As empresas alemãs que operam na China estão enfrentando um cenário de incertezas quanto ao crescimento da economia chinesa e considerando o Japão como uma alternativa. Uma pesquisa recente conduzida pela Câmara Alemã de Comércio na China revelou que cerca de 83% dessas empresas acreditam que a China está atualmente em uma “trajetória de declínio” econômico.
A pesquisa revelou que cerca de 38% das empresas alemãs estão transferindo suas fábricas da China para o Japão. Já 23% disseram que vão realocar também suas funções de gerenciamento regional. As companhias apontaram estabilidade econômica, política e social como principal argumento para a mudança.
Ao todo, 164 empresas responderam à pesquisa, conduzida pela Câmara Alemã de Comércio e Indústria no Japão (AHK) e pela gigante de contabilidade KPMG na Alemanha.
Embora a maioria dos entrevistados veja essa desaceleração como transitória, esperando uma recuperação econômica chinesa dentro de 1 a 3 anos, o sentimento geral é de cautela. A economia chinesa ainda está se recuperando da pandemia de Covid-19 e enfrentando desafios relacionados à crise imobiliária.
Desafios e preocupações
1. Menos atraente para investimentos estrangeiros: Cerca de 54% das empresas alemãs consideram a China menos atraente para investimentos estrangeiros em comparação com outros mercados. No entanto, muitas delas planejam aumentar seus investimentos no país nos próximos anos para se manterem competitivas no mercado chinês.
2. Concorrência chinesa forte: Com o surgimento de concorrentes chineses robustos, a Câmara Alemã de Comércio tem instado as autoridades chinesas a criar condições justas de competição e medidas para fortalecer a confiança dos investidores. Além disso, 22% das empresas alemãs relataram tratamento desigual em comparação com seus concorrentes locais.
3. Inovação e setor automotivo: Embora apenas 5% dos entrevistados considerem as empresas chinesas como as principais inovadoras em seus setores, 46% preveem que essas empresas se tornarão líderes nos próximos cinco anos. No setor automotivo, 11% das empresas alemãs veem as concorrentes chinesas como inovadoras, com 58% prevendo que elas assumirão a liderança nesse setor no futuro.
Perspectivas futuras
O ano passado foi um choque de realidade para as empresas alemãs na China, que esperavam uma retomada econômica impulsionada pelo crescimento. Agora, elas estão se adaptando a um ambiente mais complexo e competitivo, buscando maneiras de prosperar em meio a desafios e oportunidades. O Japão, por sua vez, emerge como uma alternativa atrativa para essas empresas, oferecendo estabilidade e oportunidades de negócios.
Atrativos do Japão
Martin Schulz, da Unidade de Inteligência de Mercado Global da empresa Fujitsu, diz que há boas razões para as empresas alemãs transferirem “operações sensíveis” para o Japão, um país que por si só carrega muitos pontos a favor.
“O Japão é econômica e politicamente estável, as empresas estão bem conectadas com o resto da Ásia, o que é importante para parcerias, e o país está intimamente integrado às cadeias de suprimentos globais”, afirma Schulz.
Já o presidente no Japão da gigante alemã Bosch, Klaus Meder, diz que tanto a China quanto o Japão têm motivos convincentes para um investimento significativo de tempo e esforços da empresa. Mas ele aponta que, no Japão, “há estabilidade, confiança, o sistema é baseado em regras e a maioria das empresas está satisfeita com seus retornos financeiros”.
Marcus Schürmann, CEO da AHK, que conduziu a pesquisa, afirma que os resultados da pesquisa enfatizam a importância das conexões das empresas com o Japão, “o país industrializado mais antigo da Ásia”, e a tendência crescente de as funções de gerenciamento estarem sediadas ali.
Mais de 90% das companhias que participaram da pesquisa disseram que a estabilidade – tanto econômica e comercial como social – é o principal motivo para estarem no Japão.
Outros motivos apontados pelos entrevistados é a força de trabalho qualificada e a infraestrutura avançada. Um ambiente político estável baseado em princípios democráticos e a proteção legal da propriedade intelectual também foram mencionados como razões importantes para escolherem o Japão.
“As compras e o sourcing regionais podem ser feitos facilmente no Japão, e há muitos participantes globais importantes aqui, o que significa que faz muito sentido que as empresas levem isso em consideração quando estiverem pensando em um local para suas funções de gerenciamento regional”, diz Schürmann.
O Japão também se destaca pelos preços e custos “razoáveis”, afirma ele, destacando que a força de trabalho é qualificada e capacitada, o potencial de receita é positivo e o aumento do uso da robótica e da automação está ajudando a superar os problemas associados ao envelhecimento da população.
“Além disso, os salários no Japão são muito competitivos e estão entre 20% e 30% mais baixos do que na Alemanha, o que torna o Japão mais atraente”, afirma.
As empresas alemãs ainda consideram mais fácil convencer os funcionários a se transferirem para cargos no Japão do que na China porque as condições de vida e o ambiente geral no Japão são mais atraentes, principalmente para famílias com filhos, conclui Schürmann.
== Mundo-Nipo (MN)
Com Deutsche Welle (DW)