Desabrigados de Fukushima terão menor peso nas eleições gerais do Japão

Milhares de desabrigados de cidado próximo a usina nuclear de Fukushima, chegarão como refugiados às eleições do próximo domingo, nas quais pela primeira vez a maioria não conhece sequer o rosto de seus candidatos.

Da agência EFE

Tóquio, 14 dez (EFE).- Milhares de desabrigados do povoado japonês de Futaba, situado próximo a usina nuclear de Fukushima, chegarão como refugiados às eleições gerais do próximo domingo, nas quais pela primeira vez a maioria não conhece sequer o rosto de seus candidatos.

Como o município foi transformado em um terreno fantasma tomado pela radioatividade, os quase sete mil moradores de Futaba estão há mais de um ano e meio espalhados em refúgios ou casas temporárias em 38 províncias do Japão e, o pior, sem uma previsão de retorno a seus lares.

Este povoado, que virou nômade após o grande tsunami registrado em março de 2011, que desencadeou uma grave crise nuclear, não viveu a tradicional distribuição de cartazes nem os comícios dos candidatos que se apresentam por seu distrito, agora espalhado por todo o país.

Um antigo instituto do povoado de Kazo, em Saitama (ao norte de Tóquio), faz agora as vezes de Prefeitura de Futaba e serve de abrigo para 159 moradores, os quais exigem uma outra moradia temporária.

Neste velho centro escolar, em um canto qualquer, foi colocada uma caixa para receber as cédulas daqueles moradores que queiram votar de forma antecipada, já que nos últimos dias vários candidatos passaram pelo local para apresentar suas propostas aos poucos moradores do lugar.

No entanto, a grande maioria dos eleitores de Futaba vive a centenas de quilômetros de sua Prefeitura temporária e, por isso, não chegaram a sequer ter contato com os ecos da campanha para o próximo pleito, que, por sua vez, decidirá a composição da Câmara Baixa e o novo primeiro-ministro do Japão.

A falta de espaço na maioria dos refúgios impediu a instalação das telas nas quais, por lei, devem ser fixados os cartazes eleitorais para que estejam à vista do público. Portanto, muitos dos eleitores refugiados nem sequer sabem quem são os candidatos.

Um porta-voz de Futaba explicou à Agência Efe que essa cidade tem 5,4 mil eleitores no total, dos quais a grande maioria não tem meios para se aproximar da Prefeitura temporária e depositar sua cédula. Neste caso, a única opção que lhes resta é votar pelo correio, um método que deve ser seguido apenas por 20% dos eleitores.

Para tentar facilitar o voto dos eleitores refugiados, o município de Kazo acabou “emprestando” alguns de seus funcionários a Futaba para ir de porta em porta nos abrigos temporários e estimular os refugiados a votar pelo correio.

“Não espero nada da política, nem tenho nenhum interesse nas eleições”, afirmou um desiludido refugiado à televisão pública “NHK”.

Futaba é apenas um exemplo da perplexidade vivida pelos desabrigados da catástrofe do último ano perante essas eleições legislativas, nas quais os partidos não sabem como chegar aos deslocados com suas propagandas.

O tsunami e a crise nuclear obrigaram mais de 98 mil pessoas a deixarem suas casas em diferentes municípios de Fukushima, sendo que quase 58 mil ainda se encontram fora da província.

“Não queremos que a população perca esta oportunidade de votar. Estamos tentando avisar as pessoas e divulgar mais informações sobre como votar a distância”, declarou à Agência Efe um responsável do comitê eleitoral da província de Fukushima.

Em todo o país, ainda há mais de 321,4 mil deslocados por causa do terremoto de 9 graus que sacudiu o Japão em março de 2011 e que foi seguido de um tsunami que abriu a página mais negra do país desde a Segunda Guerra Mundial.

Pouco mais de 16,2 mil deslocados vivem em casas de parentes ou conhecidos, mas aproximadamente 305 mil continuam em abrigos temporários ou em hospitais, segundo os dados divulgados nesta semana pelo ministério encarregado da reconstrução dos povoados afetados.

Dar um novo impulso à reconstrução das áreas arrasadas é uma das principais promessas dos partidos com vista às eleições de domingo, nas quais as vozes das vítimas do tsunami ainda terão um peso menor. EFE

 

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