Atualizado em 09/02/2023
O Deus Susanoo (SUSA-NO-O NO MIKOTO), que no Xintoísmo significa “Deus do Trovão ou Deus das Tempestades”, é conhecido como “O Varão Impetuoso” e o irmão mais novo da Deusa Amaterasu (AMA-TERASU OHO MI KAMI), que no Xintoísmo significa “Deusa do Sol”.
Segundo a mitologia japonesa, os dois são filhos dos Deuses celestiais Izanagi e Izanami, criadores do arquipélago japonês, de uma infinidade de deuses e de todos os seres vivos da Terra.
Em sua maioria, as histórias sobre mitos e lendas do Japão são extraídas de dois registros. O primeiro deles foi o Kojiki (Registro das Coisas Antigas), sendo o registro mais antigo que se tem noticia. Sua compilação data de 712, e composto por O-no-Yasumano, com a ajuda de “outros”, a pedido da Imperatriz Gemmei.
O segundo livro é o Nihongi ou Nihon Shoki (Crônicas do Japão), um registro que relata tanto a mitologia japonesa como também uma boa parte da história do Japão. Neles, sãos descritos, de formas distintas, a A Criação do Mundo e dos Deuses do Japão. O livro foi concluído em 720 sob a supervisão do Príncipe Toneri-no-Miko (filho do Imperador Temmu) com a ajuda de O-no-Yasumaro.
Através dos relatos destes dois registros podemos conhecer o casal de Deuses mais populares do Japão.
O Varão Impetuoso
Susanoo era uma divindade realmente indesejável para os humanos e figurava no Reino dos Deuses como um deus decididamente perturbador. Seu caráter e personalidade foram descritos no Nihongi mais nitidamente do que qualquer outra divindade mencionada nesses antigos registros.
Esse Deus era dotado de uma natureza extremamente má, da qual, com frequência, resultava em ações muito cruéis. Contudo, apesar de suas maldades, Susanoo tinha o hábito de chorar e lamentar-se com frequência, o que deixava a sua longa barba sempre molhada de lágrimas.
Assim, como uma criança num acesso de raiva reduz um brinquedo em pedaços, Susanoo, em um assomo de raiva, sem qualquer motivo, podia reduzir a pó montanhas cobertas de resplendente verdor, ocasionando a morte prematura de muitos seres vivos.
Susanoo é banido para a Terra de Yomi
As más ações de Susanoo sempre deixavam seus pais, Izanagi e Izanami, consternados. Eles não podiam mais adiar a decisão de exilar seu filho desalmado para a Terra de Yomi (Região dos Mortos).
Sabendo disso, Susanoo fez uma declaração junto a um pedido aos seus pais: “Estou pronto a obedecê-los e seguir para Terra de Yomi. Antes, porém, gostaria de ir à Planície do Alto Céu para despedir-me de minha irmã mais velha, Amaterasu. Depois disso partirei para meu exílio”.
Esse pedido, aparentemente inofensivo, foi concedido e Susanoo ascendeu ao céu. Sua partida provocou uma grande agitação no mar e as colinas e montanhas gemeram em sons trovejantes.
Amaterasu desconfia da visita de Susanoo
Tais barulhos chegaram aos ouvidos de Amaterasu que, percebendo que se tratava da aproximação de seu maldoso irmão, perguntou a si mesma: “Será que ele vem aqui com boas intenções? Acredito mais no propósito de querer roubar o meu Reino.
De acordo com a incumbência que nossos pais deram aos seus filhos, a cada um foi destinado um determinado Reino. Por que ele rejeita o Reino que lhe compete e no qual deveria permanecer, tendo a ousadia de vir até aqui me afrontar?”.
Amaterasu se prepara para a guerra
Ela deu nós em seus longos cabelos e neles pendurou joias. Enfeitou o pulso com um magnífico bracelete de quinhentas pedras preciosas de Yasaka. Jogou nos ombros a “Aljava de mil Setas e a Aljava de quinhentas Lanças” e cuidou de proteger os braços com finas e suaves almofadas de couro para que abrandassem o impacto das cordas do arco.
A Deusa empunhava duas magníficas espadas em ambas as mãos. Seus cabos eram cravejados de pedras preciosas que reluziam, contrastando com os raios reluzentes da Deusa do Sol.
