Atualizado em 24/09/2023
O crisântemo é a flor nacional do Japão e símbolo da Família Imperial. Ela reflete um simbolismo fértil de significados culturais japoneses e muitas são as histórias sobre a flor de crisântemo, e sua maioria é contada desde tempos antigos.
Com admirável habilidade de artistas japoneses, pinturas mitológicas de barcos, castelos, pontes e vários outros objetos foram desenhados a partir dessa flor. Muitos desses artistas foram eternizados por especializar-se em pintar gravuras de crisântemo como principal tema.
A flor de crisântemo tem grande destaque no Japão, sendo mais “importante” que popularíssima flor de cerejeira. Essa importância ocorre em razão de o crisântemo figurar como símbolo do brasão da Casa Imperial Japonesa desde tempos idos, dando apropriadamente o nome do trono japonês de o Trono do Crisântemo.
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A fama do crisântemo potencializou depois de 1859, quando surgiu a necessidade de criar uma bandeira japonesa, época em que o país adotou apenas o estandarte do sol.
No entanto, um simples círculo sem raios não era o suficiente e executou-se então um desenho mais elaborado com o “Crisântemo de dezesseis pétalas”, um simbolismo apropriado ao padrão Imperial.
Simbolismo
Mediante isso, essa flor de vasto simbolismo – tanto na cultura como na própria história japonesa – ganhou atenção especial de um vasto número de escritores e, consequentemente, publicações de livros, contos e romances no decorrer dos séculos. Muitos contos, no entanto, foram transformados em lendas e interpretados como mitos, já que alguns mesclam fantasia com a história real do Japão.
Lendas
Um dos contos, ou lenda, mais famosos sobre essa flor chama-se “Dama Branca e Dama Amarela”. A história narra sobre duas flores de crisântemo que se distinguem pela personalidade, aparência e cor. As duas, no entanto, são amigas desde o início de suas existências, mas acabam separadas por destinos diferentes.
Dama Branca e Dama Amarela
Contam que, em tempos idos, cresciam lado a lado em uma campina um crisântemo branco e outro amarelo. Eram, na verdade, “duas” crisântemos praticamente irmãs de tão amigas. Passavam o dia conversando e apreciando a bela paisagem da planície onde nasceram.
Certo dia, um velho jardineiro as viu e se apaixonou pela Dama Amarela. O velho disse que se a flor quisesse acompanhá-lo, ele a faria mais bela do que já era. O jardineiro ainda argumentou que lhe daria comida delicada e lindas roupas.
A Dama Amarela sentiu-se tão atraída pelo que o velho jardineiro lhe prometia que se esqueceu de sua irmã branca, consentindo em ser desenterrada e carregada nos braços para ser plantada no jardim de seu dono.
Depois que a Dama Amarela partiu, a Dama Branca chorou amargamente. Sua beleza singela havia sido desprezada e, pior que isso, viu-se forçada a permanecer sozinha no campo, sem ter mais a irmã, a quem era devotada a conversar.
Dia após dia mais bela ficava a Dama Amarela no jardim de seu senhor. Ninguém reconheceria agora a simples flor amarela do campo. Porém, embora suas pétalas fossem longas e curvas, e suas folhas limpas e tão bem cuidadas, ela às vezes se lembrava de sua irmã branca que ficou sozinha na campina e imaginava o que estaria fazendo para que suas longas e solitárias horas passassem.
Crisântemo perfeito
Certo dia, um capitão do vilarejo foi ao jardim do velho jardineiro à procura de um crisântemo perfeito para ser desenhado no elmo de seu senhor. Informou que não desejava um belo crisântemo com muitas e longas pétalas. Queria um simples crisântemo branco de dezesseis pétalas. O velho jardineiro mostrou ao capitão a Dama Amarela, mas ele não gostou da flor e agradeceu, partindo em seguida.
No caminho de casa, atravessou um campo onde viu a Dama Branca chorando. Ela contou a triste história de sua solidão ao capitão. Então ele contou que havia visto a Dama Amarela e disse-lhe que ela não era nem metade tão bela quanto à branca flor que tinha diante dos olhos.
Ante essas palavras animadoras, a Dama Branca parou de chorar e quase arrancou seus pezinhos ao pular de alegria quando esse bom homem afirmou que a queria para o elmo de seu senhor.
No instante seguinte a Dama Branca, felicíssima, estava sendo transportada em um palanquim. Ao chegar no palácio do Daimyo, todos elogiaram, sinceramente, sua admirável perfeição de forma.
Beleza singela
Por conta de sua beleza singela, a Dama Branca foi modelo para os grandes artistas contratados pelo Daimyo. Eles vieram de longe e de perto, sentaram-se junto dela e a esboçaram com admirável perícia.
Depois de ser retratada por todos os ângulos, ela não precisou mais de espelho para se mirar, pois havia sua bela face branca presente em todos os mais preciosos bens do Daimyo.
A Dama Branca, além de figurar na armadura do Daimyo, bem como em todo equipamento de guerra de seus guerreiros, também foi retratada em seus estojos de laca e de prata, em seus travesseiros, colchas e mantos, até mesmo em vasos de porcelana, tapetes e em todas a mobília do castelo do Daimyo.
Olhando para cima, podia ver o rosto da Dama Branca entalhado em grandes painéis. Foi pintada de todas as maneiras possíveis, até boiando sobre a correnteza.
Todo mundo concordava em que a Dama Branca, com suas pétalas de tamanho perfeito, representava o mais belo elmo, bem como o mais imponente punho de espada em todo o Japão.
Enquanto a face feliz da Dama Branca era perpetuada nos bens do Daimyo, a face da Dama Amarela só transpirava tristeza. Havia florescido por si, sozinha, e sorvido os elogios dos visitantes com a mesma avidez com que bebia o orvalho sobre suas pétalas primorosamente curvas.
A morte da Dama Amarela
No entanto, em certo dia, ela sentiu uma rigidez nos membros e percebeu o fim da exuberância de sua existência. A antiga cabeça amarela outrora orgulhosa pendeu para o lado e, quando o velho jardineiro a viu, arrancou-a do canteiro e a jogou em um amontoado de lixo.
Por Maria Rosa (artigo criado originalmente em 2008)
Fontes principais de pesquisa
• Livro Mitos e lendas do Japão
• Livro Japan – Dictionary Culture and Civilization
• Livro História da cultura japonesa
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