O japonês Nishimura Kodo é uma figura praticamente única, uma vez que ele é monge budista e, ao mesmo tempo, é membro da comunidade LGBTQ. Mediante isso, quando ele dá conselhos sobre tolerância e compaixão, ele o faz a partir de uma perspectiva rara. O mais interessante é que, quando ele não está à serviço do Budismo, quarta maior religião do mundo, Nishimura trabalha como maquiador no mundo da alta-costura, gosta de vestir roupas descontraídas e usar salto alto.
“Ser você mesmo é muito confortável. É uma alegria amar a si mesmo”, disse Nishimura, de 31 anos, em entrevista concedida à Nakagawa Saori, do NHK World, site da emissora pública japonesa NHK.
O controverso monge gosta de usar vestidos desde criança, quando pedia emprestadas as roupas da sua mãe. “Meu ídolo de infância era uma princesa de um filme da Disney”, diz ele.
Ele se lembra do momento em que se sentiu julgado e rotulado pela primeira vez, no colégio, quando ouviu um colega se referindo a ele como gay. “Eu me congelei em estado de choque. Meu coração ficou partido”, diz ele. “Eu não tinha ideia de como me comportar na escola a partir do dia seguinte. Eu não tinha amigos.”
Aceitação
A grande virada na vida do jovem aconteceu quando ele se mudou do Japão para os Estados Unidos, após terminar o ensino médio. Na Parsons School of Design, ele viu todos, incluindo o reitor, professores e alunos, falando abertamente sobre sua sexualidade. Gradativamente, Nishimura aprendeu a falar sobre a própria sexualidade.
“Ver as pessoas vivendo honestamente mudou minha maneira de pensar ao longo do tempo. É totalmente normal viver sem esconder minha sexualidade. Essa é a forte convicção que desenvolvi em Nova York”, diz Nishimura.
Treinando para ser maquiador
Também nos Estados Unidos, Nishimura ganhou experiência como assistente de maquiadora. Ele acabou se tornando um maquiador profissional, e seu talento o levou a alguns eventos importantes, incluindo as finais globais da competição Miss Universo.
Nascido em Tóquio, Nishimura cresceu como filho único de um monge budista e de uma mãe com licença de sacerdote. Seus pais nunca lhe pediram para se tornar monge, e ele certamente não planejava se tornar um.
“Monge nunca esteve na minha lista de empregos dos sonhos. Na verdade, eu odiava a ideia porque não queria raspar minha cabeça”, diz ele.
Mas quando ele retornou brevemente dos Estados Unidos ao Japão, aos 24 anos, mudou de ideia. “Achei que não seria capaz de mudar sem conhecer minhas raízes, que é o Budismo”, diz ele.
Treinando para ser monge
Após dois anos de treinamento rigoroso, Nishimura se tornou um monge e agora combina essa função com sua carreira de maquiador.
Diferentemente de muitas religiões, o Budismo japonês não se opõe ao LGBTQ. Ele ensina que todos são salvos igualmente e que devemos aceitar todas as pessoas.
Tolerância à diversidade
E essa é a mensagem que ele transmite em palestras para aumentar a conscientização sobre as questões LGBTQ.
“Questionar minha própria identidade me ajudou a entender a dor de muitas pessoas (…). A liberdade de ser você mesmo e o entendimento mútuo são a chave para uma vida feliz. Quero que as pessoas em todo o mundo permaneçam fiéis a si mesmas, e lembrem que todos são iguais”, disse ele à Saori na entrevista divulgada em setembro de 2020.
Em outra entrevista, sendo esta concedida ao blog da revista japonesa de cosméticos Cosme Hunt, Nishimura disse que, relutantemente, ingressou no treinamento budista para ser monge, mas temia profundamente que sua sexualidade fosse indesejável e que usar maquiagem pudesse se tornar algo problemático.
“Mas meu mestre me disse que a mensagem de igualdade para todos é o fator mais importante do Budismo”, disse ele.
Meu mestre disse: “Os monges japoneses usam relógios e roupas normais hoje em dia e, portanto, não vejo nenhum problema em você usar algo brilhante”.
“Ele (o mestre) me ensinou que o Budismo aceita todos como são. Não há nada contra a comunidade LGBTQ e todos são iguais”, disse o jovem em tom exultante.
“Raça, sexualidade, status ou idade não tornam ninguém inferior ou superior. Esse conhecimento me trouxe uma nova confiança, bem como a missão de compartilhar a mensagem que me salvou”, ressaltou.
“Preciso espalhar a palavra de que no Budismo ninguém precisa se sentir culpado por ser quem é”, enfatizou o monge na entrevista ao Cosme Hunt.
== Mundo-Nipo (MN)