Rafaela Silva vence final do judô e dá 1º ouro ao Brasil nos Jogos do Rio

A carioca derrotou todas as rivais por wazari e levou os brasileiros ao delírio com a conquista do ouro.
Rafaela Silva conquista ouro no judo dos Jogos Rio 2016 Foto Reproducao Getty Images
A carioca de 24 anos se agigantou e venceu por wazari a judoca da Mongólia na final (Foto: Reprodução/Getty Images)

A brasileira Rafaela Silva teve uma manhã de glória, vencendo todas as adversárias com wazari (golpe quase perfeito) nesta segunda-feira (8), para conquistar o ouro na categoria feminina até 57kg do judô nos Jogos Olímpicos do Rio.

A carioca de 24 anos enfileirou cinco adversárias e levantou uma contagiante torcida nesta segunda-feira, na Arena Carioca 2, no Parque Olímpico da Barra, para realizar o maior sonho de qualquer atleta no planeta.

Na grande final do peso-leve (até 57kg), a atleta de 1,69m se agigantou e venceu por wazari a judoca da Mongólia Sumiya Dorjsuren, líder do ranking mundial. É o primeiro ouro do Time Brasil na Olimpíada do Rio, e a segunda medalha brasileira, após a prata no tiro esportivo de Felipe Wu, na pistola de 10m.

1ª luta
Bastaram 13 segundos para ela encaixar um golpe de perna quase perfeito que jogou a alemã Miryam Roper para o solo. Wazari da brasileira. Com um nível altíssimo de concentração, Rafa continuou buscando a gola e manga da oponente para liquidar logo a fatura.  Rafaela ganhou todas as nove lutas que disputou com Miryam Roper, que tem 34 anos e é dona de dois bronzes em Campeonatos Mundiais, em 2013 e 2014.

2ª luta
A luta entre Rafaela e a sul-coreana Kim foi iniciada com uma forte briga pela pegada. As duas se respeitaram muito e não davam moleza para que golpes fossem encaixados. Mais forte fisicamente, Rafa acabou conseguindo forçar uma punição da asiática, saindo na frente.

Passados dois minutos, Kim, a vice-líder do ranking mundial, passou a tentar uma nova pegada, mas não demonstrava vontade de lutar. Ótimo para Rafaela que viu a rival ser punida mais uma vez. Nervosa, a asiática deu espaço para que a carioca entrasse um bonito golpe de perna e a projetasse ao solo: wazari para Silva.

Com boa vantagem e um minuto para o fim da luta, Rafaela demonstrou que estava muito bem preparada e fez o tempo passar. A torcida brasileira ajudou em alto e bom som com a contagem regressiva de dez segundos, e vibrou muito com o triunfo de Rafa, que estava nas quartas.

3º luta
Rafaela sabia que precisava se movimentar para encaixar uma boa pegada na húngara Hedvig Karakas, que tem um reflexo rápido. Mais agressiva, a europeia conseguiu forçar uma punição de Rafa. Mas, logo depois, ela devolveu.

Após uma luta parelha nos dois primeiros minutos e nenhuma entrada de golpe, Rafaela tratou de colocar fogo na disputa com a entrada de um potente golpe de perna: wazari para delírio da torcida que empurrava sem parar a atleta da casa.

Restava um minuto, e bastava Rafaela cozinhar a luta. Ela podia, inclusive ser punida mais duas vezes. Nem precisou. Vitória importantíssima, vaga na final e disputa de medalha garantida para a menina da Cidade de Deus.

Semifinal
Como não poderia deixar de ser, a semifinal começou muito tensa. Analisando cada movimentação da adversária, Rafaela e a romena Caprioriu Corina ficaram disputando pegada incessantemente. Qualquer descuido poderia abrir espaço para a entrada de golpe da oponente. Ambas acabaram sendo punidas por falta de combatividade.

Passados os dois primeiros minutos de luta, Rafa começou a tentar se impor. O famoso uchimata (golpe de quadril com uso da perna) quase entrou. A europeia não buscava muito a luta, mas a arbitragem adotou uma postura de não interferir no resultado. A luta foi para o golden score.

Quem fizesse a primeira pontuação estaria na final olímpica. Era hora de lutar com o coração, mas sem esquecer que tinha uma grande oponente do outro lado. Passados 45 segundos, o juiz chegou a dar um yuko para Rafaela, mas ele voltou atrás, irritando a torcida brasileira.

O tempo corria e as duas se esforçavam muito para finalizar a luta. Rafa quase derrubou Caprirou com o seu uchimata. Já tinham passado três minutos. Era hora de derrubar a romena! Rafaela Silva foi lá e fez o serviço. A gringa tentou uma técnica de sacrifício, as duas fizeram muita força e a carioca acabou entrando um potente ouchigari, uma das técnicas mais simples de perna, para conseguir um wazari e se garantir na briga pelo ouro.

Grande final
Rafa entrou no tatame com cara fechada e uma concentração enorme para disputar o ouro com Sumiya Dorjsuren, da Mongólia. Como sempre acontece em lutas envolvendo duas grandes judocas, a disputa pela pegada foi tensa nas primeiras ações. Sem que as atletas entrassem golpes, ambas foram punidas.

Com pouco mais de três minutos para o fim, Rafa encaixou um poderoso golpe de perna e conseguiu um wazari. O juiz pediu ajuda do replay dos árbitros de mesa e poderia ter dado ippon, encerrando o combate. Mas acabou sendo wazari mesmo. Segue a luta.

Rafa seguiu com muita atitude, mas a atleta da Mongólia cresceu. Líder do ranking mundial, Dorjsuren precisa correr atrás no minuto final. Nada tiraria o ouro de Rafa. E o tempo acabou. Ouro para o Brasil. Ouro de Silva.

“Treinei muito, depois de Londres [Olimpíada de 2012], não queria ter aquele sentimento. Depois da minha derrota, todo mundo me criticou, falaram que judô não era para mim, que eu era vergonha para minha família. Agora sou campeã olímpica na minha casa. Neste ciclo olímpico, ninguém treinou mais que eu. Não tive bons resultados nos últimos anos, mas me preparei muito. Sofri muito depois da derrota em Londres, pensei em desistir. Em Londres vivi o pior momento da minha vida, mas pude me recuperar pra essa competição. Eu cheguei a ficar deitada na cama, desisti. Mas eu não podia deixar de representar o meu país”, disse a campeã emocionada em entrevista à TV Globo.

Nascida e criada na famosa favela Cidade de Deus, Rafaela é sinônimo de perseverança e superação. Ela tem agora no currículo um campeonato Mundial e uma Olimpíada, nada mal para uma menina que nasceu numa favela e que quase abandonou o esporte após ser vítima de protestos racistas em mídias sociais há quatro anos.

Fontes: Rio 2016 | Globo Esporte | UOL.

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