Êxodo rural deixa cemitérios abandonados no Japão

O êxodo de jovens para grandes cidades como Tóquio tem levado ao abandono os cemitérios em cidades rurais.

Do Mundo-Nipo com Agências

Em algumas províncias do Japão, os santuários familiares que guardam as cinzas de gerações passadas estão em sua maioria abandonados, cobertos de vegetação ou quebrados, algo outrora sem precedentes em uma sociedade que venera seus antepassados. O abandono são sinais evidentes do esvaziamento das províncias, onde a queda de natalidade e da mortalidade, em meio a uma população cada vez mais envelhecida, se soma ao êxodo de jovens para cidades como Tóquio e Osaka em busca de emprego.

Conforme a população japonesa cairá a uma taxa média de cerca de meio milhão de pessoas por ano durante os próximos cinco anos, em muitas áreas rurais simplesmente não ficam familiares suficientes para cuidar dos túmulos.

Parar o decréscimo se tornou fundamental para o primeiro-ministro Shinzo Abe, que enfrentará eleições regionais em abril, onde será posto à prova o apoio à sua candidatura para liderar seu partido nas eleições do outono boreal.

“O governo converteu a revitalização regional em uma das tarefas importantes”, disse Yoshihiro Katayama à agência Bloomberg. O professor de Ciência Política da Keio University em Tóquio, disse ainda que “Abe está fazendo isso em parte pelas eleições regionais, porque ganhá-las fortalecerá sua posição na carreira para a liderança do partido”.

Segundo a matéria publicada recentemente pela agência, Abe recorreu a Shigeru Ishiba para encabeçar uma campanha de desaceleração do êxodo rural. Ishiba foi nomeado em setembro passado em um novo cargo no gabinete, que é responsável por superar o declínio populacional e revitalizar a economia regional, tarefa que programas sucessivos de obras públicas e subsídios não conseguiram cumprir.

Grande parte do êxodo rural para Tóquio se deve ao atrativo da área metropolitana da capital japonesa, que representa 38% da economia do país. A média de nascimentos por mulher em Tóquio foi de 1,13 em 2013, a mais baixa do país, comparado com uma taxa nacional de 1,43. Segundo Ishiba, para frear o declínio precisaria subir a taxa nacional para 2,07.

De acordo com o Instituto Nacional de População e Pesquisa sobre Previdência Social, 30% dos japoneses estarão morando em Tóquio e em três prefeituras próximas no ano de 2040. Em 2010, esse número representava 28% do total da população.

Nesse período, projeta-se que a população do país caia 16%, enquanto em 2048 esse número cairá para menos de 100 milhões de pessoas, frente a um pico de 128 milhões registrados em 2008, segundo o Instituto Nacional de População.

A publicação da Bloomberg ressalta ainda que os sinais do declínio regional podem ser vistos em toda parte, de escolas abandonadas até arrozais cobertos de vegetação. Poucos são tão inquietantes para muitos japoneses como os monumentos rachados e quebrados de famílias cujos membros morreram ou se mudaram para as grandes cidades.

“Alguns cemitérios existem há tanto tempo que ninguém sabe nem sequer quem é dono do terreno”, disse Koichi Kawano, vice-diretor assistente da prefeitura de Kumamoto, um distrito na ilha de Kyushu, no sudoeste do país, cuja população declinou 3,1 por cento nos últimos dez anos.

Mediante a isso, o governo deseja reduzir a migração para Tóquio com medidas como a criação de 300.000 empregos regionais nos próximos cinco anos e isenções impositivas para as empresas que mudarem suas sedes para fora da capital.

A tarefa de Ishiba é procurar que os fundos limitados e a decadência nas regiões não minem o apoio ao Partido Liberal Democrata, que tradicionalmente é forte em áreas rurais. Em uma pesquisa feita em outubro pelo jornal Mainichi, 58 por cento dos participantes disseram estarem otimistas em relação à política regional de Abe, ao passo que 38 por cento disseram não terem esperanças.

“O estilo vertical de Abe está dando errado nas regiões”, disse Yu Uchiyama, professor de Ciência Política na Universidade de Tóquio. “Os eleitores no campo não necessariamente concordam com sua agenda. Pode ser que seu foco na revitalização regional o ajude nas pesquisas locais, mas ele não pode resolver problemas com dinheiro quando está em jogo a identidade de uma região”.

*Título em inglês da matéria: ‘More Dead Than Alive: Japan’s Shrinking Regions Abandon Ancestral Graves’.

*Para entrar em contato com o jornalista autor da matéria: Yoshiaki Nohara, em Tóquio, [email protected].

Fontes: Via UOL Economia / The New York Times.

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