Pesquisadores usaram uma técnica de edição de genoma para que macacos tivessem uma mutação ligada ao autismo. Após a intervenção, os animais passaram a demonstrar um comportamento semelhante ao dos humanos com o transtorno – acordaram diversas vezes durante a noite, tiveram dificuldade em se relacionar com outros macacos e desenvolveram atos repetitivos.
Publicado na segunda-feira (12) na revista científica Nature, o experimento foi realizado por cientistas da China e dos Estados Unidos. Segundo os autores, o estudo poderá ajudar a descobrir novos tratamentos para pacientes com autismo.
Como a pesquisa funciona
Segundo os pesquisadores, muitos genes podem ter associação com o transtorno: um dos principais é o Shank3. A proteína codificada por ele é encontrada nas sinapses (ligações entre os neurônios), especialmente na parte do cérebro relacionada à coordenação motora, à motivação e ao comportamento.
Usando a técnica chamada de CRISPR, cientistas de centros de estudo chineses e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) conseguiram localizar a sequência do DNA que deveria ser modificada, para editá-la. Assim, puderam provocar uma mutação no Shank3 e fazer com que os macacos tivessem a carga genética associada ao autismo.
Os animais pesquisados manifestaram comportamentos típicos do transtorno, como a dificuldade de socialização e a estereotipia (repetição de atos, como ficar se balançando). Exames mostraram também uma atividade menor no thalamus, região do cérebro relacionada a questões sensoriais e motoras.
Ratos x macacos
Essa mesma técnica já havia sido usada em ratos – mas sem surtir o efeito esperado. Os roedores não têm o córtex pré-frontal tão desenvolvido, e essa é uma região importante para os primatas, relacionada à concentração e à interpretação de sinais sociais.
“Os testes em ratos continuam sendo importantes, mas acreditamos que os modelos genéticos em macacos vão nos ajudar a desenvolver remédios melhores e talvez até terapias genéticas para alguns tipos mais severos do transtorno”, explica Robert Desimone, um dos autores da pesquisa.
Esperança para novos tratamentos
A técnica aplicada em macacos pode ajudar a criar melhores opções de tratamento para o autismo. Ainda não há, no entanto, a garantia de que esse estudo vá levar a medicamentos seguros e eficazes.
Segundo Guoping Feng, membro do MIT e de Harvard, no próximo ano, saberemos se as descobertas do laboratório serão usadas nas clínicas.
Quais as características do autismo?
A nomenclatura mais moderna, de acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, é mesmo a sigla “TEA”. É um “guarda-chuva” que inclui pessoas em diferentes condições.
No chamado “autismo clássico”, que costuma ser diagnosticado por volta dos 3 anos de idade, os sinais mais comuns são:
- dificuldade em interação social, como não olhar para o interlocutor ou manter uma distância grande dele;
- não compartilhar interesses e experiências com os outros;
- não reagir a emoções, como por exemplo a criança que vê que a mãe se machucou, mas não faz carícias ou dá beijo para consolá-la;
- fazer movimentos repetitivos;
- não desenvolver a linguagem oral ou apenas repetir frases ouvidas;
- necessitar de uma rotina muito inflexível, sem mudanças em caminhos para a escola ou ordem de compromissos na semana.
No outro extremo, chamado Síndrome de Asperger, o desenvolvimento da linguagem pode até ser equivalente ao da média das crianças. Mas há sinais como:
- desinteresse em compartilhar gostos;
- dificuldade em socialização;
- falta de empatia ou de ter reações em grupo;
- interesse por assuntos muito específicos;
- comportamento repetitivo;
- sensibilidade alta ou baixa nos 5 sentidos (como irritação em ambientes barulhentos).
Fonte: G1 Ciência e Saúde
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