Atormentado por um escândalo de arrecadação de fundos políticos que envolveu várias divisões do partido governista, Partido Liberal Democrata (PLD), o futuro do primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, está em dúvida para 2024, ano em que será realizada a corrida pela liderança partidária, informou a Kyodo News nesta terça-feira (2).
No entanto, movimentos claros para substituir Kishida como presidente do PLD podem não ser vistos até que o orçamento inicial para o ano fiscal a partir de abril de 2024 seja aprovado no parlamento sob sua administração, com o período intermediário provavelmente sendo usado para buscar um sucessor popular, disseram especialistas políticos, segundo a Kyodo News.
Com o público cada vez mais cansado de escândalos financeiros na política envolvendo grupos dentro do PLD, espera-se que legisladores não afiliados fiquem sob os holofotes como possíveis candidatos à posição de liderança, disseram eles.
No primeiro semestre de 2023, muita atenção foi dada à data em que Kishida dissolveria a Câmara dos Deputados, já que ele aparentemente buscava reforçar sua influência política vencendo uma eleição rápida antes da corrida presidencial do PLD marcada para setembro de 2024.
Os mandatos de quatro anos dos atuais membros da câmara baixa expirarão em outubro de 2025, a menos que um primeiro-ministro dissolva a câmara.
Depois que Kishida foi anfitrião de uma cúpula do G7 em maio, na qual o presidente Lula compareceu, em seu distrito eleitoral de Hiroshima, as especulações sobre uma dissolução aumentaram ainda mais, pois ele ganhou popularidade ao apresentar sua visão de um mundo sem armas nucleares na primeira cidade a ser atingida por uma bomba atômica no mundo.
No entanto, seus índices de aprovação continuaram caindo no final de 2023, em um cenário de crescente frustração do público com a alta dos preços, juntamente com o crescimento insuficiente dos salários e uma série de escândalos envolvendo seu governo e funcionários do PLD.
Um golpe crucial foi a recente revelação de um escândalo sobre fundos secretos envolvendo cinco grandes divisões do PLD, incluindo o quarto maior grupo liderado por Kishida até o início de dezembro, todos supostamente subnotificando a receita de eventos políticos de arrecadação de fundos.
Entre elas, a maior divisão, anteriormente liderada pelo ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, é suspeita de ter reunido centenas de milhões de ienes de receitas de festas de arrecadação de fundos que seus membros levantaram com a venda de ingressos para criar fundos secretos.
Os promotores começaram a investigar o grupo de Abe e outro liderado pelo ex-secretário geral Toshihiro Nikai, sob suspeita de violar a lei de controle de fundos políticos, o que afetou fortemente o PLD e a administração de Kishida.
O índice de aprovação do gabinete de Kishida caiu para uma nova baixa de 22,3% na última pesquisa realizada pela Kyodo News em meados de dezembro, bem abaixo dos 30%, amplamente considerado como o “nível de perigo” para um governo. A taxa de apoio ao PLD também despencou.
Masahiro Iwasaki, professor de ciências políticas da Universidade Nihon, disse que Kishida “não pode fazer nada para mudar o status quo”, e alguns outros analistas concordam que seu baixo apoio popular alimentou as expectativas de que ele deixará o cargo em breve.
No entanto, é improvável que muitos legisladores do partido governista tentem destituir Kishida do cargo de líder do partido, pelo menos até a aprovação do projeto de orçamento, já que, provavelmente, querem obrigá-lo a assumir total responsabilidade pelo escândalo dos fundos, que certamente será investigado no Parlamento.
Se o PLD escolher um novo líder, que seria o próximo primeiro-ministro devido ao seu domínio na Dieta, ele ou ela enfrentaria um interrogatório do campo da oposição sobre o escândalo na próxima sessão parlamentar ordinária de janeiro, prejudicando a nova administração.
Kishida foi convidado pelo presidente estadunidense Joe Biden para ir aos Estados Unidos como convidado de Estado no início de 2024, o que provavelmente será tratado como sua “viagem de formatura”, disse um dos analistas à Kyodo, acrescentando que ele não poderá concorrer na próxima eleição para a liderança do PLD.
Na época da visita de Estado de Kishida aos Estados Unidos, possivelmente em março, as batalhas para se tornar o próximo presidente e primeiro-ministro do PLD devem se intensificar.
O ex-primeiro-ministro Taro Aso, que trabalhou nos bastidores como um “fazedor de reis” para estabelecer o governo de Kishida, tem como objetivo promover o secretário-geral do PLD, Toshimitsu Motegi, um legislador veterano, como líder do partido, disseram fontes próximas a ele, segundo a Kyodo.
Tal desenvolvimento indica que as facções lideradas por Aso e Motegi, dois poderosos grupos no PLD que têm se destacado desde que o governo de Kishida foi lançado em outubro de 2021, abandonaram o primeiro-ministro, disseram os analistas.
Iwasaki, por sua vez, disse que os legisladores não filiados devem desempenhar um papel significativo na formação de um novoPLD no futuro, à luz da percepção negativa do público sobre os escândalos de dinheiro envolvendo os grupos internos do partido no poder.
Tradicionalmente, as divisões do PLD fornecem financiamento eleitoral a seus membros e os recomendam para cargos ministeriais. Os críticos apontaram que os grupos que têm essas funções dentro do partido os levaram a gerar fundos secretos por meio de eventos de arrecadação de fundos e outros meios.
Dada a desconfiança do público em relação aos membros do PLD, que pertencem as divisões, um dos favoritos para se tornar o novo líder do partido é o ex-secretário geral Shigeru Ishiba, um legislador não filiado que ocupa o primeiro lugar como futuro primeiro-ministro em algumas pesquisas de mídia, disse Iwasaki.
Apesar de sua popularidade entre os eleitores, Ishiba tem lutado para obter o apoio dos legisladores governistas, já que ele deixou o partido em uma tentativa de derrubar o então governo liderado pelo PLD em 1993. Desde que retornou em 1997, ele perdeu a corrida presidencial do PLD quatro vezes.
Mas os legisladores poderão apoiar Ishiba como líder para “enfrentar a situação atual e vencer a próxima eleição para a Câmara dos Deputados, independentemente de suas preferências pessoais, com base no modo de pensar do PLD”, que consiste em os membros aderirem ao movimento, disse Iwasaki.
Shinichi Nishikawa, professor de ciências políticas da Universidade Meiji, disse que o próximo premiê pode considerar cuidadosamente o momento de dissolver a Câmara Baixa até que o escândalo dos fundos desapareça, mantendo-se atento ao movimento do bloco de oposição.
“O PLD aguardará até que os partidos de oposição se dividam novamente, embora tenham se unido recentemente em meio ao tremendo escândalo”, disse Nishikawa.
== Mundo-Nipo (MN)
Fontes: Kyodo News JP
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