Do Mundo-Nipo
Cerca de mil ex-residentes de quatro ilhas que atualmente são administradas pela Rússia ao largo da costa de Hokkaido, no norte do Japão, participaram de uma manifestação na qual pediam que as ilhas fossem devolvidas ao Japão.
A passeata aconteceu em Nemuro, na sexta-feira (7), data em que é celebrado o “Dia dos Territórios do Norte”. Um tratado reconhecendo que as ilhas pertenciam ao Japão havia sido assinado com a Rússia no dia 7 de fevereiro de 1855, de acordo com NHK News.
Harumi Usuda, de 79 anos, é um ex-morador de uma das ilhas, disse aos participantes da manifestação que muitos ex-residentes faleceram sem nunca ter conseguido voltar a sua terra natal, detalhou a NHK.
Ryoichi Miyauchi, representante de uma associação de ex-residentes das ilhas, disse que tem esperanças de que o encontro entre o premiê japonês, Shinzo Abe, e o presidente russo, Vladimir Putin, durante os Jogos Olímpicos de Sochi possa diminuir as animosidades para acabar com o impasse envolvendo as conversações sobre as ilhas.
Sobre a soberania das ilhas
O Japão reivindica a soberania das quatro ilhas que são conhecidas por Ilhas Curilas Meridionais (nordeste de Hokkaido), administradas pela Rússia desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), quando foram invadidas pela então União Soviética.
O governo japonês defende que as ilhas, denominadas Territórios do Norte, são “parte ancestral e inalienável de seu território”, enquanto a Rússia, que as administra, considera “inquestionável” sua soberania sobre elas.
A disputa pelo controle do arquipélago, rico em pesca e recursos minerais, evitou que Tóquio e Moscou assinassem um tratado de paz permanente após o fim da guerra em 1945.
A disputa territorial com a Rússia se agravou em novembro de 2010, quando o então presidente russo, Dmitri Medvedev, realizou uma visita oficial à ilha de Kunashiri, uma das quatro reivindicadas pelo Japão.
Além disso, Tóquio apresentou um protesto formal a Moscou pela visita de Medvedev, já como primeiro-ministro, a uma das ilhas em julho de 2012.
As informações são da Agência Kyodo.
Posição oficial do governo japonês sobre as ilhas em disputa
Mais de seis década se passaram desde o final da II Guerra Mundial, mas o Japão e a Rússia (antiga União Soviética) ainda não concluíram um tratado de paz. A razão para isso se deve a uma questão não resolvida entre os dois países com relação aos Territórios do Norte (as ilhas de Etorofu, Kunashiri, Shikotan e Habomai). Essas quatro ilhas são territórios integrantes do Japão, tendo pertencido de geração a geração ao povo japonês e sem jamais ter pertencido a outros países.
A resolução dessa questão sobre os Territórios do Norte permanece como a principal pendência entre o Japão e a Rússia. Construir uma parceria estratégica entre esses dois países vizinhos ao se resolver a questão do direito sobre essas quatro ilhas e concluir um tratado de paz é do interesse não apenas do Japão, mas também da Rússia.
Em conformidade com o “Plano de Ação Japão-Rússia”, adotado pelos líderes dos dois países em janeiro de 2003, as relações Japão-Rússia vem se desenvolvendo em várias áreas. Contudo, não se pode afirmar que esse nível de progresso é suficiente. Por exemplo, embora o comércio tenha se desenvolvido nos últimos anos, considerando-se o fato do Japão ser uma das principais economias do mundo e a Rússia, seu vizinho, possuir ricos recursos naturais e força tecnológica, deve ser dito que o tamanho desse comércio continua em um nível baixo. Além disso, em vista da situação do norte da Ásia, onde ambos os países estão localizados, construir uma real parceria estratégica entre o Japão e a Rússia, ao se resolver a questão dos Territórios do Norte, poderia contribuir não apenas para os interesses desses países, mas também para a paz e a estabilidade de toda a região.
A “Declaração de Tóquio de 1993” assinada pelos líderes do Japão e da Rússia quando da visita oficial do primeiro presidente da recém-formada Federação Russa, Boris Yeltsin, ao Japão, firmou o princípio comum das negociações para o estabelecimento do tratado de paz. Ou seja, concluindo “um tratado de paz ao se resolver a questão de direito envolvendo as ilhas de Etorofu, Kanashiri, Shikotan e Habomai”. Além disso, esse princípio definiu claros parâmetros para as negociações, estabelecendo que a questão territorial deveria ser resolvida sob a perspectiva de fatos históricos e legais, baseada em documentos nos quais ambas as partes concordaram, e baseada nos princípios da lei e da justiça. Futuras negociações deveriam ser conduzidas em conformidade com esses claros parâmetros estabelecidos pelos dois países.
A posição do Japão é a de que caso o direito sobre os Territórios do Norte sejam confirmados ao Japão, o país está preparado para atuar de maneira flexível com relação à forma e ao tempo do seu retorno de fato. Ademais disso, embora os cidadãos japoneses que viviam nos Territórios do Norte tenham sido forçadamente retirados por Joseph Stalin, o Japão agora deseja forjar um acordo com o Governo da Rússia que garanta aos cidadãos russos que vivem ali não experimentarem semelhante tragédia. Em outras palavras, após o retorno da posse das ilhas ao Japão, o país pretende respeitar os direitos, interesses e desejos dos cidadãos russos que residem nas ilhas.
Texto extraído do site oficial da Embaixada do Japão no Brasil.
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