Diante de um cenário global automotivo em constante transformação, as gigantes japonesas Honda Motor e Nissan Motor consideram uma fusão estratégica com foco no desenvolvimento de veículos elétricos (VEs). A colaboração visa otimizar recursos e impulsionar a competitividade em um mercado em rápida expansão. A informação foi divulgada pela Kyodo News nesta quinta-feira (19).
As duas montadoras, segunda e terceira maiores do Japão em volume de vendas, iniciaram negociações para uma possível fusão sob uma holding, segundo fontes familiarizadas com o assunto e noticiada pela Kyodo. A iniciativa, que pode resultar na terceira maior aliança automotiva global, atrás apenas dos grupos Toyota e Volkswagen, surge após um acordo firmado em março entre as empresas para estudar a viabilidade de uma parceria estratégica na produção de VEs e tecnologias de software. O objetivo central é competir de forma mais eficaz com rivais estrangeiros como Tesla e BYD.
A reestruturação das operações na China também se apresenta como um ponto crucial para ambas as companhias. Em um mercado altamente competitivo, dominado por empresas locais como a BYD, que oferecem veículos elétricos a preços mais acessíveis, Honda e Nissan buscam reverter o declínio nas vendas.
O aumento dos custos em pesquisa e desenvolvimento, não só para veículos de emissão zero, mas também para tecnologias avançadas como veículos autônomos, conectados e compartilhados, tem impactado as estratégias das montadoras, limitando o lançamento de novos modelos de VEs. Essa dificuldade não se restringe às empresas japonesas, afetando diversas outras montadoras globais.
Conforme aponta Jin Tang, pesquisador sênior do Mizuho Bank, em declaração à Kyodo, “É hora de acelerar o desenvolvimento de veículos elétricos em vez de desacelerá-lo”. A projeção da empresa de pesquisa Fuji Keizai Group indica um crescimento expressivo nas vendas globais de VEs, com um aumento de 5,7 vezes em relação a 2023, atingindo 57,13 milhões de unidades em 2040.
Em resposta à queda nas vendas, a Honda tem simplificado suas operações produtivas na China, planejando reduzir sua capacidade anual em 290.000 veículos. A Nissan, por sua vez, fechou uma de suas fábricas no país no início deste ano. A concorrência acirrada das montadoras chinesas, que oferecem VEs a preços competitivos nos mercados do Sudeste Asiático, historicamente dominados por marcas japonesas, agrava ainda mais o cenário.
A necessidade de uma parceria mais robusta se mostra ainda mais premente para a Nissan, que passa por uma reformulação em suas operações globais, incluindo o corte de 9.000 postos de trabalho e redução de 20% na capacidade produtiva, após uma queda superior a 90% no lucro líquido no primeiro semestre.
Analistas apontam que a nova aliança possibilitaria às duas empresas alcançar economias de escala significativas através do compartilhamento de peças, aceleração do desenvolvimento e redução de custos por meio de esforços conjuntos. A possível inclusão da Mitsubishi Motors, atual parceira da Nissan, na aliança poderia gerar sinergias ainda maiores. As três empresas já declararam que estão “considerando várias possibilidades para colaboração futura, mas nenhuma decisão foi tomada”.
Além do foco em VEs, o setor automotivo enfrenta um período de maior incerteza. A expectativa de alterações nas políticas comerciais dos Estados Unidos após a transição governamental em 20 janeiro, com possíveis impactos nas tarifas de importação, adiciona um novo desafio para as montadoras. O mercado americano representa o principal destino das exportações de Honda e Nissan, tornando-as particularmente sensíveis a essas mudanças.
== Mundo-Nipo (MN)
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