Casos confirmados de pessoas que morreram por excesso de trabalho totalizou 189 no Japão durante o ano fiscal encerrado em março deste ano, de acordo com dados divulgados esta semana pelo Ministério do Trabalho do país, sinalizando que o número segue alto e pode ser ainda maior que o oficial.
“O governo organiza conferências e fixa cartazes sobre o problema, mas é apenas propaganda. A questão real é reduzir as horas de trabalho e o governo não está fazendo o suficiente”, explicou Hiroshi Kawahito, secretário-geral do Conselho Nacional de Defesa de Vítimas de Karoshi, em entrevista concedida à agência de notícias ‘Reuters’.
Kawahito foi mais longe e levantou dúvidas sobre a veracidade dos dados divulgados pelo governo, salientando que “os números podem ser muito superiores aos oficiais”.
Morte por excesso de trabalho é denominado no Japão por Karoshi, um problema que atingiu seu auge entre as décadas de 70 e 80, que ficaram marcadas pelo boom econômico japonês. Segundo o jornal ‘El Mundo’, nesse período, estima-se que cerca de 10 mil pessoas morriam anualmente devido ao excesso de trabalho, embora não haja números oficiais relativos a este período.
Vários fatores contribuem para este problema. Primeiro, a legislação japonesa, que permite horas extraordinárias sem nenhum tipo de limite mediante a acordo entre o trabalhador e o empregador.
Por outro lado, a própria mentalidade (cultura) japonesa privilegia o trabalho. “A norma social no Japão estipula que os trabalhadores deem prioridade às suas responsabilidades laborais, acima da família ou das obrigações comunitárias”, disse à Reuters a especialista em saúde Rika Morioka.
A Watami Foodservice, uma cadeia de restaurantes, é a empresa onde casos de karoshi têm incidência oficialmente revelada. Pelo segundo ano consecutivo, a companhia foi a vencedora do “Prêmio para as Empresas Negras”, atribuído por um grupo de jornalistas, ativistas e professores universitários às piores empresas do país.
A cadeia de restaurantes reuniu 72% dos votos dos especialistas, que analisaram critérios como excesso de horas de trabalho, abusos de poder, salários baixos, hostilidade em relação aos sindicatos, a recusa em pagar horas extras ou a arbitrariedade em relação aos funcionários temporários.
O caso mais conhecido de morte por excesso na Watami ocorreu em 2008, quando a funcionária da cadeia de restaurante, Mina Mori, de 26 anos, se suicidou e a companhia nunca mais se livrou da fama.
Mina tinha trabalhado durante dois meses e fazia média de 140 horas extras por mês. A empresa se recusou a assumir culpa pelo caso até 2012, ano em que foi condenada a pagar uma indenização equivalente a 970 mil euros (cerca de 3,5 milhões de reais) à família da vítima, de acordo com o ‘El Mundo’.
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