Da agência EFE
Maribel Izcue.
Tóquio, 16 dez (EFE).- As eleições gerais realizadas neste domingo no Japão reconduziram ao poder o conservador Shinzo Abe, que após uma breve passagem como primeiro-ministro entre 2006 e 2007, volta agora como o “novo velho rosto” do partido que modelou o Japão por mais de meio século.
O Partido Liberal-Democrata (PLD), que esteve no poder entre 1955 e 2009 de forma praticamente ininterrupta, foi o claro vencedor de um pleito que teve uma dura derrota do Partido Democrata (PD), protagonista de um instável período de pouco mais de três anos no governo, com três primeiros-ministros diferentes.
Para muitos, a vitória do PLD é mais fruto da desilusão com o PD do que do entusiasmo com o tradicional partido, o mesmo que levou o país a ser a segunda maior economia mundial – título perdido em 2010 para a China -, mas que depois foi incapaz de acertar seu rumo após a explosão da “bolha”.
Abe, de 58 anos, diz que sua legenda aprendeu com seus erros, mas seus opositores falam de um possível “déjà vu” político que pode marcar a volta do Japão a alguns velhos hábitos como o clientelismo.
O programa de Abe fala em estimular a recuperação econômica com políticas mais agressivas, uma postura mais firme com os conflitos territoriais como o que mantém com a China e a avaliação da opção de manter a energia nuclear apesar do desastre na usina de Fukushima no ano passado.
Considerado um “falcão” em matéria de segurança nacional nas fileiras de seu partido, Shinzo Abe, casado e sem filhos, provém de uma das dinastias políticas mais famosas do Japão.
Seu avô foi o primeiro-ministro Nobusuke Kishi, detido como criminoso de guerra, embora depois desculpado, e seu pai, Shintaro Abe, foi ministro das Relações Exteriores nos governos do carismático Yasuhiro Nakasone nos anos 80.
Formado em Ciências Políticas em 1977 pela Universidade Seikei de Tóquio, Abe completou seus estudos na Universidade do Sul da Califórnia (USC), antes de entrar no mundo laboral em 1979 na siderúrgica Kobe Steel.
Três anos mais tarde, começou a se envolver em assuntos políticos como assessor de seu pai, que pouco depois se tornaria chanceler.
Em 1993, obteve uma cadeira de deputado do PLD pela província de Yamaguchi, e em 2000 começou a trabalhar no governo como porta-voz, cargo que manteve quando Koizumi subiu ao poder, em 2001. Dois anos depois, chegou ao ponto mais alto de seu partido ao ser nomeado secretário-geral graças à proteção de uma das facções mais rígidas e poderosas da legenda.
Abe foi eleito para a câmara baixa japonesa pela quinta vez consecutiva e viu correspondido seu apoio incondicional às reformas de Koizumi com sua continuidade como porta-voz do gabinete, até sucedê-lo em 2006 à frente do governo.
Seu mandato transcorreu com mais baixos do que altos, e sua popularidade afundou em um rastro de escândalos de corrupção entre seus ministros – embora ele mesmo nunca tenha sido diretamente envolvido – e erros de gestão.
Em setembro de 2007, cabisbaixo e com sua liderança enfraquecida, anunciou sua renúncia, dois meses após uma contundente derrota no pleito ao Senado e alegando motivos de saúde.
Para esta eleição, Abe lançou mão de seu discurso conservador e patriótico, mas reduziu a retórica nacionalista com a qual no passado despertou polêmica ao pôr em dúvida, por exemplo, que o Exército Imperial japonês tenha utilizado escravas sexuais na China e na Coreia do Sul.
A vitória deste velho conhecido da cena política japonesa ocorre em um momento de especial tensão com Pequim pelo conflito territorial pelas ilhas Senkaku/Diaoyu, cuja soberania Abe se comprometeu a proteger.
Embora durante seu curto governo entre 2006 e 2007 tenha melhorado as relações com Pequim, agora alguns temem que sua chegada ao poder atrapalhe ainda mais os laços com o gigante chinês, primeiro parceiro comercial de um Japão muito necessitado de manter suas exportações. EFE
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