Sua figura era de um aspecto temível e, ao mesmo tempo, esplendoroso. Por si só, Amaterasu era magnífica, no entanto, sua armadura de guerra era tão linda quanto à própria Deusa. As duas em conjunto, “Deusa e Armadura”, fizeram chover o resplendor no Palácio dos Céus em flores de raios solares como a própria Deusa do Sol.
Por fim, Amaterasu estava preparada para enfrentar um combate de vida ou morte. Brandiu seu arco, empunhou a espada e bateu sem parar o pé no chão até abrir um buraco suficientemente grande para lhe servir de trincheira.
Susanoo chega ao Palácio de Amaterasu
Toda a preparação elaborada por Amaterasu foi praticamente inútil porque o Varão Impetuoso se apresentou como penitente.
A princípio, ele disse: “Meu coração não era tão negro como pensavam. Agora, em obediência à ordem áspera e inflexível de nossos pais, estou prestes a partir para Terra de Yomi. Porém, como poderia fazê-lo sem antes despedir-me de minha irmã mais velha? Foi por essa razão que cruzei a pé as nuvens e as neblinas e cheguei aqui, vindo de bem longe para ver-lhe face a face. Estou surpreso e triste por constatar, no semblante de minha irmã, tanta severidade”.
A Deusa do Sol considerou essas palavras com uma boa dose de suspeita. Aquela personalidade devotada de fiel irmão não era conciliável com o seu real caráter. Desconfiada, Amaterasu resolveu testar a sinceridade de seu irmão através de diversos procedimentos que demonstraram pureza de coração e sinceridade nas palavras de seu irmão.
Susanoo revela seu verdadeiro caráter
Amaterasu tinha no Céu um grande número de excelentes campos de arroz, uns menores, e outros maiores, dos quais se sentia muito orgulhosa, juntamente com sua manada de potros malhados.
Na primavera, a Deusa semeou as sementes em seu estimado campo de arroz, foi quando o bom comportamento de Susanoo teve fim. O Varão Impetuoso destruiu as cercas entre as Leiras (rego ou vala no qual se colocam as sementes), e no outono soltou na plantação uma enorme quantidade dos preciosos potros malhados da irmã, destruindo boa parte dos arrozais.
Em outra ocasião, Susanoo avistou sua irmã no sagrado Salão do Tear tecendo as Túnicas dos Deuses juntamente com outras Divindades. Descontente, com tamanha paz e harmonia, não se conteve. Fez um buraco no teto e atirou sobre elas um cavalo esfolado. Uma das Deusas morreu e outras se feriram gravemente. Amaterasu ficou tão assustada que, sem querer, feriu-se na lançadeira do tear.
Extremamente zangada, Amaterasu decidiu abandonar seu Reino do Céu. Juntou suas vestes resplandecentes e, furtivamente, abandonou o seu lar para adentrar em uma caverna, que lacrou com uma rocha, onde passou a viver em reclusão.
Amaterasu condena o mundo às trevas
Amaterasu, após trancar-se em uma caverna, privou o mundo de sua esplendorosa luz e a escuridão total pairou sobre o mundo. A alternância entre o dia e a noite passou a não mais existir. A partir de então o mundo conheceu as trevas.
Quando ocorreu essa horrível catástrofe, uma grande reunião de divindades foi formada. Oitenta Miríades de Deuses se encontraram às margens do Rio Celestial com a esperança de achar um modo de convencer Amaterasu a, mais uma vez, proporcionar ao mundo a glória de sua luz resplandecente.
Depois de muito confabular e de muitas adivinhações feitas por meio do osso da perna de um cervo sobre labaredas feitas de casca da árvore de cerejeira, os Deuses fizeram diversas ferramentas como fole e aparatos para forja. Com as ferramentas criaram inúmeros instrumentos musicais. Soldaram estrelas para fazer o magnífico espelho Yata no Kagami (Espelho de Oito Lados) e as joias Yasakani no Magatama (Joias Curvadas).
Quando tudo ficou pronto, as Oitenta Miríades de Deuses desceram até a entrada da caverna onde Amaterasu refugiara-se e fizeram uma grande festa.
Nos galhos superiores da Verdadeira Árvore Sakaki, penduraram as joias e, nos galhos mais abaixo, o espelho.
Podia-se ouvir, vindo de todos os lados, o canto das Aves Canouras que trouxeram das Regiões Eternas. O canto foi somente o prelúdio para o que estava por vir.
A Deusa Ame-no-Uzume (Fêmea que dá o alarme no céu) fez um capuz da Verdadeira Árvore Sakaki e, com uma lança enfeitada de Capim Eulália nas mãos, virou um barril e, sobre ele, começou a dançar de maneira provocante. As Oitenta Miríades de Deuses acharam graça e começam a gargalhar, fazendo grande barulho.
