O Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2016 foi concedido ao pesquisador japonês Yoshinori Ohsumi, por suas descobertas sobre os mecanismos de autofagia, que é o processo de autodestruição das células ou como elas “digerem” partes de si mesmas. . O anúncio foi feito nesta segunda-feira (3) pela organização que concede o prêmio, o Instituto Karolinska, na Suécia.
Os achados de Ohsumi abriram as portas para a compreensão do papel da autofagia em doenças neurodegenerativas, câncer, diabetes tipo 2, entre outras.
“As descobertas de Ohsumi levaram a um novo paradigma no nosso conhecimento sobre como as células reciclam seu conteúdo. Suas descobertas abriram o caminho para a compreensão da importância fundamental da autofagia em diversos processos fisiológicos, como a adaptação ao jejum ou a resposta a infecções”, declarou o comitê do Nobel, em um comunicado.
Nascido em 1945 em Fukuoka, no sul Japão, Ohsumi é pesquisador do Instituto de Tecnologia de Tóquio. Ele tornou-se o quarto japonês a receber a distinção na categoria Medicina e Fisiologia do Prêmio Nobel, em seguida a Satoshi Omura, que foi laureado com a honraria em 2015. No mesmo ano, o Nobel de Física foi concedido a outro japonês, o pesquisador Takaaki Najita, pela descoberta da oscilação dos neutrinos. Ele dividiu o prêmio com Arthur B. McDonald, do Canadá.
De acordo com a emissora estatal japonesa ‘NHK’, Ohsumi é o 25º japonês a ganhar um Prêmio Nobel, que tem o nome em homenagem ao inventor da dinamite, Alfred Nobel. O valoroso prêmio é oferecido desde 1901.
A honraria da categoria Medicina ou Fisiologia é sempre a primeira área anunciada pelo Nobel a cada ano. Nesta terça-feira (4) será anunciado o vencedor do prêmio de Física e, na quarta-feira (5), o de Química. O prêmio Nobel da Paz será anunciado na sexta-feira (7), enquanto o das Ciências Econômicas na segunda-feira (10). A data para o Prêmio Nobel da Literatura ainda não foi divulgada.
Estudo de Yoshinori Ohsumi
A palavra autofagia, proveniente do grego, significa “comer a si mesmo”. O conceito surgiu na década de 60, quando os cientistas observaram pela primeira vez que as células podiam destruir seu próprio conteúdo, envolvendo-o em membranas e formando vesículas que são transportadas para um compartimento de “reciclagem” chamado lisossomo, para degradação.
O fenômeno era considerado de difícil compreensão e a ciência sabia pouco sobre ele, de acordo com o comitê do Nobel, “até que, em uma série de brilhantes experimentos no início da década de 1990, Yoshinori Ohsumi utilizou fermento para identificar genes essenciais para a autofagia”.
“Depois disso ele elucidou os mecanismos subjacentes para a autofagia no fermento e mostrou que uma maquinaria sofisticada do mesmo tipo é usada pelas células do corpo humano”, disse o comitê do Nobel.
Em organismos desnutridos, a autofagia é uma estratégia de sobrevivência, permitindo que a célula redistribua os nutrientes para as atividades mais essenciais. Ela também permite destruir organelas celulares já desgastadas ou envelhecidas, fazendo uma espécie de controle de qualidade. As organelas são estruturas que ficam dentro das células e executam funções importantes para a manutenção da vida.
Nos anos 1960, cientistas observaram que a célula era capaz de “encapsular” seus próprios componentes, os envolvendo em membranas, e os transportar para um compartimento de reciclagem chamado lisossomo, onde esses componentes são destruídos.
Mas pouco se sabia sobre esse mecanismo até o início dos anos 1990, quando Ohsumi fez uma série de experimentos com levedura para identificar os genes envolvidos na autofagia. Ele compreendeu os mecanismos da autofagia na levedura e mostrou que um processo similar ocorria nas nossas células.
Autofagia e doenças
As descobertas de Ohsumi permitiram entender a importância da autofagia em processos como a adaptação à fome e a resposta a infecções. A autofagia está envolvida em vários processos, como o desenvolvimento do embrião, o câncer e as doenças neurológicas.
Problemas no mecanismo de autofagia estão ligados ao surgimento da doença de Parkinson, diabetes tipo 2 e outras doenças relacionadas ao envelhecimento. Além disso, mutações nos genes responsáveis pela autofagia também podem levar ao surgimento de doenças.
Muitos estudos têm apontado para a autofagia como uma estratégia de neuroproteção no envelhecimento e em doenças neurodegenerativas como o Alzheimer, por exemplo.
Experimentos
A partir do final dos anos 1980, Ohsumi concentrou suas pesquisas no vacúolo, estrutura organela presente nas células de levedura que correspondem ao lisossomo nos humanos.
O primeiro desafio foi conseguiu provar que a autofagia existe nas células de levedura. A partir daí, ele tinha um método para identificar genes envolvidos no processo.
O cientista induziu, por meio de substâncias químicas, mutações em diversos genes para verificar se as mudanças afetavam o processo de autofagia nas células de levedura. Em um ano, ele já tinha identificado os primeiros genes ligados à autofagia. Isso permitiu que ele identificasse as proteínas envolvidas nesse processo de autodigestão da célula e compreendesse a fundo esse mecanismo. Ao todo, Ohsumi identificou 15 genes essenciais para a autofagia.
Fontes: NHK News | Revista online ISTOÉ | Portal G1.
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