Branqueamento dos corais ameaça a biodiversidade no Japão

Cientistas confirmaram que o aumento extraordinário das temperaturas oceânicas está causando estresse massivo nos recifes de coral em quase todo o mundo
Branqueamento de corais nas ilhas de Raja Ampat, na Indonésia | ©Depositphotos
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O planeta Terra está testemunhando um dos maiores eventos de branqueamento de corais já registrados, um fenômeno devastador impulsionado pelo aquecimento global que não poupa nem as águas costeiras do Japão. Cientistas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) e parceiros internacionais, incluindo pesquisadores japoneses, confirmaram que o aumento extraordinário das temperaturas oceânicas está causando estresse massivo nos recifes de coral, levando à perda de algas simbióticas essenciais para a sobrevivência dos corais.

Segundo a Noaa, que é o principal organismo de monitorização de recifes de coral do mundo, pelo menos 54 países e territórios sofreram um branqueamento em massa entre os seus recifes desde fevereiro de 2023, à medida que as mudanças climáticas aquecem as águas superficiais do oceano.

Os recifes de coral, conhecidos como os berços de calcário da vida marinha, são fundamentais para cerca de um quarto das espécies oceânicas em algum momento de seus ciclos de vida. No Japão, onde a pesca e o turismo dependem fortemente da saúde dos recifes, o impacto econômico e ambiental pode ser significativo. O valor econômico global dos recifes de coral é estimado em US$ 2,7 trilhões anualmente, uma riqueza que agora está em risco.

Embora os corais branqueados possam se recuperar, se as temperaturas permanecerem altas por períodos prolongados, a morte dos corais é inevitável. No Japão, onde os recifes de coral são um componente vital tanto para a proteção costeira quanto para a biodiversidade marinha, o branqueamento atual serve como um alarme para a necessidade urgente de ações climáticas.

Este evento de branqueamento global é o quarto de seu tipo, mas espera-se que afete mais recifes do que qualquer outro anterior. Mortes substanciais de corais já foram confirmadas em várias regiões, e o Japão não está imune a esses efeitos. A situação atual reforça a importância de medidas sustentáveis e a redução das emissões de gases de efeito estufa para proteger esses ecossistemas vitais para o futuro.

Grande Barreira de Corais em perigo

Há ainda grande preocupação com a importantíssima Grande Barreira de Corais, localizada ao largo da costa de Queensland, no nordeste da Austrália, que tem sofrido com o branqueamento de corais em massa. O local é o maior organismo vivo da Terra, visível até mesmo do espaço.

O ecossistema de 2.600 km de extensão, com largura variando entre 30 e até 740 quilômetros, compreende milhares de recifes e centenas de ilhas feitas de mais de 600 tipos de corais. A Grande Barreira de Corais é considerada a mais importante do planeta por abrigar uma grande biodiversidade, incluindo muitas espécies vulneráveis ​​ou ameaçadas de extinção, alguns dos quais podem ser consideradas endêmicas para esse tipo de ecossistema.

Previsões obscuras para os recifes coral

As previsões alarmantes dos cientistas do clima tem se concretizado à medida que o planeta se aquece. Apesar de décadas de alertas dos cientistas e promessas dos líderes, as nações estão queimando mais combustíveis fósseis do que nunca e as emissões de gases de efeito estufa seguem aumentando.

Mortes substanciais de corais foram confirmadas em várias partes do planeta, especialmente entre as espécies Acropora cervicornis e Acropora palmata, mas os cientistas dizem que ainda é cedo para estimar qual será a extensão da mortalidade global.

Para determinar um evento global de branqueamento, a Noaa e o grupo de parceiros globais, a Iniciativa Internacional de Recifes de Coral, usam uma combinação de temperaturas da superfície do mar e evidências dos recifes.

De acordo com seus critérios, todos os três oceanos que abrigam recifes de coral —o Pacífico, o Índico e o Atlântico— devem passar por branqueamento dentro de 365 dias, e pelo menos 12% dos recifes em cada oceano devem ser submetidos a temperaturas que causam branqueamento.

Os cientistas ainda estão aprendendo sobre a capacidade dos corais de se adaptarem às mudanças climáticas. Há esforços em andamento para criar corais que tolerem temperaturas mais altas. Em alguns lugares, incluindo Austrália e Japão, os corais parecem estar migrando em direção à região polar, começando a ocupar novos lugares.

Contudo, os próprios pesquisadores dizem que uma variedade de fatores, como a quantidade de luz que penetra na água e a topografia do fundo do mar, tornam essa migração limitada ou improvável em grande parte do mundo.

Além disso, há o problema da acidificação dos oceanos; à medida que a água do mar absorve dióxido de carbono da atmosfera, ela se torna mais ácida, tornando mais difícil para os corais construírem e manterem os recifes.

Esperança para os recifes de coral

Os pesquisadores afirmam veementemente que a situação atual reforça a importância de medidas sustentáveis e a redução das emissões de gases de efeito estufa para proteger esses ecossistemas vitais para o futuro.

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Hoegh-Guldberg, que estudou o impacto das mudanças climáticas nos recifes de coral por mais de três décadas, foi autor de um relatório divulgado em 2018 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas que descobriu que o mundo perderia a grande maioria de seus recifes de coral com 1,5°C de aquecimento, e praticamente todos a 2°C.

As promessas atuais feitas pelas nações colocam a Terra em um caminho para cerca de 2,5°C de aquecimento até 2100.

Ainda assim, Hoegh-Guldberg não perdeu a esperança. Ele diz que o problema não será resolvido se as autoridades continuarem achando que apenas discursos evasivos bastarão, o que é um ledo engano. “Acho que resolveremos o problema se nos levantarmos e lutarmos para resolvê-lo”, disse ele.

== Mundo-Nipo (MN)
Fontes: Yomiuri Japan e Folha

Foto: Depositphotos

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