A algazarra dos Deuses era tanta que despertou a curiosidade de Amaterasu, que cuidadosamente abriu a entrada da caverna para espiar. Logo que saiu, um grande clarão se fez com as Joias Magatama e o Espelho Kagami, que começaram a brilhar. Inocentemente, Amaterasu pensou que havia algo além dela que podia iluminar o mundo.
Ama-no-Tajikara-wo-no-Kami (Macho de mão forte) estava esperando ao lado da caverna e, enquanto a Deusa espiava a festa, delicadamente ele a puxou para fora e bloqueou com o próprio corpo a entrada da caverna.
Amaterasu e os Deuses celestiais chegam a um acordo
A Deusa voltaria a habitar a Planície do Alto do Céu, mas como ainda estava zangada com seu irmão, queria que ele fosse punido.
Graças às Oitenta Miríades de Deuses, Amaterasu voltou definitivamente para os Céus e o mundo voltou a ser iluminado por seus raios dourados e resplandecentes para todo o sempre.
Dado o acordo entre Amaterasu e as Oitentas Miríades, Susanoo foi encontrado e castigado pelos Deuses, que cortaram a sua estimada barba e rasparam seus cabelos. O malvado Deus também teve todas as suas unhas arrancadas e, depois disto, foi definitivamente banido por todos os Deuses para a terra de Yomi.
Susanoo na Terra de Yomi
Devido à inconsistência usual dos dois registros, Kojiki e Nihongi, não ficamos surpresos por não haver relatos referentes à Susanoo na Terra de Yomi.
As alternâncias nas narrações sobre Susanoo nesses dois livros terminam de forma inesperada e, quando tornamos a encontrá-lo, nanda é mencionado sobre o seu mau comportamento usual.
Na verdade, seus contos dão saltos e alternâncias de uma história para outra em ambos os livros, que passam a descrevê-lo como um Deus herói, desempenhando um papel digno de Cavalheiros. Portanto, ficamos sem saber se o súbito refúgio de sua irmã para uma caverna, deixando o mundo em total escuridão, fez mudar o seu comportamento e, sendo assim, seus pais tenham relevado o seu banimento para a Terra de Yomi.
Susanoo e Yamata-no-Orochi (versão Kojiki)
O Kojiki conta que Susanoo, arrependido por suas maldades contra Amaterasu, decidiu corrigir-se logo após ser castigado pelas Miríades dos Deuses.
O Deus das Tempestades foi até a Região de Idzumo, onde o Dragão de oito cabeças, Yamata-no-Orochi, fazia atrocidades há tempos contra aquele povo, e o desafiou.
Após ter vencido a batalha, Susanoo encontrou a espada sagrada Kusanagi Tsurugi (cortador de Grama) debaixo das escamas da calda do dragão. Em seguida, foi até Amaterasu e ofereceu a espada com o propósito de ser perdoado por seus atos de maldades.
Soube-se depois, segundo o livro Kojiki, que Amaterasu veio a dar a Espada Tsurugi, o Espelho Kagami e as Joias Magatama ao seu neto Ninigi-no-Kimoto (Príncipe das abundantes Espigas de Arroz Vermelho).
Os Três Tesouros Sagrados
Estes três objetos existem realmente e são intitulados como as “Insígnias do Império”, pertencentes à Família Imperial do Japão. E, de tempos em tempos, os sagrados objetos são exibidos em uma Cerimônia oficial no Palácio da Família Imperial.
As Joias Magatama, o Espelho Kagami e a Espada Kusanagi Tsurugi, são intitulados “Os três Tesouros Sagrados” ou as Relíquias Sagradas do Japão.
Simbologias das Insígnias do Império
Espelho Kagami
Ele representa o Sol da Bandeira Nacional do Japão.
Espada Kusanagi Tsurugi
Ela representa a origem do Bushido (o caminho dos Samurais).
Joias Magatama
Elas representam as riquezas do Japão.
Por Maria Rosa (artigo criado originalmente em 2005)
Principais fontes de pesquisa
Livro: The Kojiki “Records of Ancient Matters” | Translated by Basil Hall Chamberlain;
Livro: Myths and Legends of Japan | Autor: F. Hadland Davis;
Livro: O Japão – Dicionário e Civilização | Autores: Frederic Louis David e A. Iwang.
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