Trabalhadores no Japão trocam trem por bicicleta para evitar coronavírus

Lojas de vendas e empresas de aluguel de bicicleta em Tóquio têm visto os negócios crescerem significativamente por causa do Covid-19.
Pessoas usam bicicleta como principal meio de transporte para o trabalho no Japão | Foto: Yuki Miyatake
Ciclistas em Shibuya | ©Yuki Miyatake

O Japão tem visto um número crescente de trabalhadores usando bicicleta no lugar do tradicional trem, uma iniciativa que visa evitar ambientes fechados e, consequentemente, a propagação do novo coronavírus no país.

Apesar do aumento no uso de bicicletas, o que é algo comum no Japão o seu uso como meio de transportes, muitas pessoas não têm essa opção e enfrentam trens e ônibus lotados com uma classificação alta nos “três Cs” que o Governo Metropolitano de Tóquio recomendou que todos evitassem espaços confinados, lugares lotados e contato próximo.

Mediante isso, um grande número de pessoas está preferindo o transporte de duas rodas como meio de locomoção “seguro” para trabalhar.

Ciclistas em Tóquio Foto Oceans Tokyo
Ciclistas em Tóquio | Foto Oceans Tokyo

No final de abril, cerca de três semanas após a declaração do estado de emergência ter sido decretada em sete prefeituras, incluindo Tóquio, Osaka e Kanagawa, houve um aumento significativo no número de ciclistas em Naka, distrito comercial de Yokohama.

Uma mulher de 54 anos, funcionária em uma empresa local, disse ao Mainichi Shimbun quando estava saindo de um estacionamento de bicicletas: “Normalmente eu pego o trem, mas tenho usado bicicleta há duas semanas porque tenho medo do coronavírus.”

De acordo com uma grande loja de venda de bicicletas da cidade, metade de seus clientes que compraram bicicletas modelos urban e cross-country, modelos apropriados para andar na cidade, disseram que estão preocupados com o vírus, avaliando que usar bicicleta como principal meio de locomoção ajudará reduzir a contaminação.

Aluguel de bicicleta

A tendência também está em evidência entre as iniciativas de compartilhamento de bicicletas, que se expandiram em todo o país. Esse sistema tem como base o aluguel de bicicletas –um método semelhante ao aluguel de carros–, no qual o usuário pode alugar a bicicleta por um tempo determinado, que pode ser diário, semanal e até mensal.

De acordo com a Docomo Bike Share, com sede em Tóquio e que possui cerca de 750.000 usuários registrados, o número de novos membros diários cresceu 20% em abril na comparação com março.

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Bicicletas de aluguel da Docomo Bike Share em Tóquio | Foto: Divulgação

O assessor de imprensa da empresa explicou: “Acreditamos que o aumento de usuários é influenciado pela disseminação do novo coronavírus. Parece também que o uso de bicicleta não se limita ao deslocamento para o trabalho, visto que muitas pessoas têm usando bicicletas para entregas”.

O delivery cresceu 40% nas duas semanas após o decreto do estado de emergência na capital japonesa, segundo dados divulgados pelo governo local na semana passada.

O centro comercial de Tóquio parece estar passando por uma mudança semelhante no meio de transporte. Segundo o funcionário de uma empresa de TI, de 40 anos e residente em Ota, na capital japonesa, começou a viajar de bicicleta recentemente porque a política de privacidade de dados de sua empresa inibe o trabalho remoto.

Ele estava pegando o trem para ir ao escritório no distrito de Roppongi, mas confidenciou: “Mesmo quando o decreto do estado de emergência foi decretado, o número de pessoas nos trens não caiu o suficiente para eliminar os três Cs, então eu me preocupei em ser infectado pelo Covid-19”.

A empresa que ele escolheu possui centrais de bicicleta perto de sua casa e local de trabalho. Segundo o usuário, há ainda a opção de bicicletas elétricas, o que ajuda no trajeto para lugares um pouco mais distantes.

Ele primeiro se desafiou ir trabalhar de bicicleta na manhã de 18 de abril. Mas acabou se perdendo e, mesmo assim, conseguiu chegar ao trabalho em mais ou menos uma hora. Após a confusão pela manhã, ele ficou um pouco mais acostumado com o caminho para casa e reduziu o tempo para 45 minutos. Seu trajeto de trem é de 50 minutos em cada sentido.

“Geralmente, tento andar na estrada, por isso não há muitos pontos em que fico perto dos pedestres. No que diz respeito às considerações sobre o coronavírus, posso andar enquanto me sinto seguro”, disse ele, acrescentando que tem planos de continuar indo e voltando do trabalho usando bicicleta mesmo após o declínio na curva da pandemia.

Autorização para uso de bicicleta por funcionários 

Algumas empresas não autorizam seus funcionários a pedalar nas principais cidades devido ao alto volume de tráfego, o que pode causar acidentes e, consequentemente, o trabalhador sofrer ferimentos. Contudo, algumas empresas estão começando a alterar suas políticas em resposta ao coronavírus.

A Takara Belmont, fabricante e vendedora de artigos de beleza e higiênico no distrito de Chuo, em Osaka, começou em 17 de abril a permitir que seus funcionários usem bicicletas para trabalhar. A mudança ocorreu por conta dos apelos dos próprios funcionários.

Um gerente da empresa disse ao Mainichi Shimbun: “Como resultado de deliberações internas, foi decidido permitir que os funcionários andassem de bicicleta desde que cumprissem certas condições, incluindo registrar as bicicletas, bem como contratar um seguro”.

Profissionais da área de saúde afirmam que um nível adequado de exercício é essencial para otimizar o sistema imunológico.

A Associação de Promoção Esportiva de Ciclismo do Japão aconselhou: “Acreditamos que absorver a luz do sol e respirar ar fresco enquanto pedala é essencial para manter a saúde. Além disso, andar de bicicleta é uma maneira de locomoção solitária e, portanto, ótima opção para evitar contato próximo com outras pessoas”. Embora a associação apoie o ciclismo ao ar livre, também adverte as pessoas para “andar sozinhas o máximo possível” e “manter distância de outros ciclistas”, entre outros pontos.

Segurança

Mas o que deve ser levado em consideração ao começar a andar de bicicleta? De acordo com Jun Utsumi, 53 anos, chefe do Grupo de Estudos sobre Promoção do Uso de Bicicletas, ter um plano de seguro é fundamental.

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Bicicleta com alarme e seguro em Hyogo | Foto Sankei

Ele explicou que “antes de tudo, o ciclista deve usar capacete. Muitas pessoas que morrem em acidentes envolvendo bicicleta perdem a vida por causa de ferimentos na cabeça. Ele disse ainda que “é importante ter um seguro, apenas por precaução”.

No entanto, autoridades municipais, incluindo o governo metropolitano de Tóquio, estão exigindo legalmente que os ciclistas façam um seguro. Obviamente, dada a situação da pandemia, também é muito importante que os ciclistas usem máscaras.

Utsumi disse que “qualquer um pode estar infectado, e a respiração fica mais ofegante quando uma pessoa está pedalando, o que pode liberar gotículas de saliva a uma distância maior que a expirada por um pedestre andando, o que se faz obrigatoriamente que ciclistas usem máscaras”.

Contudo, ele ponderou que “pode ser difícil conseguir uma máscara devido à falta de estoque, mas é possível enrolar uma bandana para proteger a boca e nariz, isso faz uma grande diferença para a segurança dos pedestres”, concluiu.

Mundo-Nipo (MN)
Fonte: Mainichi.

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