Do Mundo-Nipo
Um documento oficial liberado este mês chocou os japoneses. O texto diz que entre os anos de 2005 e 2013, foram reportados mais de mil casos de crimes sexuais envolvendo militares americanos no Japão. Uma análise das ocorrências, dentro das bases, revelou inconsistência na punição dos culpados. Dos 244 casos detalhados, dois terços terminaram sem detenção. Dezenas foram punidos apenas com uma carta de repreensão.
“Okinawa corresponde a 1% do arquipélago japonês, mas há 68 anos somos obrigados a aceitar 70% das instalações do Exército americano”, protestou Susumo Inamine, prefeito reeleito de Nago, município no centro da disputa entre a população de Okinawa e os militares americanos estacionados na ilha desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Um acordo entre Japão e Estados Unidos prevê a construção de uma base aérea de fuzileiros navais em Nago, num trecho paradisíaco do litoral, cercado de barreiras de corais.
Inamine se recusa a aceitar o pacto, fazendo da resistência pacífica de Okinawa um dos grandes desafios não só de Abe como da nova celebridade da diplomacia americana, a embaixadora Caroline Kennedy.
Com a reeleição em janeiro de Inamine, que derrotou o candidato de Abe, a população de Okinawa reforçou a campanha contra o que considera discriminação por parte do governo federal.
Além da impunidade envolvendo os inúmeros casos de crimes sexuais cometido por militares americanos, Okinawa sofre também com a criminalidade, barulho incessante de caças, jogos de guerra perigosos e poluição, o que tem alimentado a revolta local contra as bases militares. Enquanto Tóquio e Washington – unidos por uma histórica aliança de defesa – classificam a presença de 25 mil soldados em Okinawa como fator essencial para a paz no Pacífico, principalmente diante de uma China em ascensão, a maioria dos habitantes enxerga um fardo que não quer mais carregar.
A australiana Catherine Fisher, residente no Japão, se juntou aos protestos contra abusos cometidos por oficiais americanos no país (50 mil homens). Segundo uma recente publicação do jornal “O Globo”, em 2002, Catherine Fisher foi estuprada por um marinheiro na província de Kanagawa. Ele não estava em serviço e, portanto, deveria ter sido perseguido pela polícia japonesa. Catherine, no entanto, teve recusado o pedido de ação criminal, mas provou a denúncia num processo civil.
Embora o acusado tenha sido condenado a pagar uma indenização, a australiana afirma que as autoridades japonesas e a Marinha americana permitiram que ele deixasse o Japão. Somente depois de 12 anos é que ela conseguiu que uma corte americana reconhecesse o crime. Venceu, mas não quis o dinheiro. Foi a primeira vez que a Justiça dos EUA condenou um americano por um estupro praticado fora do país.
Ainda de acordo com a publicação do “o Globo”, no mês passado, em sua primeira visita a Okinawa, Caroline Kennedy prometeu promover discussões para reduzir a tensão, mas não mencionou a transferência da base aérea de Futenma, atualmente numa área superpovoada da ilha, para Nago, mais isolada, com 61 mil habitantes.
A mudança foi acertada num acordo de 1996, quando a fúria da população atingiu o auge. Um ano antes, três soldados estupraram uma menina japonesa de 12 anos. Os EUA negociaram a mudança dos fuzileiros navais para Nago, mas o acerto esbarrou nas crescentes manifestações.
A embaixadora foi recebida com protestos, e editoriais nos jornais locais apelando para que lute pela remoção total das bases. Caroline já mostrou que é capaz de ser dura com os japoneses, ao criticar recentemente a matança dos golfinhos em Taiji. Mas Okinawa é considerada estratégica para a política de Barack Obama na Ásia, por sua proximidade da China e da península coreana. O nacionalista Abe também depende da aliança com os americanos para reforçar o poderio militar japonês.
Em referência a tudo isso, Inamine diz: “A questão de Okinawa está ligada ao futuro da democracia no Japão”.
Fonte: Jornal “O Globo” e Agência Kyodo.
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