Em uma década, o número de casos de sífilis no Japão mais que quadruplicou, saltando para 2.697 casos em 2015, alta de 496% em dez anos e de 61% em relação a 2014, quando o país registrou um total de 1.661 infectados pela bactéria da sífilis, que é uma doença sexualmente transmissível (DST), de acordo com o relatório do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas (NIID, na sigla em inglês), órgão ligado ao Ministério da Saúde do Japão.
Publicado esta semana, o relatório do NIID mostra que, do total de casos registrado no ano passado, 1.934 eram homens e 763 mulheres. Entre os homens, 840 acreditam que a infecção se deu através de contato heterossexual e 585 por contato homossexual. Já as mulheres, 555 relataram que a infecção pode te ocorrido por contato heterossexual.
Por faixa etária com o maior número de infectados, homens ente 20 e 54 anos representaram 1.640 dos casos, enquanto mulheres entre 15 e 34 anos somaram 538.
Por prefeituras, Tóquio foi a mais afetada, com 1.057 casos, seguida por Osaka (324), Kanagawa (165), Aichi (122) e Saitama (103). As demais prefeituras relataram números inferiores.
Do total de 31 páginas que constitui o relatório do NIID, no qual mapeia a evolução das doenças infecciosas no país, duas são dedicadas à sífilis.
Apesar do crescimento acelerado de infectados por sífilis, tanto o governo central como os locais não têm feito muito para esclarecer à população sobre a doença, bem como o alarmante aumento de infectados no país.
De acordo com dados recentes da Organização Mundial da Saúde, são registrados cerca 12 milhões de casos no mundo todos os anos.
No Brasil, a sífilis tem afetado cada vez mais gestantes e bebês, enquanto o número de infectados têm aumentado alarmantemente. Entre 2005 e 2014, mais de 100 mil grávidas brasileiras foram contaminadas com a sífilis, segundo os últimos dados do Ministério da Saúde.
Houve mis de 21 mil casos registrados de grávidas infectadas apenas em 2014. A grande maioria destes casos foi notificada nas regiões Sudeste (42%) e Nordeste (23%) do país. Além das mães, o número de crianças infectadas também subiu, totalizando mais de 13 mil bebês com sífilis.
De acordo com especialistas na doença, a grande responsável pelo aumento no número de casos de sífilis no Brasil é a falta de prevenção. Contudo, o alarmante crescimento também está ligado à falta da principal medicação no combate a doença.
Penicilina em falta no Brasil
Em meio ao aumento dos casos de sífilis, médicos e autoridades tentam superar a escassez do antibiótico mais usado para seu tratamento. Segundo o Ministério da Saúde, 60% dos estados relatam escassez de penicilina benzatina (usada nos estágios iniciais da doença) e de penicilina cristalina (para fases mais avançadas e na sífilis congênita).
O Ministério da Saúde explicou que a escassez decorre da falta de matéria-prima para a produção do antibiótico. A pasta, no entanto, afirmou que fechou a compra de 2,7 milhões de frascos de penicilina benzatina em fevereiro deste ano.
Sobre a sífilis
A sífilis é uma doença causada por um microrganismo classificado como um espiroqueta e denominado Treponema pallidum. Pode ser adquirida por via sexual ou por transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho durante a gravidez.
Além de provocar abortos e a morte de bebês, crianças nascidas com sífilis e não tratadas podem desenvolver vários problemas, em especial nos dois primeiros anos de vida. Entre eles, estão atrasos no sistema neuropsicomotor, alteração do formato das pernas e do crânio, surdez, dentes malformados e lesões no fígado e no baço.
A sífilis pode ser recente ou tardia. A recente pode ser classificada como sífilis primária, secundária, ou latente recente, quando adquirida com menos de um ano de evolução, e a tardia, com mais de um ano de evolução, pode ser classificada em latente tardia ou terciária.
No caso da sífilis congênita, ela pode ser considerada recente quando diagnosticada até o segundo ano de vida, e tardia quando diagnosticada após este período.
Manifestações clínicas da sífilis
Sífilis primária: a lesão inicial da sífilis é uma úlcera (ferida) chamada de cancro duro, que normalmente aparece cerca de 21 dias após o contato sexual e pode estar acompanhada da presença de gânglios.
No homem, o local mais comum de aparecimento desta lesão é na glande (cabeça do pênis), e na mulher é mais comum nos pequenos lábios e vagina. Apesar de raras, podem ocorrer lesões em outras áreas que não a genital, como por exemplo, na faringe quando a via de transmissão for através de sexo oral. O cancro duro é rico em treponemas e, portanto, altamente infectante.
A sífilis secundária normalmente aparece de 6 a 8 semanas após o aparecimento da lesão primária (cancro duro). As lesões normalmente são caracterizadas por manchas e pápulas (lesões pouco elevadas) avermelhadas na pele, chamada de roséola sifilítica, e normalmente acompanhadas por gânglios.
Nesta fase, é comum que a pessoa infectada apresente sintomas gerais como febre, dor de cabeça, cansaço, gânglios aumentados e dores no corpo e articulações. Estas lesões são também ricas em treponemas como a sífilis primária e sua localização nas regiões de palmas e plantas sugerem fortemente o diagnóstico de sífilis secundária.
A sífilis latente é uma forma da sífilis adquirida sem sinais e sintomas clínicos cujo diagnóstico é feito exclusivamente por de testes sorológicos (exames de sangue).
A sífilis terciária tem sinais e sintomas que normalmente aparecem 3 a 12 anos após a infecção, com lesões cutâneas mais específicas na forma de tubérculos (lesões elevadas) ou gomas (ulcerações), e pode estar acompanhada de alterações neurológicas, cardiovasculares e articulares. Nesta fase não se observam treponemas nas lesões. Mas, quando não tratada, ela pode provocar surdez, inflamação da artéria aorta e meningite crônica, o que pode provocar a morte do infectado.
Diagnóstico
Os diagnósticos diferenciais (doenças que tem quadro clínico semelhante à sífilis) dependem da fase da infecção e podem ser feitos com outras doenças sexualmente transmissíveis que causam lesões na genitália como o herpes genital, donovanose e linfogranuloma venéreo, no caso da sífilis primária. No caso da sífilis secundária, as farmacodermias (alergia a medicamentos) e as doenças exantemáticas (como o sarampo e a rubéola) devem ser consideradas.
O diagnóstico da sífilis é feito associando o quadro clínico a testes sorológicos (exames de sangue), sendo o mais comum o VDRL quantitativo, que é importante também como um critério de cura e no acompanhamento pós-tratamento.
Este teste faz parte também da rotina do pré-natal. É muito importante que a mulher grávida realize o teste para a sífilis antes e durante o pré-natal, pois quando a doença é transmitida ao feto durante a gravidez pode deixar seqüelas como cegueira, mal-formações ou até mesmo levar à morte fetal. As gestantes diagnosticadas com sífilis devem ser tratadas imediatamente, e serem acompanhadas com os testes sorológicos quantitativos (VDRL) mensalmente até o final da gravidez.
Tratamento
O tratamento é feito com de injeções de penicilina, variando a dose de acordo com cada fase da doença. Nos pacientes com alergia comprovada à penicilina utiliza-se antibióticos a base de eritromicina ou doxiciclina.
Fontes: Agência Kyodo | Sociedade Brasileira de Infectologia | Ministério da Saúde do Brasil (portalsaude.saude.gov.br).
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