Um grupo de pesquisadores japoneses anunciou que teve êxito ao utilizar células-tronco, comumente chamadas de células iPS, desenvolvidas a partir da pele de um macaco para regenerar corações doentes de outros cinco primatas, o que representa um grande passo no emprego das células iPS no auxílio a pacientes com doenças cardíacas.
Publicado esta semana na revista científica Nature, o novo estudo foi liderado pelo pesquisador Yuji Shiba, da Universidade de Shinshu, sediada na província de Nagano, na região central do Japão.
A equipe utilizou as denominadas células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs). Elas são desenvolvidas ao se estimular células maduras, já especializadas – como as da pele – a voltarem ao estado neutro, juvenil, a partir do qual podem dar origem a qualquer outro tipo de célula humana.
Antes do surgimento da técnica iPSC, as células-tronco pluripotentes eram coletadas de embriões humanos, que são destruídos no processo – uma prática controversa.
Há uma terceira categoria de células-tronco, que podem ser diretamente coletadas de seres humanos. Estas células-tronco “adultas” são encontradas dentro de certos órgãos, inclusive o coração, e existem para recompor células danificadas.
Células-tronco adultas do coração já foram usadas em nível experimental para tratar vítimas de ataques cardíacos. E o tratamento com células-tronco embrionárias demonstrou ser promissor no tratamento da insuficiência cardíaca severa.
Mas a equipe de Shiba afirma que seu estudo foi o primeiro a utilizar células iPSCs para consertar um dano cardíaco.
No novo estudo, os testes nos macacos mostraram que as células-tronco injetadas foram rapidamente incorporadas nas áreas danificadas dos corações dos animais e ajudaram o órgão a bater de forma mais vigorosa.
“Ao serem transplantadas, as células musculares do coração (cardiomiócitos) derivadas das células-tronco da pele se integraram eletricamente aos cardiomiócitos dos animais submetidos ao tratamento, melhorando a capacidadede contração do coração danificado, sem nenhum sinal de rejeição do sistema imune”, explicou o professor Shiba.
Ele afirma, no entanto, que a técnica também aumentou a incidência de ritmos cardíacos irregulares. Por isso, segundo Shiba, é preciso realizar novos estudos para determinar se o novo tratamento pode ser considerado seguro o bastante para testes em humanos. “Acredito que podemos controlar essa arritmia pós-transplante”, declarou Shiba.
Estudos anteriores
Cientistas já haviam tentando, em estudos anteriores, tratar sobreviventes de ataques cardíacos retirando células da pele do próprio paciente para convertê-las em cardiomiócitos e auxiliar na recuperação do coração. A vantagem é que as células cardíacas não seriam rejeitadas pelo sistema imune, mas o procedimento é muito longo e caro.
Nova abordagem
No estudo da equipe de Shiba, foi provocado ataques cardíacos em cinco macacos. A equipe então tratou os danos em seus corações com os cardiomiócitos criados a partir das células da pele de um macaco doador.
O doador foi selecionado de acordo com a compatibilidade genética, mas, ainda assim, os macacos que receberam o tratamento precisaram de drogas para impedir que seus organismos rejeitassem as novas células.
Segundo Shiba, os macacos que receberam a injeção de cardiomiócitos produzidos em laboratório tiveram cerca de 16% do tecido danificado do coração substituído. As novas células se misturaram às células saudáveis que restavam no coração e, em 12 semanas, já faziam o órgão bombear o sangue com mais vigor.
Obstáculos
“Ainda temos alguns obstáculos, incluindo o risco de formação de tumores, arritmias, o custo, etc”, enumerou Shiba em declarações colhidas pela agência de notícias AFP.
Apesar disso, Shiba disse que está confiante de que as células cardíacas iPSC serão testadas em humanos “em alguns anos”.
Especialistas que não participaram do estudo consideraram-no um avanço, mas advertiram que há um longo caminho a percorrer.
Japão, pioneiro no estudo com células-tronco
Cientistas japoneses têm sido pioneiros nos estudos com células-tronco, se aprofundado na reprodução de órgãos a partir destas células. Em março, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Osaka, no centro-oeste do Japão, conseguiu reproduzir um coração a partir das células iPS. Segundo eles, o coração demonstrou capacidade de inibir os efeitos adversos de medicações.
Fontes: Jornal Estadão | Agência AFP | Agência Kyodo.
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