Do Mundo-Nipo com Agências
O dólar fechou em alta pela terceira sessão consecutiva nesta quarta-feira (4), e ampliou sua máxima em mais de 10 anos após bater R$ 3 na máxima do dia, com os investidores correndo para a segurança da moeda americana diante da escalada dos temores fiscais após o presidente do Senado rejeitar Medida Provisória que trata de desonerações tributárias, dificultando ainda mais o ajuste das contas públicas brasileiras. As incertezas sobre o programa de intervenções do Banco Central também contribuíram para o fortalecimento do dólar sobre o real.
A moeda norte-americana encerrou o dia com valorização de 1,80%, cotada a R$ 2,9807 na venda, após atingir R$ 3,0010 na máxima da sessão. É o maior valor de fechamento desde 19 de agosto de 2004, quando chegou a R$ 2,987.
Segundo dados da BM&F, o movimento financeiro foi alto, em torno de US$ 2,3 bilhões, contra cerca de US$ 1,4 bilhão na terça-feira
Nesta sessão, a alta foi influenciada pela notícia, divulgada na noite de terça-feira, de que o presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), citado na “Operação Lava Jato”, rejeitou a medida provisória 669, que aumenta os tributos da folha de pagamento para vários setores da economia.
A medida faz parte do ajuste fiscal proposto pela equipe econômica para equilibrar as contas do governo. Sua rejeição amplia as dificuldades que a presidente Dilma Rousseff tem encontrado para obter apoio no Congresso para as medidas de ajuste, que a sua equipe econômica considera essenciais para equilibrar as finanças do governo e recuperar a capacidade do país de crescer.
Analistas veem essa questão polícia interferindo bastante na percepção dos investidores em relação à capacidade do governo de levar adiante o ajuste fiscal necessário para manter o grau de investimento.
Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, a forte valorização do dólar em relação ao real ocorre da percepção do mercado de que o governo está com uma base frágil para levar adiante o ajuste fiscal necessário. “A perspectiva é que o cenário econômico se deteriore ainda mais ao longo do primeiro semestre, o que deve tornar mais difícil a implementação de novas medidas de austeridade fiscal necessárias para manter o grau de investimentos”, ressalta Rostagno.
A perspectiva de melhora da política fiscal vinha sendo uma luz no fim do túnel em meio ao cenário de contração econômica e inflação acima de 7% neste ano. À medida que se torna mais difícil para o governo cortar seus gastos, a pressão cambial também se intensifica.
O banco BNP Paribas ressaltou em relatório nesta quarta-feira que o custo de seguro contra um calote brasileiro já condiz com uma eventual perda do grau de investimento do país.
Além das dificuldades do governo no Congresso, o dólar sobe com a perspectiva de redução das intervenções do Banco Central no mercado de câmbio. Desde segunda-feira, o BC tem feito leilões com um volume reduzido de hedge (proteção) cambial do que o habitual, o que tem levado analistas acreditarem que serão renovados apenas 80% do total de US$
Outro fator que tem contribuído para aumentar a pressão sobre o câmbio é a preocupação com redução da atuação do Banco Central no mercado de câmbio, após a autoridade monetária ter sinalizado que poderá não renovar integralmente o lote de US$ 9,964 bilhões de contratos de swap cambial que vence em abril. Desde segunda-feira, o BC tem feito leilões com um volume reduzido, o que tem levado analistas acreditarem que serão renovados apenas 80% do total do lote.
Com isso, cresce a ansiedade do mercado sobre o futuro do programa de intervenção do Banco Central no câmbio.
O atual programa de leilões diários de swap cambial está marcado para durar até pelo menos o fim deste mês, e a sinalização de que o BC pretende rolar apenas parcialmente os contratos que vencem em 1º de abril já injetou incerteza no mercado.
Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária do Banco Central decide a nova Selic, a taxa básica de juros. O resultado será conhecido no começo da noite.
Analistas consultados para o Boletim Focus esperam um aumento de 0,5 ponto percentual, fazendo com que a taxa passe dos atuais 12,25% para 12,75%.
Atuação do BC no mercado de câmbio
O BC manteve seu programa de intervenções no mercado de câmbio, mas agora com metade da oferta. Foram vendidos 2.000 contratos de swap cambial tradicional (equivalentes à venda futura de dólares): 100 com vencimento em 1º de dezembro deste ano, e os outros 1.900 para 1º de fevereiro do ano que vem.
O BC também realizou mais um leilão para rolar os contratos que vencem em 1º de abril. Foram vendidos 7.400: 4.800 com vencimento em 1º de abril de 2016, e os outros 2.600 para 1º de junho do ano que vem.
A operação movimentou o equivalente a US$ 358,6 milhões. Ao todo, a autoridade monetária já rolou o equivalente a US$ 1,077 bilhão, ou cerca de 11% do lote total, correspondente a US$ 9,964 bilhões.
(Com informações do jornal Folha de S.Paulo e Agência Reuters)
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