A dupla japonesa Atsuki Higashiyama e Kohei Adachi foram “laureados” na edição 2016 do Prêmio Ig Nobel, uma paródia do Prêmio Nobel original e dedicada a trabalhos científicos que “fazem rir, depois fazem pensar”. Os dois pesquisadores japoneses “venceram” na categoria “percepção”, por investigar “se as coisas parecem diferentes se você curvar-se e olhar para elas através de suas pernas”.
Concedida por Harvard desde 1991 e dedicado a destacar algumas das pesquisas científicas mais absurdas, e engraçadas, do mundo, os prêmios Ig Nobel foram entregues na noite da última quinta-feira, em um lotado teatro Sanders, na Universidade Harvard, em Cambridge, Massachusetts.
Com o mote de que estes estudos muitas vezes primeiro nos fazem rir, mas depois nos colocam para pensar, a premiação deste ano homenageou os esforços de cientistas que realizaram pesquisas como vestir ratos com calças, analisar as tendências suicidas de libélulas ou a aparente personalidade de rochas, muitos deles presentes na cerimônia, que contou com a participação de laureados com prêmios Nobel reais – Dudley Herschbach (Nobel química em 1986), Eric Maskin (Nobel de economia em 2007), Rich Roberts (Nobel de fisiologia ou medicina de 1993) e Roy Glauber (Nobel de física em 2005).
A surpresa da noite entre os premiados pelas pesquisas, que parecem não ter sentido algum, ficou por conta do vencedor na categoria de química, que foi concedida à fabricante de automóveis Volkswagen.
Foram avaliados cerca de 10 mil cientistas, escolhidos dentre milhares de “descobertas” publicadas em mais de 2.000 revistas científicas para concorrer na 26ª edição do Ig Nobel. Veja abaixo os premiados nas 10 diferentes categorias:
Economia
Mark Avis, Sarah Forbes e Shelagh Ferguson, da Nova Zelândia, por estudarem a percepção que se tem da personalidade das rochas desde a perspectiva de vendas e marketing.
Física
Gábor Horváth, Miklós Blahó, György Kriska, Ramón Hegedüs, Balázs Gerics, Róbert Farkas, Susanne Akesson, Péter Malik e Hansruedi Wildermuth, de diferentes países, por descobrir por que os cavalos brancos são os que atraem menos moscas e por demonstrar que libélulas são muito atraídas por lápides pretas.
Química
Concedido à Volkswagen. Originalmente, a montadora alemã violou a lei de emissões de efeito estufa dos EUA, enganando os testes que indicavam quanta poluição seus carros emitiam. Contudo, a comissão do Ig Nobel disse que o prêmio foi concedido a Volkswagen “por resolver o problema da poluição excessiva gerada por automóveis produzindo menos emissões sempre que os carros são testados”.
Medicina
Da Alemanha, Christoph Helmchen, Carina Palzer, Thomas Münte, Silke Anders e Andreas Sprenger ganharam o prêmio por descobrir que, caso você tenha uma coceira no lado esquerdo do corpo, você pode se livrar usando um espelho e coçando o lado direito – e vice-versa.
Prêmio Reprodução
Concedido ao egípcio Shafik Ahmed (que já morreu) por testar os efeitos do uso de calças de poliéster, algodão ou lã na vida sexual de ratos. Ele depois testou se havia efeitos similares em humanos.
Paz
Os vencedores são do Canadá e dos Estados Unidos: Gordon Pennycook, James Allan Cheyne, Nathaniel Barr, Derek J. Koehler, Jonathan A. Fuglesang. Eles receberam o prêmio por seu estudo “sobre a recepção e detecção da besteira pseudo-profunda”. Entre as inspirações para a pesquisa, segundo a premiação, estão a apresentadora Oprah e o candidato à presidência Donald Trump.
Biologia
Charles Foster recebeu por viver na selva, em momentos diferentes, como um texugo, uma lontra, um veado, uma raposa e um pássaro. E Thomas Thwaltes foi premiado por criar próteses de extensão dos seus membros, que permitiram que ele se movesse e vivesse na companhia de cabras em colinas.
Literatura
O vencedor é Fredrik Sjoberg, que escreveu uma trilogia sobre a coleta de moscas – e o prazer de capturá-las mortas ou vivas.
Psicologia
Evelyne Debey, Maarten De Schryver, Gordon Logan, Kristina Suchotzki e Bruno Verschuere venceram por perguntar a mil mentirosos quantas vezes eles mentiam e se acreditam em suas próprias respostas.
Prêmio percepção
O prêmio foi concedido a Atsuki Higashiyama, professor da Universidade de Ritsumeikan, e a Kohei Adachi, professor da Universidade de Osaka. A dupla japonesa investigou “se as coisas parecem diferentes quando uma pessoa se abaixa e as olha por entre as pernas”. Eles apresentaram os resultados em estudo publicado em 2006 no periódico “Vision Research”.
“Primeiro quero dar uma demonstração”, disse Higashiyama quando recebeu o prêmio, curvando-se em seguida para ver o público através de suas pernas
“Quando o espectador está invertido, os objetos parecem menores do que em uma posição vertical normal”, disse o professor após a demonstração, que contou ainda com alguns participantes da platéia presente no teatro Sanders, com muitos se abaixando para “experimentar a visão das coisas por entre as pernas”.
Contudo, o professor foi “escoltado” para fora do palco depois de ter ultrapassado o tempo estipulado de apresentação e agradecimentos, o que provocou muitos risos do público.
O outro laureado, o professor Adachi, não compareceu à cerimônia, mas agradeceu, em nota, a premiação.
Higashiyama e Adachi foram influenciados pelo trabalho de Herman Von Helmholtz, um cientista alemão que conduziu um estudo de percepção semelhante há mais de 100 anos. Von Helmholtz pesquisou sobre a “mudança na percepção das coisas quando vistas de um ângulo inclinado”.