Atualizado em 17/08/2023
No Japão, as flores carregam grande simbolismo, principalmente a cerejeira e o crisântemo, que são flores símbolos nacionais do país. Mas essa predileção não quer dizer que outras espécies de flores tenham menos importância, isso porque os japoneses guardam significados diferentes em cada flor. Para eles, as flores são um presente tradicional, tanto para homens e mulheres, geralmente usadas para transmitir o que não pode ser falado.
“As flores têm o poder de invocar poderosas emoções no pensamento e coração dos japoneses”, diz um trecho do livro História da Cultura Japonesa.
Embora a peônia não figure entre as flores mais veneradas no Japão, conforme a cerejeira (sakura) e a ameixeira (ume) citadas acima, ela carrega uma forte simbologia na cultura japonesa, na qual representa a beleza, a tolerância e a longevidade.
A peônia é uma flor vibrante, perfumada e resistente, com uma longa história no Japão, onde tem sido motivo de inspiração para pinturas, gravuras e poemas desde os tempos antigos. Dizem que as primeiras peônias foram cultivados na China há mais de 2.000 anos e, posteriormente, levadas ao Japão por monges budistas.
Aos longo dos séculos, a peônia inspirou artistas em todo o Japão, onde várias ilustrações, xilogravuras, pinturas em cerâmicas, entre outras formas artísticas dessa flor, remontam do Período Yamato (250-710).
Além de figurar na arte japonesa, a peônia também está presente no folclore japonês, onde há vastos contos envolvendo esta bela flor. Veja, abaixo, uma das mais populares lendas sobre a peônia.
Princesa Aya e o espírito da peônia
Ficou combinado que a Princesa Aya se casaria com o segundo filho do Senhor Ako. Tais arranjos, de acordo com o costume japonês, eram decididos sem o consentimento ou aprovação das partes em questão.
Tomada por sentimentos conflitantes em relação ao seu desconhecido futuro marido, a Princesa Aya, andava no grande jardim de sua casa em companhia de suas servas. A lua iluminava radiante seu canteiro favorito de peônias que ficava junto ao lago, cobrindo as flores com tom de prata. Ali ela ficou por muito tempo, questionando se a vida depois de casada lhe reservava a mesma felicidade que marcara sua vida naquele lindo jardim.
A princesa então se curvou para sentir o perfume das peônias quando escorregou. Teria caído se um belo jovem, envergando um manto bordado com peônias, não a houvesse amparado. Desapareceu depois, tão rápida e misteriosamente, antes mesmo da princesa ter tido tempo de agradecer.
Acontece que logo depois desse dia, a Princesa Aya ficou muito doente e seu casamento teve que ser adiado. Não havia médico ou remédio capaz de curar a princesa que ardia em febre.
Aflito, o pai da princesa então perguntou à criada favorita da filha se ela poderia lançar luz sobre o motivo da enfermidade que a princesa fora acometida.
Sadayo, embora abrigada a guardar segredo, achou mais sábio e realmente essencial revelar tudo que sabia. Contou então que a princesa estava profundamente apaixonada por um suposto Samurai que usava roupa bordada com peônias, e acrescentou que, se ele não fosse encontrado, sua jovem senhora poderia morrer.
Certa noite, enquanto um músico tocava a biwa (instrumento tradicional japonês), na esperança de entreter a princesa, mais uma vez apareceu, por de trás das peônias, o mesmo jovem trajando a mesma roupa de seda bordada com lindas peônias.
Na noite seguinte, o jovem apareceu novamente enquanto Yae e Yakumo tocavam flauta e Kato (instrumento tradicional japonês).
O pai então resolveu tomar pulso da situação. Pediu ao leal Maki Hiogo que se vestisse de preto e esperasse escondido no canteiro das peônias.
Ao chegar a noite, assim que Yae e Yakumo começaram a tocar uma doce melodia, o misterioso jovem apareceu. Maki Hiogo então saiu de seu esconderijo e agarrou o estranho visitante, quando então, de repente, uma nuvem pareceu emanar do prisioneiro. Maki Hiogo ficou atordoado e caiu ao chão ainda agarrando o belo jovem.
Assim que os guardas chegaram para ajudar, Maki Hiogo recobrou a consciência e esperava ver o cativo que agarrara. Mas tudo que tinha nos braços era uma “grande peônia”.
Quando a princesa e o pai chegaram ao local, encontraram apenas um grupo de súditos espantados. Depois de ouvir a narração de seus servos, o pai então compreendeu imediatamente o que acontecera.
“Vejo que o espírito da peônia, há pouco e em outras ocasiões, assumiu a forma de um jovem e belo samurai. Minha filha, pegue essa flor e cuide dela com todo o seu amor”, disse o pai.
A Princesa Aya imediatamente retornou ao seu quarto, pôs a peônia em um lindo jarro e o colocou ao lado da cabeceira de sua cama. A cada dia que passava, a princesa ficava melhor e a flor cada vez mais bela.
Assim que a princesa ficou totalmente curada, o Senhor Ako levou o jovem com o qual ela deveria se casar.
Depois de certo tempo, as bodas se realizaram, momento em que, ao sentir que sua presença não era mais necessária para a princesa ser feliz, a peônia transformou-se em nuvem e dissolveu no ar.
Por Maria Rosa
Fontes principais de pesquisa:
Livro: Myths and Legends of Japan / Autor F. Hadland Davis
Livro: História da cultura japonesa / Autor: J. Yamashiro
Nota: A matéria foi publicada originalmente em 10/02/2014 no Mundo-Nipo, e republicada em 24/01/2021 em razão de problemas técnicos no servidor.
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