Do Mundo-Nipo
Antes do terremoto seguido de tsunami, que devastou parte do nordeste japonês, em março de 2011, a cidade de Rikuzentakata, na província de Iwate, era famosa por sua praia e por seus majestosos pinheiros. Mas, depois de atingida, sua bela paisagem transformou-se num trágico cenário, refletindo um dos maiores desastres naturais ocorridos no Japão. No entanto, apesar de ter sido uma das cidades que mais sofreu com o tsunami, o local se converteu em um polo de “turismo catástrofe”.
Embora a vontade de contemplar as desgraças alheias seja considerada uma atração “mórbida”, muitos buscam compartilhar a dor e encarar o inimaginável.
Entre os 70 mil pinheiros que foram arrancados pela força avassaladora do tsunami, apenas um ficou de pé e acabou se transformando em um símbolo de resiliência, uma característica dos japoneses, que tanto sofreram não só com desastres naturais, mas também vítimas de duas bombas atômicas e, mesmo assim, continuam de pé e orgulhosos por figurar entre os países mais prósperos e desenvolvidos do planeta.
O “pinheiro milagroso” de 250 anos, símbolo de vida e de esperança, no entanto, acabou morrendo devido a corrosão da água marinha. Mas um investimento de cerca de 150 milhões de ienes (1,6 milhão de dólares) foram gastos em sua recuperação, dinheiro obtido a partir de doações no Japão e no exterior. O processo de restauração foi seguido atentamente por meios de comunicação de todo o mundo, e o tronco embalsamado se converteu em um totem contra o esquecimento. Atualmente, o “pinheiro milagroso” é um dos principais atrativos de Rikuzentakata.
“Era a árvore mais alta de todas, com 27 metros”, afirmou Mitsuko Morinaga, um guia voluntário de 62 anos que leva os turistas pela cidade ainda desfigurada pela fúria do tsunami, de acordo com a Agence France Press (AFP).
“Queria impedir que a lembrança do desastre se apagasse”, disse o agente de viagem Shuichi Matsuda à AFP.
Na excursão de Matsuda, o ônibus para na frente de um pequeno altar, erguido em memória dos quase dois mil que morreram pela violência do gigantesco tsunami, onde cada visitante deixa uma flor, já incluída no valor do passeio.
Os turistas não demonstram nenhuma fascinação doentia. Parecem, principalmente, impactados pelo panorama da devastação e tentam expressar, quando são interrogados, o espanto pela quantidade de vidas perdidas.
Desgastados por sentirem que o turismo é motivado por uma curiosidade “mórbida”, residentes de um bairro reconstruído obtiveram a proibição deste tipo de excursões.
Cartazes hostilizando os visitantes podem ser vistos em alguns pontos da cidade. Em um cruzamento, um deles afirma: “Turistas, se envergonhem. Sigam seu caminho. Estão pagando por minha dor. Aqui morreram 1,6 mil pessoas”.
A cidade de Rikuzentakata possui algumas agências de turismo e, apesar da hostilidade de alguns residentes, elas têm ajudado, fornecendo receitas para o trabalho de reconstrução da cidade. O comerciante Akira Oikawa é ciente disso, pois está sendo ajudado pelos turistas que compram seu peixe, algas e outros produtos marinhos.
“Agradecemos que venham e comprem produtos locais”, afirmou o vendedor à agência, mas acrescentou a dor que sente quando os visitantes perguntam quantas pessoas morreram no local.
Estima-se que mais de 1,7 mil pessoas morreram em Rikuzentakata depois que foi tragada pelo tsunami de cerca de até 13 metros de altura, na tarde de 11 de março de 2011.
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