Inflação dispara no Japão e chega perto de 4% em outubro

A inflação no Japão, a mais alta já registrada no país desde 1982, é alimentada pelos custos mais altos de energia e de matérias-primas, que são insuflados pelo enfraquecimento do iene.
Pessoas fazendo compras em supermercado no Japão | ©Matichon.jp
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O principal indicador de preços ao consumidor do Japão atingiu o ritmo mais rápido de crescimento, na base anual, em cerca de quatro décadas, mostraram dados do governo na sexta-feira (18), fornecendo novas evidências de que o aumento da inflação está afetando os gastos das famílias e testando a determinação do Banco do Japão (BOJ, o banco central japonês) em manter sua política tarifária de taxa ultrabaixa, informou a Kyodo News, site da agência Kyodo.

O BOJ vê a inflação recente, que é motivada pelos custos mais altos de energia e matérias-primas, potencializadas pelo enfraquecimento do iene, será de curta duração.

O núcleo do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que inclui derivados de petróleo, mas exclui os preços voláteis dos alimentos frescos, subiu 3,6% em outubro na comparação com o ano anterior, aumentando pelo 14º mês consecutivo, após alta de 3% em setembro.

A última vez que o núcleo do índice de preços ao consumidor subiu 3,6% foi em fevereiro de 1982, na época da segunda crise global do petróleo.

Como resultado, o IPC japonês permaneceu acima da meta de 2% do BC do Japão nos últimos sete meses. Apesar  disso, o presidente do BOJ, Haruhiko Kuroda, não se intimidou com os dados, reiterando que sua política de taxas ultra baixas é necessária para apoiar a economia e atingir a meta de inflação apoiada por um crescimento salarial mais robusto.

“Outubro foi apelidado de ‘o mês do aumento de preços’ e os dados da inflação foram fortes”, disse Yoshiki Shinke, economista executivo sênior do Dai-ichi Life Research Institute.

“Mesmo quando o impacto do aumento do imposto sobre o consumo de 2014 foi sentido, o maior ganho no IPC foi de 3,4%, mas é difícil esperar que os consumidores aumentem os gastos sem aumentos salariais”, acrescentou Shinke.

Um número crescente de empresas japonesas aumentou os preços de bens de uso diário para repassar os custos mais altos, com ganhos acentuados em uma variedade de itens, de alimentos a bens duráveis, vistos em outubro.

Por sua vez, o índice que mede o IPC dos preços dos alimentos, mas exclui itens perecíveis, saltou 5,9%, o maior ganho desde março de 1981, já que muitas empresas avançaram com aumentos de preços em outubro, de acordo com o Ministério de Assuntos Internos e Comunicações.

Os preços da energia – incluindo eletricidade, gás doméstico, gasolina e querosene – saltaram 15,2% em outubro, abaixo dos 16,9% apurados no mês anterior. O ganho ainda foi limitado pelo programa de subsídios do governo para reduzir os preços da gasolina e do querosene no varejo.

Enfraquecimento do iene

A queda vertiginosa do iene em relação ao dólar americano, impulsionada pela postura dovish do Banco do Japão, aumentou os problemas no Japão ao inflacionar os preços de importação.

“Não podemos afirmar que nossa meta de estabilidade de preços em 2% foi alcançada de forma estável e sustentável (…) É improvável que seja alcançada no próximo ano fiscal, então a flexibilização monetária deve continuar”, disse Kuroda em uma sessão parlamentar logo após a divulgação dos dados do IPC.

Economistas projetam que o recente aumento no núcleo do IPC atingirá o pico no trimestre atual até dezembro, já que o programa do governo para reduzir as contas de serviços públicos para as famílias começará no próximo ano.

Os preços da energia, que dispararam em meio às preocupações de abastecimento causadas pela guerra da Rússia na Ucrânia, estão se estabilizando. A forte depreciação do iene parece estar dando uma trégua após as intervenções no mercado de câmbio por parte das autoridades japonesas e em meio às expectativas do mercado de aumentos menos agressivos das taxas pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA).

“Vale a pena notar que os preços, além de alimentos e de energia, também estão subindo, embora o setor de serviços ainda esteja ficando para trás”, disse Toru Suehiro, economista-chefe da Daiwa Securities.

“A mentalidade dos consumidores pode estar se tornando ‘deflacionária’, apesar da inflação acelerada, uma vez que eles estão buscando produtos de uso diário mais baratos e cortando gastos”, acrescentou.

== Por Maria Rosa / Mundo-Nipo (MN)

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