‘Japão deve manter remorsos pelo passado militarista’, diz Hayao Miyazaki

A declaração aconteceu hoje durante uma coletiva de apresentação do novo curta-metragem do aclamado cineasta japonês.

Do Mundo-Nipo

O mestre japonês da animação Hayao Miyazaki disse em uma rara coletiva de imprensa, concedida nesta segunda-feira (13), que o “Japão deve continuar a nutrir remorsos em relação aos países vizinhos devido ao seu passado militarista”.

“O Japão deve dizer claramente que a guerra foi um erro que provocou enormes danos à população chinesa”, disse Miyazaki nesta segunda-feira, citado pela agência AFP. “Pouco importa a situação política atual, o Japão deve demonstrar os seus remorsos pelo longo período de atividades militares na China, é esse o dever dos políticos mesmo que muitos deles sustentem que se deve esquecer esse passado”, acrescentou.

O objetivo inicial da conferência de imprensa foi a apresentação de um novo curta-metragem do renomado diretor, que será visionada no museu dos estúdios Ghibli, do qual Miyazaki é realizador e fundador.

“Acabo de iniciar um novo anime”, disse Miyazaki a repórteres na coletiva. “É um projeto maravilhoso. Trabalharei com minha equipe de sempre, além de uma nova equipe do mundo da computação gráfica”. Antes dos fãs se empolgarem muito, é preciso dizer que esse novo projeto é um curta-metragem de 10 minutos, que será exibido no Museu Ghibli, no Japão, e contará a história de uma lagarta chamada Boro.

O influente artista, no entanto, aproveitou a coletiva para se antecipar ao primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, que prepara uma declaração para assinalar os 70 anos do fim da Guerra no Pacífico. Abe sugeriu que não vai usar a fórmula das “desculpas sinceras”, usada pelos seus antecessores na parte do discurso em que mencionaram “os países vítimas do imperialismo Japonês durante a Segunda Guerra Mundial.

Na conferência de imprensa no Clube dos Correspondentes Estrangeiros no Japão, Miyazaki, de 74 anos, esclareceu que seu último longa metragem, “Kaze Tachinu” (“Vidas ao Vento“, de 2013), concebido para ser a sua última obra antes da anunciada e controversa aposentadoria, não romanceou a guerra.

O filme relata a história de um engenheiro obstinado, Jiro Horikoshi, que foi o responsável pelo caça-bombardeiro Mitsubishi A6M Zero, o mais emblemático da Força Aérea Japonesa (e dos pilotos kamikaze) e do qual há uma réplica no polêmico Santuário de Yasukuni, dedicado aos japoneses mortos em combate na Segunda Guerra, mas que também celebra militares condenados por crimes de guerra.

Ao ser questionado sobre “qual o significado de sua nacionalidade”,  Miyazaki  respondeu: ”Os japoneses são humanos que querem viver em paz”, disse ele na conferência de imprensa desta segunda-feira.

Miyazaki aproveitou para reafirmar sua oposição à existência da base militar americana de Futenma, em Okinawa. Além disso, ele disse ser contra a decisão do primeiro-ministro Abe de conceder mais espaço de manobra às Forças de Autodefesa do país para intervirem no exterior caso seja necessário ajudar um aliado. “Trata-se de uma posição estúpida, que choca com o caráter pacifista da Constituição do Japão”, afirmou.

Fonte: Jornal Público PT | Agência AFP.

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