Os gastos das famílias no Japão caíram em abril no ritmo mais rápido já registrado em quase duas décadas, com a pandemia do coronavírus estimulando o temor de maiores perdas de empregos e esfriando a confiança do consumidor no país, informou nesta sexta-feira a agência Reuters.
O número sombrio manterá os formuladores de políticas sob pressão para evitar um declínio ainda maior na economia japonesa, que deverá cair mais profundamente na recessão neste trimestre.
O Banco do Japão (BOJ, o banco central japonês), no entanto, deve manter em junho sua visão de que a terceira maior economia do mundo irá se recuperar no segundo semestre deste ano, disseram fontes à Reuters, aumentando a chance de renunciar à ousadas medidas de flexibilização monetária.
Divulgado nesta sexta-feira (6), o levantamento de estatística do Ministério dos Assuntos Internos do Japão mostra que os gastos das famílias caíram 11,1% em abril em relação ao ano anterior.
Segundo o ministério, o resultado em abril marca a sétima queda mensal consecutiva dos despesa dos lares desde outubro do ano passado, quando o governo aumentou a taxa do imposto sobre as vendas.
O forte recuo dos gastos domésticos em abril é atribuído, em parte, ao declínio nos gastos com transporte, telecomunicações e atividades de lazer. Essa é a maior queda desde 2001, quando dados comparáveis começaram a ser disponibilizados.
Ainda de acordo com a Reuters, o resultado, no entanto, é menor que a previsão mediana de economistas, que previam queda de 15,4% para o quarto mês do ano.
Contudo, muitos analistas esperam que o consumo tenha atingido o nível máximo de descenso em abril ou maio, com as empresas agora reabrindo após o levantamento do estado de emergência em todo o país no mês passado. Mas qualquer recuperação será frágil, pois as empresas e os lares continuam cautelosos com os gastos, dizem eles.
“A menos que sejam desenvolvidas vacinas eficazes, não se pode esperar uma forte recuperação no futuro próximo”, disse Takeshi Minami, economista-chefe do Instituto de Pesquisa Norinchukin.
Prós e contras dos gastos no isolamento social
Os gastos com restaurantes, passagens aéreas, hotéis e parques de diversões diminuíram cerca de 90%, uma vez que a população tiveram que cumprir isolamento social durante o estado de emergência.
Por outro lado, o confinamento nos lares potencializou os gastos com massas em 70%, macarrão instantâneo em 43% e artigos de higiene e proteção, como máscaras, que saltaram 124%.
No geral, um aumento esperado nas perdas de empregos e o impacto no sentimento familiar em relação a pandemia pesará no consumo.
“Muitas pessoas estão desempregadas e não conseguiram procurar emprego durante o isolamento em abril. Os salários provavelmente cairão também, o que pesará no consumo”, disse Yoshiki Shinke, economista-chefe do Instituto de Pesquisa em Vida Dai-ichi.
Indicador Coincidente
Dados separados mostraram que o índice coincidente, um indicador que mede o estado atual da economia, caiu em abril no ritmo mais rápido desde 1985, ressaltando o enorme golpe no crescimento da pandemia.
O primeiro-ministro Shinzo Abe anunciou um estado de emergência em abril, solicitando aos cidadãos a ficarem em casa e as empresas fecharem suas portas, o que obscureceu ainda mais uma economia que já está em uma profunda recessão.
Com o levantamento do estado de emergência em todo o país, analistas esperam que a economia sofra uma contração anualizada de 22% no trimestre atual e se recupere modestamente somente no segundo semestre deste ano.
Mundo-Nipo (MN)
Fontes: Statistics Bureau of Japan | Agência Reuters.
*A tabela com os dados completos dos gastos das famílias pode ser conferida no site do Ministério dos Assuntos Internos e Comunicações do Japão (em inglês).
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