O japonês Syukuro Manabe, de 90 anos, foi um dos três vencedores do Prêmio Nobel de Física deste ano por sua contribuição em prever com segurança o aquecimento global, disse a Real Academia Sueca de Ciências nesta terça-feira (05).
O italiano Giorgio Parisi, de 73 anos, recebeu 5 milhões de coroas suecas, que representa metade do prêmio de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,1 milhões), concedido a ele “por soluções inovadoras para a nossa compreensão de sistemas complexos”.
A outra metade do prêmio será dividida entre Manabe e Klaus Hasselmann, de 89 anos, da Alemanha. Ambos conquistaram o prêmio por contribuírem com um modelo físico do clima da Terra, quantificando a variabilidade e prevendo com segurança o aquecimento global.
Receber o prêmio de física para pesquisas sobre mudanças climáticas é incomum e reflete como o interesse pelo assunto aumentou globalmente nos últimos anos. O anúncio foi feito antes de uma conferência climática da ONU conhecida como COP26 ser aberta no final deste mês em Glasgow, na Escócia.
“As descobertas reconhecidas este ano demonstram que nosso conhecimento sobre o clima se apoia em uma base científica sólida, em uma análise rigorosa de observações”, disse Thors Hans Hansson, presidente do Comitê Nobel de Física, em um comunicado.
Manabe, que obteve doutorado pela Universidade de Tóquio, recebeu o prêmio por estabelecer as bases para o desenvolvimento de modelos climáticos atuais, demonstrando como o aumento dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera leva ao aumento das temperaturas na superfície da Terra.
Ele descobriu que, quando o nível de CO2 na atmosfera dobrava, a temperatura global aumentava mais de 2ºC.
Morando nos Estados Unidos desde 1958, ano em que chegou ao país para trabalhar no US Weather Bureau, agora chamado de Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, órgão fundado por Richard Nixon, disse aos repórteres que se reuniram em sua casa em Princeton, em New Jersey, que “está muito honrado em receber o Prêmio Nobel de Física em razão de estudos sobre o clima, algo que não tem precedentes”.
“Hoje em dia, muitos eventos como enchentes e secas acontecem no Japão e em todo o mundo”, que estão associados ao aquecimento global, disse ele por meio de sua família. “Estou feliz que todos tenham reconhecido isso”, disse
Seu modelo climático explorou a interação entre a radiação solar e o transporte vertical de massas de ar, ao mesmo tempo em que olhava para o calor gerado pelo ciclo da água.
Na década de 1960, Manabe liderou o desenvolvimento de modelos físicos do clima da Terra e foi a primeira pessoa a explorar a interação entre o balanço de radiação e o transporte vertical de massas de ar. Seu trabalho lançou as bases para o desenvolvimento de modelos climáticos.
Cerca de dez anos depois, Klaus Hasselmann, do Instituto Max Planck de Meteorologia, em Hamburgo, na Alemanha, criou um “modelo que liga o tempo e o clima”. Com isso, ele respondeu à pergunta de por que os modelos climáticos podem ser confiáveis apesar de o tempo ser mutável e caótico.
Ele também desenvolveu métodos para identificar sinais específicos – “impressões digitais” – que fenômenos naturais e atividades humanas imprimem no clima. Seus métodos têm sido usados para provar que o aumento da temperatura na atmosfera é devido às emissões humanas de dióxido de carbono.
Na avaliação do comitê, Manabe e Hasselmann “contribuíram para o maior benefício para a humanidade, no espírito de Alfred Nobel, fornecendo uma base física sólida para nosso conhecimento do clima da Terra”.
Por sua vez, Giorgio Parisi, da Universidade Sapienza de Roma, na Itália, ficou com metade do prêmio sozinho (5 milhões de coroas suecas, cerca de R$ 3,1 milhões). A descoberta dele é do campo da física teórica, um pouco mais complexa de entender.
Resumidamente explicando, Parisi foi premiado por descobrir os “padrões ocultos em materiais complexos desordenados”, tornando possível descrever e compreender diferentes materiais e fenômenos em vários campos, incluindo física, matemática e biologia.
“Suas descobertas estão entre as contribuições mais importantes para a teoria dos sistemas complexos”, disse o comitê.
O tema do trabalho de Parisi tem como base o vidro de spin (em inglês, “spin glass”). Este é um tipo especial de liga metálica em que átomos de ferro, por exemplo, são misturados aleatoriamente em uma grade de átomos de cobre.
Na década de 1970, muitos físicos, incluindo vários ganhadores do Prêmio Nobel, procuraram uma maneira de descrever os vidros spin. Parisi foi o que conseguiu fazer isso, em 1979. Mesmo assim, foram necessários muitos anos para que sua solução fosse provada matematicamente correta.
Premiação
Devido à pandemia do coronavírus, a cerimônia de premiação será realizada online no dia 10 de dezembro. Eles receberão as medalhas em seu país de residência.
Premiados
Syukuro Manabe nasceu em 1931 nasceu na província de Ehime, no oeste do Japão. Ele obteve o doutorado em 1957 na Universidade de Tóquio. O meteorologista japonês também trabalhou para a agora extinta Agência de Ciência e Tecnologia do Japão, além de ter lecionado como professor convidado na Universidade de Nagoya. Hoje, é meteorologista sênior da Universidade de Princeton, nos EUA.
O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, elogiou a realização de Manabe: “Sua descoberta baseada em ideias inovadoras contribuiu muito para o desenvolvimento sustentável da sociedade humana e da comunidade internacional, sendo valorizada pelo mundo”.
Klaus Hasselmann nasceu em 1931 em Hamburgo, na Alemanha. Obteve o doutorado em 1957 na Universidade de Göttingen. É professor do Instituto Max Planck de Meteorologia em Hamburgo.
Giorgio Parisi nasceu em 1948 em Roma, na Itália. Obteve o doutorado em 1970 na Universidade Sapienza de Roma, onde é professor.
== Mundo-Nipo (MN)
Fontes: Kyodo News | Nobel Prize in Physics 2021.
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