Igreja em Nagasaki guarda a história dos “cristãos ocultos” no Japão

Patrimônio da Humanidade, a igreja Oura é o símbolo do renascimento do cristianismo no Japão.
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Atualizado em 12/11/2018


A Igreja Oura, em Nagasaki, se tornou Patrimônio da Humanidade em 2018 e é o símbolo do renascimento do cristianismo no Japão. O local é parada obrigatória para quem quer conhecer a história dos “cristãos ocultos”, que declararam sua fé nesse lugar e colocaram fim a mais de 250 anos de clandestinidade.

Considerada uma das mais antigas do Japão, a Oura faz parte dos 12 locais dos cristãos escondidos reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em Nagasaki e na região de Amakusa.

A igreja foi construída em 1864 pelo missionário francês Bernard-Thadée Petitjean, pouco depois de o porto de Nagasaki ser reaberto junto com as fronteiras do Japão mais de dois séculos de isolamento depois.

Com o veto que tinha sido imposto ao cristianismo no país em 1614 e a presunção de que a comunidade cristã japonesa tinha desaparecido após a brutal perseguição sofrida no século 17, o templo se voltou aos fiéis estrangeiros que moravam na cidade.

Menos de um mês depois da inauguração, algo surpreendente aconteceu. Em 17 de março de 1865, um grupo de camponeses de Urakami foi à igreja e disse que sempre fingiu professar a fé local e que, na verdade, eles eram católicos.

Esse acontecimento, batizado de “A descoberta dos cristãos escondidos”, foi imortalizada em um mural que hoje decora o jardim da igreja.

A revelação, liderada por Isabelina Yuri Sugimoto, fez com que as autoridades japonesas retomassem a repressão contra os católicos até que críticas internacionais conseguiram a suspensão da proibição em 1873.

Com a reintrodução do cristianismo no Japão, alguns Kakure Kirishitan – descendentes dos católicos que se esconderam durante a Rebelião de Shimabara, em 1637 e 1638 – voltaram a se reunir na igreja, apesar de ainda hoje os cristãos serem menos de 1% da população.

Interior da Igreja Oura | Foto: oratio.jp
Interior da Igreja Oura | Foto: oratio.jp

Séculos de ocultação e isolamento, no entanto, transformaram a religião em um culto totalmente diferente. Prova disso são algumas das relíquias expostas no Museu e Monumento dos Vinte e Seis Mártires, que fica ao lado da igreja.

Quando os japoneses ficaram sem padre, torturados por se negarem a renunciar a própria fé e assassinados, os que resistiram criaram as próprias autoridades e esconderam as suas imagens de devoção.

O museu reúne, por exemplo, várias imagens de Nossa Senhora retratada como Kannon (Maria Kannon), a representação budista da misericórdia, com as quais os fiéis tentavam disfarçar e evitar serem descobertos, e os cajados que os líderes religiosos deviam usar nas cerimônias.

Além disso, vários crucifixos, cujo significado era muitas vezes desconhecido para estes devotos, estão sendo encontrados em antigos vilarejos e acredita-se que possam existir mais de 200 deles espalhados pela região.

“As pessoas que mantiveram a fé comemoraram quando a proibição ao cristianismo foi retirada e agora estão novamente felizes com a designação desses espaços como patrimônio. Isso significa dar valor ao que elas guardaram”, disse à Agência Efe Minako Uchijima, pesquisadora do museu.

As salas também comprovam a perseguição dos católicos feita pelos xogums, militares do Japão feudal que atuaram no país entre 1603 e 1868.

Toda Nagasaki foi obrigada a se submeter ao “Fumi-e”, uma prática criada para identificar quem era e quem não era cristão com o ato de pisar em uma imagem de Jesus ou de Nossa Senhora. Muitos fiéis aceitaram fazer isso para não serem mortos, mas acredita-se que cerca de 5.500 cristãos tenham morrido naquela época.

Um dos episódios mais marcantes foi a crucificação, em fevereiro de 1597, de 26 mártires – 9 europeus e 16 japoneses – em uma colina de Nagasaki. No altar da Igreja Oura está um lenço que lembra esse caso.

A intenção do padre Petitjean era construir o templo nesse lugar, mas as autoridades não permitiram. Ele então escolheu a localização atual e orientou a igreja virada para a colina.

Da Agência EFE

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