Atualizado em 25/09/2019
Na versão japonesa da World Series de beisebol, os tacos rachados e fragmentados encontram agora uma nova utilidade como objetos indispensáveis para a vida no Japão, ou seja, os hashis (waribashi), aqueles pauzinhos usados como talheres pelos asiáticos.
A cada temporada, milhares de bastões danificados são reprocessados como “kattobashi” reutilizável, uma mistura da palavra japonesa para os pauzinhos e um hino de beisebol que se traduz como “fazer uma grande jogada”.
A reciclagem faz parte de um esforço de conservação projetado para durar décadas e ajudar a preservar e reabastecer uma espécie de freixo conhecido como aodamo, nativo do Japão e de uma região do leste da Rússia.
A madeira de aodamo – durável, leve, flexível e que não faz lascas – era usada para produzir a maioria dos tacos profissionais locais. No entanto, autoridades do beisebol, empresas de artigos esportivos e conservacionistas dizem que extração do aodamo na Ilha de Hokkaido, no norte do Japão, considerada o ponto ideal para a produção dos tacos, não é mais economicamente viável.
Houve uma época em que estrelas japonesas como Ichiro Suzuki e Hideki Matsui usavam tacos de aodamo. O mesmo acontecia com alguns americanos, como Mike Piazza. Porém, os funcionários florestais não replantaram as árvores na mesma proporção que estavam sendo derrubadas.
Agora, a maioria dos tacos é feita de bordo ou freixo branco, grande parte importada. A Mizuno e a Zett, dois dos principais fabricantes japoneses de artigos esportivos, dizem que não produzem mais tacos do freixo aodamo. A esperança é que, se o projeto de reflorestamento for bem sucedido no próximo meio século, o aodamo volte a ser viável para o beisebol.
Reportagens no jornal financeiro Nikkei e em outras publicações japonesas soaram o alarme sobre a diminuição da disponibilidade de madeira aodamo em 2000. O artigo do Nikkei foi lido por funcionários da empresa Hyozaemon, fundada em 1921, com um escritório em Tóquio e uma fábrica na cidade de Obama. Essa empresa fez hashis de lembrança para a família do ex-presidente americano.
O presidente-executivo da Hyozaemon, Hyogoo Uratani, de 73 anos, jogou beisebol no ensino médio e ficou intrigado. Ele contatou um amigo, Takeo Minatoya, de 81 anos, que foi arremessador profissional do Baleias Taiyo da Liga Central de do Japão e, mais tarde, gerente geral e consultor do time, que agora se chama Yokohama BayStars.
Na época, os tacos quebrados eram em geral doados ou queimados em barris para manter os jogadores aquecidos durante os treinos de primavera, disse Minatoya. A ideia de transformá-los em hashis permitiu que o beisebol japonês “começasse a ter consciência sobre reciclagem”, explicou por meio de um intérprete.
Ajuda financeira para preservação do Aodamo
Ele ajudou a convencer os 12 times das ligas Central e do Pacífico do Japão a participar. A Hyozaemon paga uma taxa de licenciamento para colocar os logotipos das equipes em seus hashis. Por sua vez, o Nippon Professional Baseball, o equivalente japonês da Major League Baseball, faz uma contribuição anual de 3,5 milhões de ienes, ou cerca de US$31 mil, para a organização sem fins lucrativos Aodamo Preservation Social.
O dinheiro está sendo usado para plantar mudas de aodamo em Hokkaido. Outras entidades de beisebol contribuem com 2,5 milhões de ienes, cerca de US$22 mil, para a instituição, enquanto a Hyozaemon contribui com um adicional de 100 mil ienes, cerca de US$900, disse Masayuki Naito, secretário-geral da Preservation Society. Mais de dez mil árvores foram plantadas até agora, segundo ele.
A Hyozaemon afirmou que coleta uma média de dez mil tacos quebrados a cada temporada. Os tacos são recolhidos por um serviço de correio, cujos registros indicam uma coleta de aproximadamente 2.180 tacos em julho, agosto e setembro de ligas profissionais, industriais e de equipes colegiadas que ainda usam madeira, diferentemente das universidades americanas, que usam bastões de metal.
Apenas o cano do bastão é considerado grosso o suficiente para fazer os hashis, enquanto a porção cônica em direção ao cabo pode ser reaproveitada em calçadeiras e cabos para garfos e colheres. As tampas dos tacos podem ser transformadas em copos.
O cano é serrado do cabo, cortado verticalmente em blocos finos e depois lixado por artesãos na forma de pauzinhos. Os logotipos das equipes são impressos e camadas de verniz são aplicadas.
O cano de um taco pode render cinco ou seis pares de hashis, segundo autoridades da Hyozaemon.
*Matéria de Jeré Longman / New York Times – Tradução Mundo-Nipo.com -MN.
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