Bairro sofre com estigma do estupro coletivo que indignou a Índia

O caso gerou uma onda de indignação em todo o país, onde houve manifestações diárias reivindicando mais segurança para as mulheres.

Da agência EFE

Moncho Torres.

Nova Délhi, 26 jan (EFE).- Quatro dos seis envolvidos no estupro que comoveu a Índia viviam em Ravidas, uma favela no sul de Nova Délhi, cujos moradores – estigmatizados pelo crime – tentam superar a tentativa de ataque à casa de dois dos acusados.

“Temos muito medo. Chamamos a polícia e encontraram duas bombas. Não sabemos quem foi”, declara à Agência Efe Asha, cuja casa fica ao lado do pequeno barraco de tijolo e folha de flandres de Ram e Mukesh Singh, alvos do ataque e primos de seu marido.

Ram Singh é o suposto líder do grupo que em 16 de dezembro estuprou e torturou por 40 minutos em um ônibus na capital a estudante de fisioterapia de 23 anos que morreu dias depois devido à gravidade dos ferimentos.

O caso gerou uma onda de indignação em todo o país, onde houve manifestações diárias reivindicando mais segurança para as mulheres e a pena de morte para os acusados, que desde segunda-feira são processados em um tribunal de instância rápida.

“(Quero) que os condenem à morte, digo isso de coração. Fazer isso a alguém é inaceitável. Queremos que os castiguem da pior maneira possível, (…) que os queimem vivos”, desabafa Asha, ao lado de seu barraco em Ravidas.

O tortuoso e colorido bairro exala vida, com o trânsito incessante de pessoas por suas ruas estreitas e limpas, no início da tarde, de crianças e adolescentes com uniforme escolar que retornam do colégio.

“Desfrutávamos de uma vida normal, não tínhamos medo de nada, mas (desde o crime bárbaro) tudo mudou. Eles cometeram os crimes, mas quem paga por eles agora é todo o bairro. Estamos muito preocupados”, afirma outra vizinha que prefere manter o anonimato.

A mulher, que esconde seu rosto com um lenço para não ser reconhecida, conta que no Ano Novo chegou a falar com o menino que tentou colocar os explosivos e que ele disse que o carregava eram “fogos” para a festa.

“Não dormimos, e assim que anoitece começamos a nos preocupar: o que será de nós?”, se pergunta a mulher, mãe de várias crianças em idade escolar, que sofrem agora com as perguntas incisivas de seus colegas sobre os crimes.

No entanto, os aldeões repetem insistentemente que não tinham conhecimento do que aconteceu durante aquele fatídico domingo no qual os seis amigos saíram “para se divertir” no ônibus de vidros pintados em que Ram Singh trabalhava como motorista.

Asha, parente dos irmãos Singh, assegura que até o dia seguinte do estupro coletivo, com a chegada da polícia ao bairro, não soube que haviam cometido um crime.

“Ajudamos a polícia a apanhar a Mukesh, que se encontrava (no estado vizinho de Rajastão) na casa de seus pais”, sentencia Asha, desejosa de limpar o nome dos seus.

Os moradores do lugar são uníssonos na descrição de Ram: um homem problemático, com forte complexo de inferioridade após um acidente em que quebrou os pulsos e que se embriagava com frequência desde a morte de sua esposa.

“O comportamento de Ram sempre era ruim. Discutia com as pessoas, bebia muito e brigava. Mukesh (seu irmão), no entanto, não era tão mau, não costumava brigar com ninguém, mas Ram sempre foi assim”, conta uma vizinha.

Os outros moradores de Ravidas envolvidos nos crimes eram Pawan, um vendedor de frutas que havia se mudado para lá havia um ano, e Vinay Sharma, que trabalhava em um ginásio.

O pai de Vinay afirmava de forma taxativa ao canal de televisão local “NDTV” que se for provado que seu filho é culpado, ele deveria ser “enforcado”.

“Por que teve que andar com essa gente?”, questionava-se. EFE

 

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