O governo japonês suspendeu temporariamente as importações de aves vivas, carnes de aves e ovos produzidos no Espírito Santo, devido a um foco da gripe aviária em criação doméstica na cidade capixaba de Serra, no sudeste brasileiro. A medida acendeu um temor no Brasil de que outros países possam acompanhar o Japão.
A suspensão pelo governo japonês teve impacto imediato nas ações dos frigoríficos exportadores na B3. As ações da JBS e BRF, além de sua controladora Marfrig, terminaram a sessão de ontem no vermelho, com investidores “precificando” o risco de possíveis novos embargos.
O anúncio do Japão foi divulgado em comunicado do Ministério da Agricultura, Florestas e Pesca do país, em seu site, citando que o objetivo “é evitar que as aves vivas criadas no Japão sejam infectadas com o vírus e para fins de sanidade alimentar”.
No entanto, o governo japonês informou no texto que o caso de influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) encontrado em um pato no município de Serra teria ocorrido em uma “fazenda”, o que significaria a presença de um foco em uma granja ou local de produção comercial – algo que não aconteceu, já que a ave era de subsistência.
“Acreditamos que pode ter acontecido um equívoco sobre a tradução da informação de que a ave era de criação em quintal. Da maneira que está colocado no texto, a impressão é que os japoneses entenderam que era em uma fazenda, o que pode ter motivado o embargo”, disse ao Valor uma fonte da indústria.
O Código de Saúde de Animais Terrestre da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) determina que os países-membros da entidade não devem suspender o comércio no caso de notificações de gripe aviária que não seja em “poultry”, ou seja, em ave de produção industrial.
Dessa forma, a medida japonesa contraria as orientações da OMSA, “algo que não é comum no mercado global, e mais um motivo que nos leva a crer que pode ter ocorrido um equívoco”, acrescentou a fonte.
O Ministério da Agricultura brasileiro questionou as autoridades japonesas sobre a suspensão. De acordo com o secretário de Defesa Agropecuária da pasta, Carlos Goulart, o entendimento é que a ocorrência de gripe aviária em aves de subsistência não altera o status do Brasil de país livre da doença.
Goulart afirmou ao Valor que o Japão tem um perfil mais conservador que a média mundial, mas que isso não justifica a adoção dessa medida. Como o país asiático é referência em defesa sanitária, o receio brasileiro é que outros parceiros comerciais apliquem embargos a partir da decisão japonesa.
Na mesma linha, a fonte da indústria disse que a atuação do governo foi rápida em entrar em contato com o adido no Japão para prestar esclarecimentos, justamente para minimizar a possibilidade de que demais compradores suspendam compras de aves brasileiras.
O Brasil defende que, em caso de ocorrência da doença em aves comerciais, o bloqueio seja feito por zonas, em um raio de 10 quilômetros do foco, como diz o código da OMSA.
“Desde o final do ano passado, estamos falando com máximo de países importadores possível para que esclareçam e informem sobre adoção da zonificação para que não tenha que fechar mercado e discutir alternativas para a exportação após a ocorrência da doença com o mercado fechado”, disse Goulart.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) lamentou a decisão do país asiático e destacou em nota que o Japão não importa produtos do Espírito Santo. Segundo a entidade, o Estado representa 0,19% do total de frango exportado pelo Brasil, conforme dados de 2022.
Sobre o impacto para os frigoríficos, o analista-sócio da Ajax Asset, Rafael Passos, disse que “entre as empresas de proteína, a gripe aviária ainda representa um risco muito forte” na bolsa. Segundo ele, o temor dos investidores era de que houvesse algum efeito para a exportação, o que se confirmou com a suspensão do Japão, mesmo que ainda não seja grave em termos de volumes.
== Mundo-Nipo (MN)
Com Valor Econômico
Foto: Depositphotos
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