O ministro japonês dos Transportes, Keiichi Ishii, sugeriu em uma coletiva de imprensa, na sexta-feira (22), que a Mitsubishi teria de avaliar a possibilidade de recompra dos veículos envolvidos na manipulação dos dados sobre eficiência energética, um caso que afeta mais de 625 mil miniveículos fabricados pela montadora, os chamados “kei cars”, e vendidos no Japão.
De acordo com a agência de notícias ‘Kyodo’, a declaração do ministro é em resposta ao escândalo de nível internacional deflagrado pela montadora japonesa Mitsubishi Motors, que admitiu ter manipulado testes para melhorar os resultados de desempenho de quatro modelos de seus miniveículos (que possuem motores inferiores a 660 centímetros cúbicos) comercializados no Japão.
Até agora, o número de veículos afetados chega a 625 mil, mas outros modelos, vendidos no Japão e no exterior, poderão engrossar essa lista.
Fontes disseram à agência ‘Kyodo’ que “o utilitário esportivo RVR e o elétrico i-MiEV também estão entre os modelos que tiveram seus testes manipulados e que não estão em conformidades com os padrões japoneses”.
Inicialmente, a manipulação afetava 625 mil veículos: 157 mil unidades dos modelos ek Wagon e ek Space produzidos pela Mitsubishi desde 2013, e outras 468 mil unidades do Dayz e do Dayz Roox, que são produzidos pela Mitsubishi e comercializados pela Nissan.
Na quinta-feira (21), o Ministério dos Transportes do Japão ordenou inspeções em um dos principais centros de produção da fabricante japonesa, situado em Okazaki, na província de Aichi, região central do Japão. Enquanto isso, na Bolsa de Tóquio, as ações despencaram 40% nos últimos três dias.
De acordo com o jornal ‘Nikkei’, a Mitsubishi Motors informou que planeja cobrir o custo extra de consumo de combustível dos carros afetados, os quais eram menos eficientes do que oficialmente calculado.
Contudo, o governo japonês quer uma compensação melhor para os consumidores, que inclui ressarcimento total do valor pago pelos veículos, o que não seria nada incomum em vista de que a alemã Volkswagen anunciou esta semana que irá recomprar 425 mil de seus carros nos Estados Unidos que continham dispositivo para fraudar dados de emissões de poluentes.
As investigações que estão sendo conduzidas pelo governo japonês, bem como o relatório que será fornecido pela própria Mitsubishi, permitirão conhecer a real dimensão destas falsificações e o total de todos os modelos envolvidos na fraude.
Manipulação de eficiência de veículos
A manipulação dos testes ocorreu por meio de uma modificação da pressão de ar aplicada aos pneus, o que influenciou os dados sobre o consumo de combustível que foram divulgados às autoridades japonesas em relação a quatro modelos de miniveículos (que possuem motores inferiores a 660 cilindradas) comercializados no Japão. Desta forma, esses modelos aparentaram ser mais eficientes no consumo de combustíveis.
Prejuízos
Além dos prejuízos registrados no mercado acionário, que chegam a US3,2 bilhões em três dias, os danos com a imagem da marca deterioraram em vista que ainda se recuperava de outras falhas no passado.
Vários analistas ouvidos pelas agências Reuters e Bloomberg afirmam que este caso é “vergonhoso” e coloca em cheque a própria sobrevivência da marca, que ainda recentemente precisou de dois resgates financeiros por parte de outras empresas do grupo Mitsubishi.
As dificuldades econômicas registradas há pouco mais de uma década começaram a surgir precisamente após outro escândalo no início dos anos de 2000. Na época, foram constatadas falhas “fatais” nos freios, embreagens e tanques de combustível.
O real impacto destas revelações, dizem os especialistas, é ainda incerto. Entre o pagamento de multas ao governo japonês, de indenizações aos clientes afetados e o pagamento de compensações à Nissan, o prejuízo certamente será muito elevado.
Os modelos adulterados pela Mitsubishi, os chamados ‘minicarros’, são muito populares no mercado japonês graças ao baixo custo de manutenção, à eficiência no consumo de combustível e seu tamanho reduzido, além de terem incentivos fiscais.
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