Dependência de álcool avança entre mulheres no Japão

Grupos exclusivos para mulheres ajudam a combater o alcoolismo no Japão, onde o consumo feminino cresce e as participantes relatam experiências de superação, acolhimento e enfrentamento do estigma.
Alcoolismo entre mulheres | ©Depositphotos
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O fenômeno do aumento do consumo de álcool entre mulheres no Japão tem se tornado motivo de preocupação para especialistas e autoridades de saúde. Embora tradicionalmente a cultura japonesa associe o hábito de beber ao universo masculino, diversos relatos indicam que o número de mulheres que abusam do álcool está crescendo rapidamente no país.

De acordo com reportagem da Kyodo, publicada no último sábado, muitos desses casos têm levado mulheres a buscar apoio em grupos de recuperação, como os organizados por Shino Usui, farmacêutica e ex-dependente alcoólica, atualmente engajada no combate ao alcoolismo feminino em um hospital no oeste do país.

Usui relata que vivenciou o desafio de vencer o alcoolismo em uma sociedade que muitas vezes estigmatiza a mulher dependente da bebida, tornando essa luta ainda mais solitária e vergonhosa. A situação se agrava, segundo especialistas em saúde, porque o organismo feminino, em função de particularidades hormonais, pode desenvolver dependência de maneira mais rápida. Ao mesmo tempo, os programas de recuperação costumam atender principalmente ao perfil masculino, carência que prejudica a busca por ajuda entre as mulheres.

Dados do Ministério da Saúde japonês apontam que, no ano fiscal de 2021, cerca de 108 mil pacientes ambulatoriais procuraram tratamento para dependência de álcool. Em 2023, 9,5% das mulheres consumiram álcool em níveis considerados de risco, em comparação com 14,1% dos homens. Nos últimos dez anos, a taxa feminina tem avançado de forma significativa, sinalizando a urgência de respostas específicas.

No Hospital Sanko, na cidade portuária de Takamatsu, na ilha de Shikoku, grupos de mulheres mantêm encontros regulares para compartilhar vivências e fortalecer a sobriedade. Uma iniciativa recente, chamada “Ametalk!”, inspirada em uma comédia televisiva, reúne mulheres integrantes da Associação de Abstinência All Nippon, apelidadas de “ametistas”. Nesses encontros, as participantes trocam experiências que incluem estratégias para esconder o vício da família, lidar com o julgamento social e relatar consequências físicas do excesso de álcool. O ambiente seguro permite confidências que dificilmente seriam divididas em grupos mistos, onde predominam homens.

Entre os relatos, está o de uma mulher que, para evitar que o marido desconfiasse, ocultava o som do abridor de latas ao aproveitar a passagem dos trens em frente à sua residência. Outra participante menciona o constrangimento diante de colegas homens e a liberdade de falar abertamente sobre episódios delicados, como a perda de controle em momentos de embriaguez. O apoio mútuo entre as mulheres é reforçado nas palavras de Usui, atualmente com 48 anos, que ficou sóbria há quatro anos graças ao grupo: “O vício não pode ser superado sozinha. Este é um espaço seguro para mulheres dividirem experiências sem vergonha e retomarem suas vidas”.

O diretor do Hospital Sanko, Shun Umino, considera que a escalada do alcoolismo feminino decorre, em parte, do aumento da publicidade de bebidas voltada ao público feminino, mas também do estresse laboral e das novas funções que as mulheres passaram a acumular no mercado de trabalho. Ele afirma que a recuperação exige uma abordagem individualizada, levando em consideração as especificidades de gênero, além de ações para eliminar o preconceito que impede a procura por tratamento. Muitas participantes, relata Umino, também enfrentam histórico de traumas, distúrbios alimentares e abusos, situações que agravam o quadro de dependência.

Diante desse cenário, iniciativas especializadas e espaços de acolhimento para mulheres tornam-se fundamentais para promover o enfrentamento do alcoolismo, reduzir o estigma social e permitir que mais mulheres possam reconstruir trajetórias de vida com autonomia e dignidade.

== Mundo-Nipo (MN)

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