Empresas no Japão abrem portas para talentos neurodiversos em TI

Empresas japonesas de TI vem valorizando as diferentes formas como o cérebro funciona, enxergando habilidades únicas de pessoas com autismo, TDAH, dislexia e outros tipos de “deficiência”…
Pessoas com deficiência são maioria em várias empresas de TI no Japão | ©Kyodo Images
Pessoas com deficiência são maioria em várias empresas de TI no Japão | ©Kyodo Images

Em busca de talentos diferenciados e soluções inovadoras, empresas japonesas estão revolucionando o mercado de trabalho ao abraçar o conceito de neurodiversidade. Essa abordagem, que valoriza as diferentes formas como o cérebro funciona, está abrindo portas para pessoas com deficiências mentais e de desenvolvimento, tradicionalmente marginalizadas no mundo corporativo.

Ao invés de ver as diferenças como um problema, essas empresas estão enxergando as habilidades únicas de cada indivíduo. Pessoas com autismo, por exemplo, muitas vezes possuem uma capacidade extraordinária de concentração e atenção aos detalhes, o que as torna excelentes profissionais em áreas como programação e análise de dados.

Um novo olhar sobre o talento

A JGC Parallel Technologies, uma subsidiária da gigante de engenharia JGC Holdings, é um exemplo inspirador. Cerca de 90% dos seus funcionários têm algum tipo de deficiência e atuam em diversas áreas da tecnologia da informação. A empresa oferece um ambiente de trabalho flexível, com tarefas personalizadas e sem pressão por prazos, permitindo que cada funcionário trabalhe no seu próprio ritmo.

“São pessoas que amam TI, então se tornam totalmente imersas nela”, afirma Kenta Awatari, presidente da JGC Parallel Technologies. “Se não houver pressão desnecessária, essas pessoas se destacam”.

O que dizem os funcionários?

Yuki Wakamiya, 28, engenheiro de TI na Ezaki Glico Co. sediada em Osaka, é um exemplo de como a neurodiversidade pode transformar vidas profissionais. Diagnosticado com distimia, um transtorno depressivo persistente, Wakamiya encontrou na Glico um ambiente de trabalho acolhedor e compreensivo.

“Não aceito críticas bem, e quando fico deprimido, isso me arrasta para baixo por um longo tempo. É por isso que não me dei bem na minha empresa anterior, mas agora é muito fácil trabalhar aqui”, relata.

A Glico marcou uma reunião semanal a critério de Wakamiya, onde ele pode consultar seu supervisor. “Engenheiros são tão bons quanto suas habilidades. Embora (Wakiyama) tenha uma deficiência, isso não é um problema porque ele é um engenheiro habilidosso”, diz seu supervisor.

Além da TI: a neurodiversidade transformando outros setores

A neurodiversidade não se limita à área da tecnologia. A transformação digital, que promove a integração de tecnologias digitais em diversos setores, também está se beneficiando da inclusão de talentos neurodiversos.

A Neuro Dive, um escritório de suporte à transição trabalhista para pessoas com deficiências, já colocou mais de 90 pessoas no mercado de trabalho de TI, ajudando-as a desenvolver habilidades altamente especializadas em áreas como inteligência artificial e ciência de dados.

Um futuro mais inclusivo

Embora o conceito de neurodiversidade ainda seja relativamente novo, empresas como a Google e a Microsoft já estão implementando programas de inclusão de pessoas com neurodiversidade em seus quadros de funcionários.

A inclusão dessas pessoas não apenas beneficia os indivíduos, mas também enriquece as empresas, trazendo novas perspectivas e soluções inovadoras.

Recentemente, a gigante da tecnologia Google, lançou recentemente um programa de contratação de pessoas no espectro do autismo. Segundo o site Autismo em Dia, a iniciativa serve de exemplo para outras empresas, tanto as gigantes como as de pequeno porte.

Neurodiversidade no Brasil: desafios e perspectivas

No Brasil, o conceito de neurodiversidade vem ganhando cada vez mais espaço, embora muitos não compreendam sua real importância. Empresas como a Google e a Microsoft já estão implementando programas de inclusão de pessoas com neurodiversidade em seus quadros de funcionários, inspirando outras a seguirem o exemplo.

Desafios

Falta de conscientização: A sociedade em geral ainda possui pouco conhecimento sobre as diferenças neurodiversas e seus potenciais.

Falta de acessibilidade: Muitos ambientes de trabalho não são adaptados para atender às necessidades específicas de pessoas neurodiversas.

Preconceito e estigma: Pessoas com deficiências ainda enfrentam preconceito e discriminação no mercado de trabalho.

Oportunidades

Legislação: A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) garante direitos e obrigações para a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Iniciativas de empresas: Cada vez mais empresas estão desenvolvendo programas de inclusão e diversidade, reconhecendo o valor dos talentos neurodiversos.

Associações e organizações: Existem diversas associações e organizações que atuam na defesa dos direitos das pessoas com deficiência e na promoção da neurodiversidade.

O que podemos aprender com o Japão?

O exemplo do Japão mostra que é possível construir um mercado de trabalho mais inclusivo e justo para todos. Ao investir em treinamento, adaptação de ambientes e mudança de cultura, as empresas brasileiras podem aproveitar o potencial dos talentos neurodiversos e contribuir para um futuro mais promissor para todos.

O que é preciso para que a neurodiversidade seja plenamente implementada no Brasil?

Mais conscientização: É fundamental promover a conscientização sobre a neurodiversidade em todos os níveis da sociedade, desde escolas até empresas.

Adaptação dos ambientes de trabalho: Os ambientes de trabalho precisam ser adaptados para atender às necessidades específicas de cada indivíduo, com o uso de tecnologias assistivas e práticas de trabalho flexíveis.

Políticas públicas efetivas: É preciso fortalecer as políticas públicas que garantam a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Parcerias entre empresas, governo e sociedade civil: A construção de um mercado de trabalho mais inclusivo exige a colaboração de todos os atores envolvidos.

O futuro é promissor

O Brasil possui um grande potencial para se tornar um país mais inclusivo e diverso. Ao investir na neurodiversidade, as empresas brasileiras não apenas contribuem para a construção de um futuro mais justo, mas também se beneficiam da inovação e da criatividade que esses talentos podem trazer.

== Por Maria Rosa / Mundo-Nipo (MN)

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