Da agência EFE
Pequim, 23 jan (EFE).- Dois aposentados chineses, um professor de história e um entregador de água, causaram uma polêmica na internet ao revelar o amor entre eles nas redes sociais e anunciar o casamento, um dos maiores tabus no país.
Os apaixonados mostraram do carinho que sentem um pelo outro e compartilharam em sua conta do weibo – uma espécie de Twitter chinês-, intitulada de “O amor de dois avôs”, mensagens, imagens e vídeos que foram vistos por milhares de pessoas e só com isso, ambos ganharam mais cinco mil seguidores.
Em uma das fotografias postadas na conta é possível ver os dois vestidos com trajes de casamento, enquanto em um vídeo um deles canta a famosa melodia romântica chinesa “A lua representa meu amor”.
“Os que se opõem aos homossexuais não são pessoas normais e muito menos boas pessoas. Por acaso os homossexuais influenciam na sua vida, trabalho ou estudo? Por acaso eles fazem você comer e dormir mal? Na realidade nosso amor não é um erro”, escreve em seu microblog o casal de idosos.
Entrevistados pela imprensa local, ambos, que se identificam entre eles como “pequeno bebê” e “bebê grande”, explicaram que se apaixonaram durante as entregas de garrafas de água que um fazia ao outro.
A história deles, segundo afirmaram, não foi fácil. Poucas pessoas apoiaram o relacionamento, com exceção de alguns amigos, e o filho de um deles deixou de falar com o pai.
Mesmo assim, planejam se casar no final deste mês e prometem compartilhar o casamento na internet para que os internautas de todo o mundo “nos desejem felicidade”.
“Não nos separaremos até a morte”, afirmam no microblog. “Seguiremos juntos, não importa o quanto difícil ou doloroso isso seja”, insistem.
A história de amor entre os dois gerou uma polêmica em um país onde até 2001, os homossexuais eram considerados legalmente doentes mentais e o amor entre casais do mesmo sexo segue sendo um grande tabu.
Desde a década dos anos 50, os homossexuais podiam ser presos, acusados de comportamentos perversos, ou serem submetidos a “tratamentos” que incluíam descargas elétricas e injeção de hormônios.
Durante a Revolução Cultural (1966-1976), os homossexuais foram muito perseguidos, junto com outras “minorias” como intelectuais, professores e religiosos.
Só a partir dos anos 90, com a abertura da China rumo ao exterior e um maior desenvolvimento econômico, as atitudes começaram a mudar e o homossexualismo começou a ser gradualmente mais aceito.
Até hoje proliferam supostos tratamentos e remédios para “curar” o homossexualismo.
Atualmente, calcula-se que na China existam cerca de 30 milhões de homossexuais, 3% da população, e que mais de 16 milhões de mulheres chinesas estão casadas com gays por pressões familiares.
O assessor da associação de homossexuais “Pequim Centro LGTB”, Steven Leonelli louvou, por sua parte, a “extrema coragem” do casal de namorados, “especialmente na cultura chinesa, onde é difícil até para os jovens expressarem sua opção sexual”.
Leonelli considera que o exemplo do docente e do entregador pode servir para que a comunidade e os chineses “saibam mais sobre a diversidade”.
“Eles reconhecem que não é uma opção para todas as pessoas e enfatizam que querem se casar e ter uma vida feliz. É muito importante estudar o que dizem e é bom ter pessoas que falem abertamente sobre sua sexualidade”, acrescentou Leonelli em declarações à Agência Efe.
Seguindo a mesma linha, o sexólogo do hospital Yuquan da Universidade de Tsinghua, Ma Xiaonian, lembrou que “o homossexualismo é algo normal” e que se ambos são solteiros e querem fazer sua vida íntima pública, devem ser respeitados. EFE
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