A falsificação de resultados técnicos de produtos da Kobe Steel, terceiro maior fabricante de aço no Japão, é apenas o mais recente em uma série de escândalos corporativos envolvendo adulteração de dados e outros métodos de fraude que mancharam o selo de qualidade da indústria japonesa, destacou a agência ‘Reuters’ em matéria publicada nesta terça-feira (17).
Segundo a matéria, a série de escândalos abalou o então sistema japonês “keiretsu” de laços estreitos e fidedignos entre fabricantes e fornecedores, que se tornou sinônimo para a indústria de qualidade e confiabilidade, o chamado selo “Made in Japan”, outrora imponente e agora duvidoso.
No dia 10 deste mês, a siderúrgica japonesa revelou que durante anos falsificou informações sobre a qualidade dos seus produtos para corresponder às exigências dos seus clientes, entre eles fabricantes de automóveis, trens, aeronaves, entre outros.
Pode ser um sinal de que o empenho do governo em melhorar a governança corporativa está trazendo à tona mais irregularidades.
Mas a causa raiz mais provável é que os fabricantes japoneses estão falhando em padrões de conformidade modernos à medida que lidam com um mercado doméstico em retração e um aumento da concorrência global.
Como a mudança de foco para mecanismos de mercado em vez de cômodos acordos baseados em relacionamento, os fabricantes japoneses tiveram que competir em preço e expandir sua base de clientes.
“A crescente concorrência global forçou os fabricantes japoneses a reduzir os custos para serem mais eficientes, ao mesmo tempo que cumprem uma cota de produção que muitas vezes é difícil de alcançar”, disse Motokazu Endo, advogado do escritório de advocacia Tokyo Kasumigaseki.
O sistema “keiretsu” foi o suporte da indústria automotiva japonesa. À medida que o mercado se tornou mais competitivo, essas montadoras agora investem menos dinheiro em seus fornecedores e passam menos tempo verificando o que os fornecedores estão produzindo, disse Hitoshi Kaise, consultor da indústria automobilística e sócio da Roland Berger.
Além disso, a economia do Japão sofreu décadas de crescimento anêmico, atolada em deflação com a diminuição da população e com a crescente concorrência de seus vizinhos asiáticos.
Essas pressões potencialmente minaram a capacidade das empresas japonesas de competir, diz Hideaki Miyajima, professora da Universidade Waseda e especialista em governança corporativa.
A lista de falsificações na indústria japonesa é longa e está crescendo.
A Nissan Motor teve que fazer o recall de todos os novos carros que vendeu no Japão nos últimos três anos, depois de falsificado verificações de segurança.
A Suzuki Motor e a Mitsubishi Motors enfrentaram escândalos sobre falsificações nos testes de economia de combustível em seus veículos, e houve a falha da agora falida fabricante de airbags Takata, Toyo Tire & Rubber e Asahi Kasei.
Ao longo dos últimos 15 anos, as regras de conformidade se tornaram mais rígidas, mas muitas empresas japonesas continuaram com práticas comuns do passado, disse Nobuo Gohara, advogado especializado em conformidade, que participou da auditoria da Olympus Corp após o escândalo contábil em 2011.
“E há muitos desses problemas dormentes no chão das fábricas”, disse ele.
O Japão corre o risco de “perder à medida que outras economias asiáticas, incluindo a China, aumentam progressivamente seus padrões de qualidade e confiabilidade”, disse o professor Thomas Clarke, especialista em governança corporativa da Universidade de Tecnologia de Sydney.
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