O Plenário aprovou ontem (6) a indicação do diplomata Eduardo Paes Saboia para exercer o cargo de embaixador do Brasil no Japão. A nomeação (MSF 32/2018), que recebeu 41 votos favoráveis, 8 contrários e uma abstenção, foi marcada por bate-boca no Senado em vista que Saboia respondeu à inquérito administrativo por ajudar o senador boliviano Roger Pinto Molina, acusado de diversos crimes na Bolívia, a fugir para o Brasil.
Eduardo Paes Saboia é carioca, graduado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB). Ingressou na carreira diplomática em 1989. Entre as funções desempenhadas destacam-se a de assessor do gabinete do ministro de Relações Exteriores (2003/2007), assessor diplomático da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado (2015/2017) e, desde 2017, é chefe de gabinete do ministro de Relações Exteriores.
Em 2013, Saboia ajudou o senador boliviano Roger Pinto Molina a fugir da Bolívia para o Brasil. Na época, ele substituía o embaixador Marcelo Biato, que estava de férias. Molina era acusado de diversos crimes na Bolívia e alegava ser perseguido politicamente pelo governo de Evo Morales. Com asilo político do governo brasileiro, ele foi trazido para o Brasil em um carro oficial da embaixada até Corumbá, em Mato Grosso do Sul, sem autorização.
O incidente foi lembrado pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que criticou a ação de Saboia. Ela afirmou que, à época, ele justificou o ato dizendo que havia risco à vida do senador boliviano, mas isso nunca havia sido assunto de uma referência ou comunicado oficial por parte do diplomata.
Por esse ato ele respondeu ao inquérito administrativo e, em 2015, foi condenado a um afastamento temporário. Eu lamento que estejamos votando isso no dia de hoje, porque, repito, alguém que nunca foi embaixador em lugar nenhum já é indicado para o Japão. Não existe meritocracia, afirmou.
O senador Humberto Costa (PT-PE) também criticou a indicação. Em sua avaliação, o diplomata não estaria capacitado “nem do ponto de vista profissional, nem do ponto de vista da experiência e nem do ponto de vista ético” para representar o Brasil no país dono da terceira maior economia do planeta.
Ex-ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP) foi um dos senadores que saíram em defesa de Saboia. Ele afirmou que uma de suas primeiras medidas no ministério foi a promoção do diplomata.
Serra contou que por duas vezes em sua vida precisou pedir asilo político: uma no Chile e outra na Bolívia. E, nas duas vezes, diplomatas fizeram transgressões protocolares para protegê-lo.
Foram gestos de coragem e não de desobediência. Eu entendo um diplomata tomar uma atitude como essa para salvar a vida de uma pessoa, elogiou.
O senador Sérgio Petecão (PSD-AC), com quem o senador boliviano morou por um tempo, também defendeu a atitude de Saboia.
Eu queria só tentar corrigir essa injustiça. O senador Roger Pinto Molina morou dois anos na minha casa. Eu acompanhei esse senador, que foi perseguido pelo governo Evo Morales, e eu não sei qual o título que nós poderíamos dar ao Eduardo Saboia, mas esse homem merecia um título, declarou Sérgio Petecão, afirmando ainda que Saboia teve a coragem de salvar a vida desse senador.
Educação para brasileiros
Durante a sabatina realizada na manhã desta quarta-feira na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), Saboia foi questionado sobre a difícil condição vivida por milhares de crianças e jovens brasileiros no Japão, que têm apresentado dificuldades de adaptação ao modelo educacional japonês.
Saboia confirmou que essa é uma das principais demandas com que a embaixada e os consulados brasileiros precisam lidar. Mas vê como positivo o fato de a comunidade brasileira naquele país ser unida. Ele disse que escolas particulares têm sido abertas para atender os estudantes brasileiros. Por fim, garantiu que a adaptabilidade desses jovens ao modelo educacional será uma prioridade de sua gestão devido ao caráter humanitário do tema, que deverá contemplar tratativas com autoridades e educadores japoneses.
*Matéria da Agência Senado sugerida ao Mundo-Nipo.
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