BC do Japão desafia tendência global e eleva juros a nível histórico

Diante da inflação persistente e a fraqueza do iene, o canco central japonês aumentou a taxa básica de juros ao maior nível em 30 anos.
Placa do Banco do Japão em Tóquio | Foto: Reprodução/Nikkei Asia
©Nikkei

O Banco do Japão elevou, na sexta-feira (19), a taxa básica de juros para cerca de 0,75%, o nível mais alto registrado em aproximadamente 30 anos. A decisão ocorre em um momento de inflação persistente, enfraquecimento do iene e maior confiança da autoridade monetária na sustentação do crescimento salarial.

O ajuste, aprovado por unanimidade pelo Conselho de Política Monetária, representa o primeiro aumento desde janeiro e sinaliza uma mudança mais clara na condução da política monetária japonesa, tradicionalmente marcada por extrema cautela. Segundo o banco central, a incerteza sobre os impactos econômicos das tarifas mais altas impostas pelos Estados Unidos diminuiu, enquanto a fraqueza da moeda japonesa elevou os riscos inflacionários.

A reação do mercado foi imediata. O rendimento dos títulos do governo japonês com vencimento em dez anos ultrapassou 2,00%, atingindo 2,02%, o maior nível desde fevereiro de 1999. Analistas apontam que o movimento reflete tanto a expectativa de novos aumentos de juros quanto preocupações crescentes com a sustentabilidade fiscal do Japão, cuja dívida pública supera o dobro do tamanho da economia.

Apesar da elevação dos juros, o governador Kazuo Ueda afirmou que as condições monetárias seguem acomodatícias. Em coletiva de imprensa, ele destacou que as taxas de juros reais continuam significativamente baixas, sugerindo que ainda há espaço para novos ajustes caso o cenário inflacionário persista.

Ueda evitou indicar um cronograma para futuras altas, afirmando que o banco avaliará os impactos da decisão atual sobre a economia antes de definir os próximos passos. “Vamos atualizar nossas perspectivas para crescimento, inflação e riscos a cada reunião”, disse, ressaltando que o processo será conduzido com cautela.

A inflação ao consumidor no Japão permanece em 2% ou mais há mais de três anos e meio, impulsionada, em parte, pelos efeitos prolongados da política monetária ultraflexível adotada ao longo da última década. Já a inflação subjacente — que exclui fatores considerados temporários — ainda está abaixo da meta, embora o próprio banco central reconheça que a probabilidade de alcançá-la nos próximos anos esteja aumentando.

Os mercados acompanham atentamente a chamada taxa neutra, estimada entre 1% e 2,5%, patamar em que a política monetária não estimula nem desacelera a economia. Segundo Ueda, a taxa atual ainda está abaixo desse intervalo. “Ainda há um longo caminho até o limite inferior da faixa neutra”, afirmou.

O fortalecimento dos rendimentos dos títulos representa um desafio adicional para o governo da primeira-ministra Sanae Takaichi, defensora histórica da flexibilização monetária e de maiores gastos públicos. Com o aumento dos juros, cresce a pressão sobre o custo do financiamento da dívida pública japonesa.

Embora tenha ressaltado que os rendimentos devem ser determinados pelo mercado, Ueda afirmou que o Banco do Japão poderá atuar com flexibilidade, inclusive por meio de compras de títulos, caso ocorram movimentos considerados excessivos.

A desvalorização do iene também foi tema da reunião. Segundo o governador, vários membros do conselho expressaram preocupação com o impacto do aumento dos custos de importação sobre os preços domésticos. Analistas indicam que uma nova rodada de enfraquecimento da moeda pode levar o banco central a acelerar o ciclo de aperto monetário.

O Japão, assim, segue na contramão de Estados Unidos e Europa, onde os bancos centrais discutem cortes nas taxas de juros. Ainda assim, o nível japonês permanece baixo quando comparado ao do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) e do Banco Central Europeu.

Apesar da percepção inicial de que o governo poderia resistir a uma medida que esfriasse a economia, Takaichi tem demonstrado maior tolerância ao aperto monetário. Recentemente, afirmou que “os métodos específicos de política monetária devem ser deixados a cargo do Banco do Japão”, reforçando a autonomia da instituição.

== Mundo-Nipo (MN)
Fonte: Kyodo


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