Atualizado em 01/05/2023
No Japão, sennin eremita quer dizer ermitão, um ser extremamente sábio e que geralmente se isola nas montanhas. Dizem que a existência de ermitões era muito comum no Japão antigo, e sua rara presença motivava respeito e reverência.
Segundo a crença japonesa, trata-se de pessoas sagradas, que destinam toda uma vida ao aprendizado, reclusão e meditação, por isso possuem grande sabedoria.
Já no folclore japonês, há relatos de que todos os sennins são imortais e adeptos da magia, mas estes são os “sennis místicos”, surgidos do imaginário popular a partir da vida enigmática envolvendo esses sábios ermitões.
O primeiro grande sennin eremita japonês foi Yosho, nascido em Norto no ano 870 d.C.. Pouco antes de seu nascimento, a mãe sonhou que havia engolido o sol, sonho que profetizou o poder natural que o filho teria.
Yosho foi uma pessoa estudiosa e devota que passava seus dias estudando o “Lótus da Lei”. Vivia com grande simplicidade e chegou a reduzir sua dieta a um único pequeno grão de milho por dia. Deixou este mundo no ano 901 d.C..
Antes de morrer, Yosho depositou seu manto pendurado em um galho de árvore juntamente com um pergaminho que dizia: “Lego meu manto para Emmei de Dogen-ji”. No devido tempo, Emmei tornou-se um sennin e, como seu mestre, pode realizar maravilhas.
O pai de Yosho, logo depois de seu falecimento, adoeceu gravemente e pediu que lhe fosse concedido ver o filho mais uma vez. Em resposta as suas preces, ouviu-se a voz de Yosho recitando o “Lótus da Lei”, findado a prece, ele disse uma prece ao pai, que estava perplexo e feliz com a aparição do filho.
“Se me oferecerem flores e queimarem incenso todo mês no dia dezoito, meu espírito virá para saudá-lo, atraído pelo perfume das flores e pela fumaça azul do incenso”.
Sennins místicos reais
Sennins adeptos da magia são narrados no livro Kojiki (Registro das Coisas Antigas), o livro mais antigo sobre a cultura do Japão, datado de 712. O livro possui um conteúdo fantasioso e usado mais propriamente como referência principal da mitologia japonesa.
Contudo, sennins com poderes mágicos são citados como “reais” no Nihongi ou Nihonshoki (Crônicas do Japão), datado de 720. Seu conteúdo abrange praticamente todas as histórias sobre a mitologia e o folclore contidos no Kojiki. Mas o livro também relata eventos históricos “reais” do Japão até o século VIII, e é nele que a casta Imperial do Japão baseia sua descendência.
Porém, a passagem de sennins místicos no Nihongi é relatada como parte da história japonesa, de forma a afirmar que alguns desses seres realmente existiram.
Sennin na arte tradicional japonesa
Desde os tempos antigos, poetas, escritores e artistas, de modo geral, têm se inspirado nesse “personagem” enigmático. Existe ainda uma enormidade de livros dedicados aos sennins, tanto sobre sua “historia real” como em romances e aventuras fantasiosas.
Dramaturgos antigos também se inspiraram no miticismo envolvendo os sennins para criar peças de teatro, sendo que o personagem figura como tema em obras nos quatro principais tipos do teatro tradicional japonês.
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Uma grande variedade de sennins tem sido representada em gravuras, pinturas e pergaminhos desde o Japão antigo. Sua popularidade, no entanto, foi impulsionada por volta de 1800, quando o lendário artista Utagawa Kuniyoshi ilustrou um conto em quadrinhos periódicos denominado “O Sennin Jiraiya”. A forma como era narrado, a ilustração bem detalhada e o tempo de tiragem, que era mensal, fez desse conto uma espécie de protótipo do que conhecemos hoje como o popularíssimo mangá (desenhos em quadrinhos japoneses).
Sennin na cultura popular japonesa
O interesse pelo personagem seguiu até os dias atuais. Na cultura popular japonesa (J-Pop), o sennin pode ser visto em filmes, mangás, animes e até em games. Sua aparição mais famosa – para os ocidentais – foi na série de mangá/anime Naruto, na qual figura como o personagem Jiraiya, que representa a varição do sennin conhecido por ‘Gama-no-sennin’.
Devido a crença de que todos os sennins são imortais, bem como adeptos da magia, uma grande variedade de sennins foi surgindo ao longo dos séculos, versões criadas tanto pelos artistas japoneses antigos (escritores, poetas, ilustradores, etc) como pelos imaginário popular.
Existem várias lendas envolvendo os sennins místicos, todas de acordo com cada variação de sennin e versões variadas por regiões no Japão.
Principais variações de Sennin na cultura japonesa
• Chokoro-no-sennin
Retratado libertando seu cavalo mágico da abóbora gigante.
• Roko-no-sennin
Essa versão traz um sennin equilibrando-se numa tartaruga voadora. Diz-se que a imagem do Roko-no-sennin representa vida longa e traz boa sorte em várias áreas. Essa simbologia é porque, na cultura japonesa, a tartaruga significa longevidade por viver muito, além de simbolizar resistência e força (por conta da dureza do casco) e paciência (porque chega ao seu destino mesmo sendo lenta). Mediante isso, o Roko-no-sennin é o sennin mais resistente, mais resiliente e mais paciente de todos.
• Kume-no-sennin
comumente retratado ao despencar de sua carruagem de nuvens porque, contrariando seu voto sagrado, apaixonou-se pela imagem de uma linda jovem que viu refletida nas águas de um regato.
• Gama-no-sennin
Sempre com seu sapo mágico em diversas situações. Contam que Gama-no-sennin é o mais forte de todos, possuindo não somente o poder místico, mas também muita força e conhecimento de estratégias de guerra. Por vezes, eles é retratado ao lado de mulheres e/ou bebendo. Essa versão foi bem representada em um periódico em quadrinhos “erótico” que circulou no início do século XIX, onde a figura central era um Gama-sennin boêmio, que gostava de beber e viver cercado por mulheres, também conhecido sob a alcunha de Jiraiya.
Por Maria Rosa (artigo criado originalmente em 2012)
Principais fontes de pesquisa
• Livro Myths and Legends of Japan
• Livro História da cultura japonesa
• Jornal The Asahi Shimbun
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