Japão detém jornalista que pretendia viajar para a Síria

Esta é a primeira vez o governo japonês toma tal ação em prol de proteger a vida de seus cidadãos.

Do Mundo-Nipo

Autoridades em Tóquio proibiram um fotógrafo freelance de viajar para a Síria, onde recentemente militantes do Estado islâmico (EI) aparentemente executaram dois reféns japoneses.

A medida é parte de um movimento do Ministério das Relações Exteriores do Japão, que emitiu um alerta de evacuação para os japoneses na Síria, uma nação em que o grupo extremista Estado Islâmico controla grandes porções do território e tem como alvo os estrangeiros para usar como reféns.

Autoridades ordenaram um fotógrafo freelance, de cerca de 50 anos, a entregar o passaporte depois que este se recusou a cancelar seus planos de viagem. A intenção do jornalista de viajar à Síria foi descoberta após a publicação de uma entrevista que ele concedeu a um jornal local, no qual revelou seus planos.

Esta é a primeira vez o governo japonês toma tal ação em prol de proteger a vida de seus cidadãos.

O primeiro-ministro Shinzo Abe tem tomado resoluções extremas para proteger seus cidadãos do terrorismo desde as recentes execuções dos reféns japoneses por militantes do EI. Kenji Goto, executado no final de janeiro, foi capturado em outubro do ano passado, depois de viajar à Síria para tentar negociar a libertação de Haruna Yukawa, assassinado uma semana antes.

As duas supostas execuções foram gravadas em vídeos publicados na internet pelos militantes. No último vídeo, que exibia a morte do jornalista Goto supostamente decapitado, um militante com forte sotaque britânico falou se dirigindo ao primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, afirmando que o povo japonês seria perseguido.

“Por causa de sua decisão imprudente de tomar parte em uma guerra impossível de ganhar, esta faca irá não apenas matar Kenji, mas também continuar e causar massacre onde quer que seu povo seja encontrado. Que comece o pesadelo para o Japão”.

Apesar das ameaças, Abe tem reiterado sua posição de que o Japão “não se entregará ao terrorismo”. Desde então, seu governo vem tomando medidas extremas para proteger seus cidadãos, além de resoluções para apressar a polêmica mudança da Constituição pacifista do país, adotada desde o fim da Segunda Guerra Mundial, que proíbe o Japão de exercer o chamado direito “autodefesa coletiva”, impedindo assim o país de usar suas forças militares para resolver conflitos internacionais.

Esforços de Shinzo Abe para usar as Forças de Autodefesa em conflitos internacionais
Embora a reinterpretação da Carta Magna, que permite Japão exercer o direito de “autodefesa coletiva”, tenha sido aprovada por unanimidade pelos membros do gabinete em junho do ano passado – em meio a fortes protestos -, ainda precisa passar por aprovações do Parlamento e outros órgãos pertinentes.

A alteração da Constituição é uma vontade antiga de Abe, que em janeiro voltou a aumentar o orçamento para a Defesa – agora na ordem dos 36 bilhões de euros. É a terceira vez consecutiva que se verifica um acréscimo para as verbas do setor.

Se mais meios para as atuais Forças de Autodefesa do Japão revelam a necessidade de marcar uma posição regional – pelas disputas territoriais com a China no que diz respeito, por exemplo, às ilhas Senkaku/Diaoyu, e a ameaça permanente do programa nuclear da Coreia do Norte -, a mudança na Constituição permitiria que o país estivesse envolvido em ações de defesa dos aliados em território estrangeiro. E essa alteração será mais facilmente concretizada com a maioria parlamentar do que com um referendo.

O documento atual impede, por exemplo, que o Japão integre as fileiras da coligação liderada pelos EUA na luta contra o EI, que há seis meses tem bombardeado a Síria e o Iraque.

Ajuda internacional do Japão no combate ao terrorismo
O que Tóquio faz, enquanto aliado dos EUA, importador de petróleo e parte interessada em manter a estabilidade na região, é contribuir com ajuda não-militar aos países que combatem o EI.

O valor dessa contribuição, na ordem dos US$ 200 milhões, foi o mesmo que os terroristas exigiram no dia 20 de janeiro pela libertação dos cidadãos japoneses Haruna Yukawa e Kenji Goto. O EI deu um prazo de 72 horas para o pagamento.

Tóquio não cedeu, mas manteve conversações com dois países-chave na região – Turquia e Jordânia -, mas de pouco serviu. A imagem de Yukawa degolado seria divulgada no dia 24 de janeiro, Goto teria o mesmo destino em vídeo difundido pelo EI uma semana depois. O Japão, em choque, percebeu que fazia oficialmente parte da lista do EI de alvos a abater.

Shinzo Abe garantiu que o país “não cederá ao terrorismo”. Referindo-se aos terroristas, o premiê assegurou ainda que o Japão vai “continuar trabalhando ao lado da comunidade internacional para fazê-los pagar pelos pecados”, anunciando também mais contribuição financeira, além dos US$ 200 milhões que prometeu em ajuda ao Oriente Médio para a causa

Amã promete vingança
Dias depois, o premiê japonês condenaria novo assassinato: o do jordano Moaz al-Kasasbeh, capturado na Síria a 24 de Dezembro durante uma missão da coligação. O vídeo do piloto queimado vivo numa jaula surgiu na última terça-feira. A execução, diferente daquelas que o EI divulga, foi a primeira de um árabe muçulmano.

Amã estava em negociações com o EI desde final de Janeiro. As autoridades jordanianas tinham se mostrado dispostas a trocar al-Kasasbeh pela jihadista iraquiana Sajida al-Rishawi , condenada à morte na Jordânia pela participação em ataques terroristas que mataram mais de 60 pessoas em Amã em 2005. Mas queriam provas de que o piloto estava vivo.

A publicação do vídeo de 22 minutos interrompeu a viagem do Rei Abdullah II aos EUA. Pouco depois foi avançada a informação, pelos jordanianos, de que Moaz al-Kasasbeh teria morrido em 3 de janeiro – muito antes das negociações entre Amã e o EI terem começado. O porta-voz do exército avisou: “A vingança será tão grande quanto a perda dos jordanianos”. Sajida al-Rishawi e o compatriota Ziyad Karboli da al-Qaeda foram enforcados nas primeiras horas da última quarta-feira. Pelo menos mais três terroristas já condenados e presos na Jordânia podem vir a ser executados.

Enquanto já é pública a retirada da coligação dos Emirados Árabes Unidos, Amã cerra fileiras e promete destruir o EI – que por sua vez oferece US$ 20 mil pela morte de cada piloto da Jordânia.

Entretanto, os repetidos assassinatos de reféns civis levantam dúvidas sobre a eficácia da coligação liderada pelos EUA que, mesmo com todo o poderio bélico e tecnológico de que dispõe, ainda não conseguiu ter sucesso numa operação de resgate em território do EI.

Fontes: Agência Kyodo / NHK News / Jornal português Sol.

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