O presidente de uma companhia que administra escolas no Japão afirmou ao Parlamento Japonês que usou de sua influência com políticos japoneses, incluindo a primeira-dama do Japão, para conseguir comprar terrenos de governo locais a preços abaixo do valor de mercado, informou a imprensa japonesa.
De acordo com a emissora pública ‘NHK’, Yasunori Kagoike, presidente do grupo Moritomo Gakuen, foi chamado para se explicar sobre o escândalo da compra de terrenos estatais e propinas envolvendo a casta da política japonesa. O executivo testemunhou sob juramento perante um comitê da Câmara Alta na quinta-feira (23).
O escândalo surgiu após a descoberta de que Kagoike havia comprado um terreno de propriedade do governo da província de Osaka, no oeste do Japão, por um preço abaixo do valor de mercado. O terreno foi utilizado para a construção de uma escola primária – a obra ainda está em andamento.
Em seu testemunho ao Parlamento, Kagoike afirmou que recebeu uma doação de 1 milhão de ienes (US$ 9 mil) das mãos de Akie Abe, esposa do primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. Tanto o premiê como a primeira-dama negaram a alegação.
Segundo ele, Akie seria diretora honorária da planejada escola, mas ela renunciou ao cargo depois de o escândalo vir à tona.
Kagoike declarou ao comitê que “se lembra claramente de ter recebido o dinheiro da primeira-dama em setembro de 2015”, quando os dois se reuniram a portas fechadas no escritório de um jardim da infância também administrado pelo grupo Moritomo.
Ainda de acordo com a ‘NHK’, para complicar ainda mais a situação do premiê japonês, Kagoike afirmou que Akie teria dito que “a doação era de Shinzo Abe”. Ele disse também que “se lembrava muito bem da doação”, já que considerou o ato como uma “grande honra para o grupo Moritomo”.
Contudo, Abe nega qualquer conexão com a venda de terrenos e diz que “deixará o cargo de primeiro-ministro do país caso for comprovado o contrário”, segundo informou nesta sexta-feira (24) a ‘CNN News’.
Mais tarde, Kagoike falou mais sobre o escândalo em uma entrevista coletiva com jornalistas, na qual aliviou o envolvimento de Abe com o esquema de venda de terrenos, contradizendo com seu depoimento no Parlamento.
“Não acho que haja influência direta do primeiro-ministro Abe”, disse Kagoike, acrescentando que a ajuda na aquisição do terreno ocorreu por intermédio de pessoas que trabalham para o governo, mais especificamente “burocratas do Ministério das Finanças”, disse ele sem nomear os envolvidos, de acordo com a ‘CNN’.
O grupo Moritomo havia planejado para o próximo mês a inauguração da escola do ensino fundamental.
Depois do depoimento de Kagoike na quinta-feira, o secretário-chefe do Gabinete Japonês e porta-voz do governo, Yoshihide Suga, declarou a jornalistas que “o premiê jamais fez doação alguma, nem por meio de terceiros, como seria o caso da primeira-dama, nem por meio de outras entidades”, de acordo com a agência ‘Kyodo’.
Contudo, o escândalo colocou em dúvida a reputação de Abe. O índice de aprovação de seu governo caiu 10 pontos percentuais desde o mês passado, para 56%, de acordo com uma pesquisa de opinião pública realizada no último final de semana pelo jornal The Yomiuri Shimbun.
Trata-se do maior declínio desde dezembro de 2012, quando Abe tomou posse do governo pela segunda vez.
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