Shigeru Ishiba vence disputa e será o novo primeiro-ministro do Japão

Ishiba, 67, cientista político, versado em defesa, agricultura e revitalização regional, deve ser nomeado primeiro-ministro próxima terça-feira, substituindo Fumio Kishida.
Shigeru Ishiba, novo primeiro-ministro japonês | ©Kyodo Images
Shigeru Ishiba, novo primeiro-ministro japonês | ©Kyodo Images

O ex-ministro da Defesa, Shigeru Ishiba, venceu a disputa pela presidência do Partido Liberal Democrata (PLD), derrotando a ministra da Segurança Econômica, Sanae Takaichi, no segundo turno da votação realizado nesta sexta-feira (27). De acordo com Kyodo News Japan, o intento garante à Ishiba o cargo de primeiro-ministro na semana que vem, isso porque o PLD lidera a coalizão que controla o Parlamento Japonês.

Em sua quinta candidatura presidencial, Ishiba, que também atuou como secretário-geral do partido, conquistou 215 dos 409 votos válidos emitidos pelos parlamentares do PLD e membros da base, enquanto Takaichi garantiu 194, em uma disputa acirrada com um recorde de nove concorrentes.

Ishiba, de 67 anos, cientista político, versado em defesa, agricultura e revitalização regional, deve ser nomeado primeiro-ministro no parlamento na próxima terça-feira, substituindo Fumio Kishida. O novo líder formará então um Gabinete.

Tanto os legisladores governistas quanto os da oposição estão se preparando para a possibilidade de uma eleição geral antes do final deste ano, embora Ishiba não tenha dado nenhuma dica sobre o momento exato.

Prioridade em restaurar confiança após fortes escândalos

Saindo vitorioso, Ishiba pediu aos membros do PLD que se unissem após a eleição presidencial, observando que o partido, atingido por um escândalo de financiamento político, enfrenta fortes obstáculos.

“Selecionarei pessoas que possam exercer adequadamente sua responsabilidade dentro do nosso partido, do Gabinete e do parlamento para lidar com essa situação grave”, disse Ishiba em uma entrevista coletiva logo após a vitória da eleição.

Dissolução da Câmara

Questionado sobre quando pretende dissolver a Câmara dos Representantes para uma eleição antecipada, Ishiba disse estar ciente da necessidade de buscar um mandato público “o mais rápido possível”, ao mesmo tempo em que enfatizou a importância de debater com os partidos de oposição no parlamento.

Mais tarde, no entanto, Ishiba disse em um programa de TV que é “difícil imaginar” que a dissolução da câmara baixa “aconteceria depois deste ano”.

Eleições nos partidos de coalisão

O partido Komeito, parceiro de coalizão do PLD, terá um novo líder no sábado, e o principal partido de oposição do país, o Partido Democrático Constitucional do Japão, elegeu o ex-primeiro-ministro Yoshihiko Noda como seu chefe no início desta semana.

Noda, que liderou o Japão por mais de um ano, desde 2011, quando o antecessor do CDPJ estava no poder, expressou esperança por debates substanciais com Ishiba, descrevendo-o como alguém que não “vai se intimidar”.

Disputa acirrada

Na eleição dessa sexta-feira, nenhum dos candidatos obteve a maioria absoluta dos 735 votos válidos emitidos pelos legisladores do PLD e membros da base no primeiro turno.

Takaichi ficou em primeiro lugar com 181 votos, seguido por 154 para Ishiba. Shinjiro Koizumi, 43, o candidato mais jovem cujo pai era um popular primeiro-ministro reformista, ficou em terceiro lugar com 136 votos.

A renovação do partido é vista como uma prioridade, já que um escândalo de fundos secretos em facções internas do partido prejudicou a confiança do público no PLD.

Diplomacia, Defesa e economia

As habilidades de liderança de Ishiba serão colocadas à prova, já que o crescimento econômico continua instável em um cenário de custos crescentes que afetam as famílias, enquanto ações provocativas da China, Coreia do Norte e Rússia continuam a representar ameaças à segurança do Japão.

Após a eleição de Ishiba, a China pediu ao Japão que adotasse uma postura política “positiva e racional”, enquanto a Coreia do Sul expressou esperança de manter uma comunicação próxima e continuar melhorando os laços com Tóquio, aproveitando o impulso estabelecido sob Kishida.

Ishiba prevê a criação de uma versão asiática da estrutura de segurança coletiva da OTAN na região, onde as tensões continuam altas entre China e Taiwan, traçando um paralelo com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Embora enfatize a necessidade de que a aliança bilateral Japão-EUA seja sólida, ele também disse que, como primeiro-ministro, buscaria revisar o acordo que define o status das forças americanas estacionadas no Japão.

Ele quer revisar a Constituição que renuncia à guerra para mencionar especificamente as Forças de Autodefesa do país, o que se alinha com o objetivo de longa data do PLD de acabar com o debate interno sobre a constitucionalidade da organização armada.

Permanece a incerteza sobre como ele conduzirá a economia, com as notícias de sua vitória enviando o iene japonês para uma alta acentuada em relação ao dólar. Ele lançou a ideia de impor um imposto mais alto sobre a renda financeira.

Derrota do conservadorismo

Ele assumiu uma posição positiva ao permitir que casais usem sobrenomes diferentes, uma questão controversa que encontrou resistência de membros conservadores como Takaichi, que valorizam as estruturas familiares tradicionais.

Apoiada por conservadores alinhados com o falecido primeiro-ministro Shinzo Abe, conhecido por suas opiniões agressivas, Takaichi, de 63 anos, aspirava se tornar a primeira mulher primeira-ministra do Japão em sua segunda candidatura.

Concorrentes de peso

Os outros concorrentes eram o ex-ministro da segurança econômica Takayuki Kobayashi, 49, o secretário-chefe de gabinete Yoshimasa Hayashi, 63, a ministra das Relações Exteriores Yoko Kamikawa, 71, o ex-ministro da saúde Katsunobu Kato, 68, o ministro digital Taro Kono, 61, e o secretário-geral do PLD Toshimitsu Motegi, 68.

Durante a campanha de 15 dias, a mais longa já registrada, os nove candidatos intensificaram os apelos pela renovação do partido e apresentaram suas visões para o Japão, uma nação que envelhece rapidamente, com baixo potencial de crescimento e um importante aliado dos EUA na Ásia.

O amplo campo de candidatos surgiu quando a maioria das facções do partido se dissolveu. Os grupos tinham exigido anteriormente unidade entre os membros e influenciado seu comportamento de votação.

Alguns candidatos, incluindo Ishiba, abordaram pesos pesados ​​como o ex-primeiro-ministro Taro Aso, que lidera a única facção que decidiu não se dissolver, em aparentes tentativas de última hora de garantir apoio nos bastidores.

Kishida, o impopular

Os líderes do PLD permanecem no cargo por três anos e podem exercer até três mandatos consecutivos. Já o “impopular” Kishida, até então líder do PLD e atual primeiro-ministro, não disputou a reeleição.

O mandato de Kishida foi marcado por escândalos, incluindo doações políticas não documentadas que fizeram a popularidade do partido despencar, e também pela irritação dos eleitores com o aumento dos preços. Essa situação acabou culminando com a decisão de Kishida de deixar o cargo.

== Mundo-Nipo (MN)

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