Japão volta a atrair brasileiros diante de crise no Brasil

A crise econômica no Brasil e a crescente oferta de empregos no Japão têm encorajado muitos brasileiros a se aventurar no mercado de trabalho japonês.
Setor de imigracao no aeroporto de Narita Foto Aflo images 900x600 03 04 2016
Foto: Aflo images

A crise econômica brasileira e as amplas medidas do governo do primeiro ministro japonês, Shinzo Abe, para reaquecer a atividade no mercado de trabalho têm encorajado um grande número de brasileiros a deixar seu país natal para buscar melhores oportunidades de emprego no Japão.

O Consulado do Japão no Brasil aponta para um grande crescimento na procura por vistos de trabalho em 2015, com procura ainda maior em 2016.

O movimento, no entanto, é o inverso do verificado nos anos anteriores. A crise global de 2008 e 2009, que praticamente estagnou a economia japonesa e afetou bruscamente o mercado de trabalho no país, bem como o terremoto e o tsunami de 2011, que provocou uma crise nuclear de grandes proporções, influenciaram no retorno de muitos brasileiros ao país natal.

Essa realidade pode ser conferida em dados compráveis dos governos de Japão e Brasil. De acordo com os dados do Itamaraty, em 2013, havia cerca de 180 mil brasileiros vivendo no Japão. O número representa quase metade do registrado em 2008, quando a comunidade brasileira no país asiático totalizou 312 mil pessoas.

Em seis anos, mais de 150 mil brasileiros retornaram ao Brasil. Até 2014, muitos deles já haviam entrado novamente no Japão, mas o número de saídas ainda superava o de chegadas. Em média, a comunidade brasileira diminuía em cerca de 2 mil pessoas por ano, com picos entre 2009 e 2011.

Publicado em 2015, o último relatório do Ministério da Justiça do Japão mostra que cerca de 178 mil brasileiros viviam em condições legais no Japão até outubro de 2014. O número representa um crescimento de 2.625 brasileiros em relação ao ano anterior e difere dos dados do Itamaraty.

De acordo com o relatório do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Social do Japão, e que foi publicado em fevereiro deste ano, os brasileiros representam 10,6% dos mais de 907 mil estrangeiros trabalhando no Japão até outubro de 2015, para um total de 96.672, o que representa alta de 2,7% ou um aumento de 2.501 brasileiros em relação aos números referentes a outubro de 2014.

Acredita-se que o gradual retorno dos brasileiros ao Japão é por conta da forte crise econômica que o Brasil atravessa, ampliando ainda pelas medidas que o governo japonês tem lançado para impulsionar o mercado de trabalho no país e assim reavivar a economia.

A maior concentração de trabalhadores brasileiros no Japão está na província de Aichi. Sozinha, ela abriga um total de 27 mil decasséguis do Brasil em seu mercado de trabalho. O número faz dos brasileiros o maior grupo de trabalhadores estrangeiros nessa província, que ainda tem 24 mil chineses e 15 mil filipinos, ocupando o segundo e terceiro lugar, respectivamente.

O mercado de trabalho japonês é o maior empregador de mão de obra estrangeira do mundo, isso porque havia um total de 907.896 mil pessoas de outras nações trabalhando no país até outubro de 2015, alta de 15,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com o Ministério do Trabalho japonês.

Os resultados obtidos podem ser conferidos nos últimos resultados do índice de desemprego no Japão, que caiu 3,3% em fevereiro na comparação anual, enquanto o número de pessoas empregadas aumentou pelo 14º mês seguido.

O que mais chama a atenção, no entanto, é o índice de relação oferta de empregos e candidatos, que situou-se em 1,28 em fevereiro, ou seja, havia no país 128 vagas de empregos disponíveis para cada 100 pessoas em busca de trabalho no segundo mês deste ano. O número representa o nível mais alto já registrado no Japão desde dezembro de 1991, segundo o Ministério do Trabalho do país.

Contudo, a grande oferta de empregos não significa que há facilidade para os brasileiros no país, segundo Adriano Okamoto Grohmann, um decasségui brasileiro que trabalha em uma fábrica e é membro da Nagoya Fureai Union, entidade que luta por direitos de trabalhadores.

Para ele, nestes mais de 25 anos de movimento decasségui, a única área em que quase não houve evolução foi a trabalhista. Ele diz que os órgãos japoneses, que deveriam fiscalizar e defender o trabalhador, fazem vista grossa a uma série de abusos por parte dos empregadores japoneses contra os decasségis.

“Quando defendemos na Justiça algum caso, percebemos que eles fazem de tudo para não reconhecer que o estrangeiro está certo”, critica.

Entre os principais problemas trabalhistas, ele cita os contratos de curta duração, a jornada de trabalho abusiva, o não pagamento das férias e a demissão de grávidas.

“Realmente, sobram empregos no Japão, mas os abusos continuam, e ninguém protege o trabalhador estrangeiro”, afirmou Adriano, que resolveu se naturalizar japonês para tentar garantir seus direitos.

A maioria dos brasileiros que estão partindo para o Japão é reincidente, que já esteve no país por algum tempo e retornou ao Brasil por frustração com a crise econômica, que instaurou a partir de 2008, ou por temor de contaminação com a radiação emanada pela usina atômica de Fukushima após o desastre nuclear em março de 2011.

No geral, os brasileiros chegam ao Japão com a esperança de que ainda voltarão a viver no Brasil. A ideia é trabalhar por um tempo que permita juntar dinheiro suficiente para comprar uma casa e/ou abrir um negócio no Brasil.

Esse sonho, na maioria das vezes, não é realizado e muitos acabam permanecendo no país por um tempo muito maior do que o planejado em vista de melhores ganhos, ou então acabam retornando mais cedo por não conseguir se adaptar a extensiva jornada de trabalho no país, bem como os abusos das empresas sobre os trabalhadores estrangeiros, sendo esse último o maior motivo de reclamação por parte dos decasséguis brasileiros no Japão.

Fontes: Agência Kyodo | NHK News | BBC News.

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