A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou hoje (17), por unanimidade, o uso emergencial da vacina Coronavac, do laboratório chinês Sinovac produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan, e da vacina Oxford/AstraZeneca, imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford e pelo laboratório britânico AstraZeneca, em parceria com a Fiocruz, contra a Covid-19 no Brasil.
A decisão, que foi transmitida ao vivo pelos pelos canais digitais da Anvisa e pela TV Brasil neste domingo (17) –um dia histórico para o Brasil–, vale para o uso de 8 milhões de doses vinculadas à Fiocruz e ao Butantan.
Após cinco horas de reunião, os cinco diretores deram parecer favorável à liberação dos imunizantes, acompanhando a relatora Meiruze Sousa Freitas, primeira a votar.
Os pedidos haviam sido feitos pelo Butantan e Fiocruz em 8 de janeiro. O primeiro buscava autorização para uso de 6 milhões de doses da vacina Coronavac que foram importadas da China ainda no ano passado.
Já a Fiocruz pedia autorização para uso de 2 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca, que devem ser importadas da Índia, em data ainda indefinida.
Para que mais vacinas tenham aval, tanto do Butantan como da Fiocruz, será necessário novo pedido à Anvisa.
Em seus votos, os diretores da agência defenderam critérios técnicos e científicos para as decisões referentes à Covid-19, que todos sejam vacinados e também o distanciamento social.
Indiretamente, trata-se de uma crítica ao discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que desde o início da pandemia se posicionou contra políticas de isolamento e vem defendendo que a vacina não deve ser obrigatória, além de propagandear medicamentos sem comprovação científica, como a hidroxicloroquina.
O diretor-presidente da Agência, Antonio Barra Torres, aliado muito próximo de Bolsonaro, foi o último diretor a votar e reforçou que a aprovação da vacina não deve significar o relaxamento de outras medidas de proteção.
Já a diretora Meiruze Sousa Freitas afirmou que ainda não há medicamentos para prevenir ou tratar a doença.
“Até o momento, não contamos com alternativa terapêutica aprovada e disponível para prevenir ou tratar a doença causada pelo novo coronavírus”, afirmou ela.
“Assim, compete a cada um de nós, instituições públicas e privadas, sociedade civil e organizada, cidadãos, cada um na sua esfera de atuação, tomarmos todas as medidas ao nosso alcance para, no menor tempo possível, diminuir os impactos da Covid-19 no nosso país.”
O discurso mais polêmico entre os cinco diretores que votaram, no entanto, foi o proferido pelo diretor Alex Campos, que citou a crise em Manaus e disse que a situação indica uma “falha no Estado”.
“Essa é uma nação civilizada ou que vive a distopia da barbárie? A tragédia da morte pela falta da terapia mais simples do oxigênio é um atestado da nossa ineficiência, infelizmente”, disse ele, para quem as pessoas “foram vítimas da Covid e da incúria do Estado”.
Campos começou sua fala agradecendo ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, de quem foi chefe de gabinete, pelas oportunidades, inclusive sua indicação para agência. Mandetta foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro e virou desafeto do governo federal.
O então ministro entrava em rota de colisão com Bolsonaro por defender as políticas de distanciamento social e por se recusar a recomendar a hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19.
Eficácia
A vacina Coronavac tem eficácia global de 50,3% contra o Covid-19. Já a eficácia contra sintomas chega a 78%, que representa a proporção de vacinados que contraíram a doença e não precisaram de assistência médica. A Coronavac também oferece proteção de 100% para casos moderados a graves, ou seja, quem tomar a vacina não desenvolverá a forma grave da doença e, portanto, poderá ser tratado em casa e não precisará ser hospitalizado, segundo explicou a BBC News.
Por sua vez, o imunizante Oxford/AstraZeneca proporciona eficácia global de 70,3%, alcançando também a proteção de 100% para casos moderados e graves. A vacina tem 70% de eficácia contra casos moderados e leves, segundo a Fiocruz.
Ambas vacinas necessitam de duas doses, sendo que a Coronavac tem um intervalo máximo de 28 dias, enquanto a Oxford/AstraZeneca necessita de um intervalo de 12 semanas.
Autorização de emergência
Diferente da autorização definitiva, concedida após a conclusão de todos os testes clínicos, a permissão para uso emergencial é dada quando a vacina ainda está em fase de testes ou de análise da documentação, explica a Anvisa.
Nesse caso, a vacina não pode ser usada em toda a população. Os laboratórios precisam delimitar um público específico no qual as imunizações serão aplicadas.
Os laboratórios se comprometem a notificar a agência em um prazo de 24 horas as ocorrências de efeitos adversos da vacina.
Além disso, a vacinação de uso emergencial apenas pode ocorrer no sistema público de saúde.
Proteção
Todos os diretores frisaram em seus discursos que, mesmo após o recebimento das vacinas, será necessário manter a prevenção, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), autoridades sanitárias e especialistas recomendam como formas de evitar a disseminação ainda maior do coronavírus o uso de máscara; a higienização das mãos; o distanciamento social; e evitar aglomerações, por exemplo.
Veja, abaixo, a reunião da Anvisa para aprovação das vacinas:
== Mundo-Nipo (MN)
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