professora, que não teve o nome divulgado, expressou sua frustração em lágrimas e forte desabafo. “Eu não quero separar o meu nome e minhas relações pessoais, como referências em livros e palestras dadas, antes do casamento” disse ela, que entrou na Justiça pedindo o direito usar seu nome de solteira no ambiente de trabalho.

Em sua publicação, o ‘The Asahi Shimbun’ considerou a decisão “surpreendentemente retrógrada”, baseada em assertivas “completamente divorciadas da realidade”, por “falhar em considerar preocupações de muitas mulheres sobre como mudar seus sobrenomes pode afetar suas carreiras e identidades”.

Segundo o jornal japonês, no processo consta que a professora se casou em 2013 e adotou o sobrenome de seu marido no sistema de registro de famílias, de acordo com a lei que impõe que casais compartilhem do mesmo nome. Contudo, ela pediu para manter o nome de solteira na escola privada Third Junior & Senior High School da Universidade Nihon, em Machida, nos arredores de Tóquio, onde trabalha desde 2003. Porém, o pedido da professora foi negado.

“Você deve usar o seu sobrenome registrado quando atuar como professora”, teria dito a direção da escola, segundo o processo citado pelo ‘The Asahi Shimbun’.

Yukiko Hayasaka, uma das advogadas da professora, afirmou que ela é bastante conhecida pelo seu nome de solteira entre seus alunos e colegas de trabalho. “A decisão é um erro flagrante, disse Hayasaka, acrescentando que apenas alguns gerentes na escola a chamam pelo sobrenome registrado, o que seria um “tipo de assédio de poder”, disse ela.

Enquanto isso, a diretor da escola, Hidehisa Takase, comemorou a decisão, afirmando que estava satisfeito pela Justiça ter “compreendido a visão da escola”.

O uso do sobrenome registrado é obrigatório em documentos oficiais, como carteira de motorista, passaporte e cartões do seguro de saúde. Contudo, para encorajar a entrada de mulheres no mercado de trabalho, o governo vem relativizando as regras e permitindo o uso do nome de solteira em outros ambientes, como o trabalho.

Entretanto, a corte formada por três juízes homens negou o direito à professora, apesar de reconhecerem que o uso do nome de solteira tem se tornado mais comum. Contudo, disseram os magistrados, o “uso do nome de solteira ainda não fincou raízes na sociedade como o sobrenome”.

Em dezembro passado, a Suprema Corte do país decidiu que o artigo do Código Civil que requer que casais compartilhem do mesmo sobrenome é constitucional, dando suporte à tradição sexista que obriga as mulheres a adotarem o sobrenome dos maridos no momento do casamento. Contudo, a mesma corte destacou que as desvantagens que as pessoas sofrem após mudar o sobrenome registrado podem ser minimizadas pelo uso do nome de solteira.

Fonte: O Globo / Via The Asahi Shimbun.

Total
0
Shares
Previous Article
Incendio deixa 350 mil imoveis sem energia em Toquio Foto Kyodo

Incêndio em subestação deixa milhares sem energia em Tóquio

Next Article
Japao avanca as semifinais da Copa do Mundo Feminina Sub 17 Foto Reproducao Eurosport

Japão avança às semifinais da Copa do Mundo Feminina sub-17

Related Posts