O primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, anunciou nesta sexta-feira sua intenção de renunciar ao cargo, já que as crescentes críticas públicas sobre sua resposta à pandemia de Covid-19 e a realização das Olimpíadas, bem como as crescentes dúvidas entre os legisladores do Partido Liberal Democrático (PLD) sobre sua liderança diminuíram suas chances de ganhar um segundo mandato, informou a Kyodo News.
Com a decisão de Suga em não concorrer nas eleições presidenciais do PLD em 29 de setembro, alguns legisladores de alto escalão do partido governista, tais como Fumio Kishida (ex-ministro das Relações Exteriores), Taro Kono (ministro da Vacinação de Covid-19) e Sanae Takaichi (ex-ministra de Assuntos Internos, indicaram intenção de d concorrer ao cargo. A campanha começará em 17 de setembro.
A decisão de Suga, de 72 anos, ocorre no momento em que os legisladores do PLD aumentam as críticas contra sua manobra tática para permanecer no cargo, incluindo a sugestão de demitir Toshihiro Nikai, secretário-geral do partido que o ajudou a garantir o cargo de Suga no ano passado, bem como planos incompletos de convocar uma eleição geral e reorganizar os executivos do partido e o Gabinete.
A corrida à liderança do Partido Liberal Democrático é fundamental, uma vez que o presidente torna-se efetivamente o primeiro-ministro do Japão, já que o partido controla a Câmara dos Representantes, a poderosa Câmara Baixa do Parlamento.
“Decidi me concentrar nas medidas do coronavírus”, disse Suga a repórteres, segundo a Kyodo.
O desenvolvimento ocorreu pouco menos de um ano depois que Suga assumiu o cargo, logo após a saída abrupta de seu antecessor, Shinzo Abe, por motivos de saúde.
Suga disse em uma reunião extraordinária de executivos do PLD, nesta sexta-feira, que cumprirá seu mandato como presidente do partido governista até 30 de setembro.
Suga será o sétimo a entrar em uma lista de primeiros-ministros japoneses, desde o início dos anos 2000, que renunciaram após cerca de um ano no cargo. Mesmo o primeiro mandato de Abe, o líder mais antigo do país, com um total de 3.188 dias no poder, durou apenas um ano entre 2006 e 2007.
Após uma série de derrotas de legisladores do PLD e seus aliados nas eleições – incluindo a eleição para prefeito de Yokohama no mês passado – que destacaram o descontentamento do público com o governo, Suga tem estado cada vez mais sob escrutínio por sua capacidade de liderar o partido e garantir a maioria dos assentos na Câmara após as eleições.
A disputa do PLD, que decidirá o sucessor de Suga, vem antes de uma eleição geral que deve ser realizada no outono, já que o mandato dos membros da Câmara Baixa termina em 21 de outubro.
Reação do mercado financeiro
“Por enquanto, o mercado reagiu positivamente em meio a grandes expectativas por novas contramedidas Covid-19 e políticas econômicas sob um governo diferente, embora o próximo líder do PLD ainda não tenha sido determinado”, disse Masahiro Yamaguchi, chefe de pesquisa de investimentos do SMBC Trust Bank.
A notícia aumentou as esperanças de novas políticas para combater a crise, já que as medidas atuais sob o governo de Suga parecem enfrentar um impasse, disse Yamaguchi.
Corrida à presidência do PLD
O secretário-geral do partido, Nikai, disse que Suga não nomeou um sucessor, portanto, a corrida pela liderança será realizada conforme programado.
Kishida disse que sua intenção de correr ao cargo permaneceu “inalterada” após o anúncio de Suga, enquanto Takaichi disse que “lutará até o fim” pela liderança do PLD.
Enquanto isso, Kono, que já ocupou o cargo de ex-ministro da Defesa (2019-2021), disse que está disposto a concorrer às eleições presidenciais do PLD e planeja anunciar sua candidatura no início da semana que vem, segundo informou a Kyodo uma fonte próxima a Kono, que está na lista de “possíveis futuros primeiros-ministros” nas pesquisas de opinião da mídia.
Outros possíveis candidatos incluem Shigeru Ishiba, ex-ministro da Defesa que também tem uma alta classificação entre os candidatos a primeiro-ministro, Seiko Noda, secretário-geral executivo interino do PLD, e Hakubun Shimomura, presidente do Conselho de Pesquisa de Políticas do PLD.
Queda no índice de aprovação
Suga já havia anunciado sua candidatura a um segundo mandato, mas desistiu do plano em meio à queda do apoio dentro do partido e dos eleitores japoneses, conforme noticiou a Kyodo.
Os índices de aprovação do governo estão em seus níveis mais baixos. Segundo uma pesquisa da Kyodo elaborada em agosto, a taxa de aprovação caiu para 31%, índice mais baixo desde que ele assumiu o cargo em 16 de setembro de 2020.
A queda ocorre, em grande parte, em razão da forma como o governo de Suga enfrentou a pandemia. O Japão começou lenta e tardiamente a sua campanha de vacinação e agora enfrenta uma quinta onda de infecções que vem se agravando rapidamente, enquanto grande parte da população japonesa acredita que os Jogos Olímpicos potencializou a pandemia.
Várias pesquisas feitas tanto em 2020 como neste ano mostraram que a maioria dos japoneses era contra a realização das Olimpíadas, mas Suga manteve-se firme em realizar os Jogos em Tóquio na data programada para este ano, o que potencializou a queda na aprovação de seu governo.
== Mundo-Nipo (MN)
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