Atualizado em 13/08/2018
A Universidade de Medicina de Tóquio alterava resultados de exames de admissão para prejudicar candidatas do sexo feminino há mais de 10 anos, confirmou um grupo de investigadores na terça-feira (07), uma semana após o escândalo discriminatório vir à tona, o que foi revelado pela imprensa japonesa.
De acordo com a investigação realizada por advogados contratos pela instituição, a Universidade de Medicina de Tóquio vem manipulando os resultados pelo menos desde 2006.
A investigação interna constatou que, neste ano, a universidade reduziu em 20% as pontuações na primeira fase de exames de todos os candidatos e, posteriormente, adicionou 20 pontos para todos os candidatos masculinos, com exceção daqueles que reprovaram na prova ao menos quatro vezes. Em um caso, um candidato chegou a receber até 49 pontos.
A instituição começou a alterar os resultados depois de um aumento no número de alunas. Na base da manipulação estaria a ideia de que os homens são mais adequados à profissão médica, porque as mulheres frequentemente param de trabalhar depois de se casarem e de terem filhos.
Segundo o relatório apresentado pelos investigadores, a manipulação revela um sexismo profundo e faz parte de uma cultura enraizada na falta de justiça e transparência. Um antigo diretor da instituição teria recebido ainda propina de alguns pais que desejam um tratamento preferencial para seus filhos.
Os investigadores não sabem quantas candidatas foram prejudicadas.
O escândalo foi descoberto durante uma investigação sobre a suposta pressão exercida por um alto funcionário do Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia para que a universidade admitisse o seu filho, em troca da obtenção de fundos para pesquisas. Tanto o funcionário quanto um antigo diretor da instituição são acusados de suborno.
Pedido de desculpas
A universidade pediu desculpas e disse que pretende readmitir todos que teriam passado nos exames, mas foram prejudicados pela manipulação, embora não tenha explicado como fará isso.
“Pedimos sinceras desculpas pelo grave erro envolvendo os exames de admissão e que causou preocupação e problemas para muitas pessoas e traiu a confiança do público”, disse o atual diretor-geral da universidade, Tetsuo Yukioka. Ele negou ter tido conhecimento da manipulação.
Yukioka negou ainda que as mulheres aceitas na instituição sejam tratadas de maneira discriminatória, mas admitiu que muitas das estudantes não têm permissão para se tornarem cirurgiãs.
Estudos mostram que a taxa de mulheres que entram numa faculdade de medicina no país tem se mantido constante em 30% por mais de 20 anos, levando especialistas a suspeitar que outras universidades também discriminam mulheres.
Depois da revelação do escândalo, o ministro japonês de Educação, Yoshimasa Hayashi, anunciou que pretende investigar os exames de admissão de todas as faculdades de medicina do país.
O escândalo provocou protestos e revolta nas redes sociais. Mulheres relataram casos de discriminação com a hashtag “não há problema em ter raiva do sexismo”.
Cerca de metade das mulheres japonesas possuem um diploma universitário – um dos níveis mais altos do mundo -, porém, elas enfrentam discriminação no mercado de trabalho. As mulheres são consideradas responsáveis pelo lar e pelo cuidado dos idosos, enquanto homens devem cumprir longas jornadas de trabalho.
No Japão, aproximadamente metade das mulheres deixa definitivamente os seus empregos depois de se tornarem mães, devido a fatores socioculturais e dificuldades em conciliar vida a familiar e profissional.
Com informações da CN/RTR/AP/Lusa.
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