Poucos minutos depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar, por unanimidade, o uso emergencial das vacinas Coronavac e Oxford/AstraZeneca, a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, recebeu a primeira aplicação no Brasil da vacina contra a Covid-19, fora dos ensaios clínicos, às 15h30 deste domingo (17) no Centro de Convenções do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, na capital paulista, dando início a uma nova fase da pandemia no país.
Na enfermeira foi aplicada a Coronavac, vacina do laboratório Sinovac produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan. A expectativa é que o imunizante reduza significativamente a incidência de casos graves da doença, diminuindo a lotação dos sistema de saúde, e transformando a Covid-19, enfim, em uma “gripezinha”.
Mônica Calazans trabalha na UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Com obesidade, hipertensão e diabetes, ela faz parte do grupo de risco. Ela foi vacinada pela enfermeira Jéssica Pires de Camargo, de 30 anos. A aplicação da vacina ocorreu em caráter simbólico, ao lado do governador João Doria, fiador da Coronavac no país, conforme noticiou o jornal Folha de S.Paulo.
Mônica chegou aos prantos ao Hospital das Clínicas para receber o imunizante. “São 10 meses de sofrimento e mortes, você não sabe o quanto isso representa”, disse, chorando.
“Estou muito orgulhosa de tudo isso, meu nome tá aí no mundo inteiro, disse Mônica, que foi participante da pesquisa, na qual recebeu uma dose de placebo durante os testes clínicos da Coronavac e neste domingo (17) foi imunizada de fato.
“Que a população acredite na vacina. Estou falando agora como brasileira, mulher negra, que acredite na vacina. Vamos pensar em quantas vidas nos perdemos, quantos pais, mães, irmãos. Eu quase perdi também um irmão por Covid. Diante disso eu tomei coragem”, disse.
Mônica trabalha na linha de frente da Covid-19 desde março, como enfermeira na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Instituo de Infectologia Emílio Ribas, uma das primeiras unidades de saúde a lotarem logo no começo da pandemia.
Assim que acabou a coletiva do governo Dória, na qual participou após ter tomado a vacina Coronavac, a enfermeira abandonou a vida de celebridade e foi direto ao Emílio Ribas, onde ainda faria plantão neste domingo em uma UTI lotada, segundo ela própria. O setor tem 60 leitos exclusivos para pacientes com coronavírus, com taxa de ocupação média de 90%, afirma o governo.
Moradora de Itaquera, na zona leste da cidade, ela toma dois ônibus e leva 1h30 para chegar ao trabalho, onde trabalha dia sim, dia não, em turnos de 12 horas. Viúva, mora com o filho de 30 anos. Segundo ela, nenhum dos dois foi infectado, mas o irmão, auxiliar de enfermagem, de 44 anos, chegou a ser internado por 20 dias.
Enfermeira Jessica
Calazans foi vacinada neste domingo pela enfermeira Jessica Pires de Camargo, de 30 anos, que, mais tarde, também recebeu o imunizante.
“Um sentimento de orgulho e esperança ao mesmo tempo”, diz ela, que diz ter ficado surpresa ao ter sido convidada, na última sexta (15), a ser a primeira pessoa a aplicar o imunizante no país. “Orgulho de saber que todo o trabalho que fizemos valeu a pena”, e “sentimento de esperança de que as coisas se encaminhem”.
Jessica não atua na linha de frente em si: trabalha no Centro de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde de SP, junto com a vigilância sanitária e a vigilância epidemiológica, na coordenação e logística. Mas também participa das campanhas ativamente, como no caso da Coronavac e durante a última crise de febre amarela no estado, além da vacinação da gripe.
“O número de casos voltou a crescer. As pessoas estão cansadas, mas a gente não pode esquecer que o trabalho ainda continua. Ao longo de vários anos, já passamos por muitas epidemias, e o isolamento social sempre foi a melhor maneira”, afirma.
Doria comemora
Logo após a aprovação emergencial da vacina pela Anvisa, Doria iniciou uma espécie de cerimônia para registrar a primeira vacinação não experimental contra Covid-19 no Brasil.
“Como pai de família, como alguém ao lado de tantos brasileiros que lutam pela vida, que lutam contra o negacionismo, que lutam pela proteção dos brasileiros, hoje é o Dia V da vida, da vacina, dos brasileiros”, disse.
“Este é um momento histórico para o Brasil. E aqui no hospital das clínicas em São Paulo, referência para o país, referência internacional, é aqui que nós iniciamos imediatamente a vacinação dos brasileiros”, disse.
Assim, o governador garantiu sua presença na fotografia do evento, e tem no imunizante sua principal arma política para concorrer à Presidência do Brasil em 2022.
A Coronavac tem uma eficácia global de 50,38%, subindo para 78% para leves e, embora isso ainda precise de confirmação, aparentes 100% para moderados e graves.
Início da vacinação em SP
Nesta segunda, o governo paulista começa a distribuir doses, seringas e agulhas para imunizar trabalhadores de saúde de seis hospitais do estado. HC (Hospital das Clínicas) da capital e de Ribeirão Preto (USP), HC da Campinas (Unicamp), HC de Botucatu (Unesp), HC de Marília (Famema) e Hospital de Base de São José do Rio Preto (Funfarme).
Cerca de 60 mil pessoas serão imunizadas nesses locais. Depois, o estado vai distribuir vacinas para prefeituras, que deverão imunizar profissionais de saúde e indígenas.
O governo paulista montou 30 estações de vacinação em um espaço de 1.000 m² para vacinar os 30 mil profissionais do Hospital das Clínicas da capital na primeira etapa de vacinação. A operação acontecerá diariamente das 7h às 19h.
Os profissionais de saúde receberão a segunda dose 21 dias depois da primeira.
Além disso, o governo criou um site para cadastrar os demais profissionais de saúde e populações indígenas, grupo prioritário da vacinação, em www.vacinaja.sp.gov.br. O governo diz que quem não conseguir se cadastrar não precisa se preocupar, porque a vacina ocorrerá sem ele, mas que a ideia é agilizar o processo.
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